Línguas, religiões e culturas no Médio Oriente

De Baripedia

Basado en un curso de Yilmaz Özcan.[1][2]

A região do Médio Oriente, berço de civilizações antigas e cruzamento de rotas comerciais históricas, caracteriza-se por uma notável diversidade linguística, religiosa e cultural. Esta diversidade é o fruto de uma história rica e complexa, moldada por inúmeros povos, impérios e movimentos.

Do ponto de vista linguístico, o Médio Oriente é uma manta de retalhos de línguas, com o árabe a predominar em países como o Egipto e a Arábia Saudita. O persa, ou farsi, é a base linguística do Irão, reflectindo a herança do Império Persa, enquanto o turco, a língua oficial da Turquia, testemunha a influência otomana. O hebraico, uma língua ancestral que sofreu uma ressurreição única com a criação do Estado de Israel em 1948, e o curdo, falado em regiões que vão do norte do Iraque ao sudeste da Turquia, completam a paisagem linguística. No plano religioso, predomina o Islão, com ramificações como o sunismo e o xiismo. Figuras históricas como o califa Omar, que reinou de 634 a 644 d.C., e Ali, genro do profeta Maomé, encarnam o início destas divisões. O cristianismo, que está presente desde as suas origens, viu comunidades como os coptas no Egipto perdurarem apesar das mudanças políticas e sociais. Em Israel, o judaísmo é central, ilustrado por figuras históricas como David Ben-Gurion, o principal fundador do Estado de Israel.

A cultura do Médio Oriente, profundamente influenciada por estas diversidades linguísticas e religiosas, é rica em expressões artísticas, musicais e culinárias. Por exemplo, a arte islâmica, com os seus complexos padrões geométricos, reflecte as proibições religiosas de representações figurativas. A música árabe clássica, transportada por ícones como Oum Kalthoum, influenciou a cultura regional muito para além das fronteiras linguísticas. Festividades como o Ramadão e o Nowruz persa são exemplos de como as tradições religiosas e culturais se entrelaçaram para formar práticas únicas.

Diversidade linguística no Médio Oriente

A diversidade linguística do Médio Oriente é uma das suas características mais distintivas, ilustrada pela presença de três grandes famílias linguísticas: Ural-Altaica, Indo-Europeia e Semítica.

Panorama linguístico do Médio Oriente

A família Ural-Altaica inclui as línguas faladas numa grande parte da Ásia e em certas regiões da Europa de Leste. No contexto do Médio Oriente, esta família é representada principalmente pelo turco, a língua oficial da Turquia, que testemunha a expansão dos povos turcos e a influência histórica do Império Otomano na região. Outras línguas, como o azeri, falado no Azerbaijão e por certas comunidades do Irão, também pertencem a esta família. A família indo-europeia, que é uma das maiores e mais diversificadas do mundo, inclui línguas como o persa, o curdo e o arménio. O persa, em particular, é de grande importância histórica e cultural, sendo a língua do antigo Império Persa e do Irão moderno. O curdo, falado pelo povo curdo espalhado pelo Iraque, Irão, Síria e Turquia, e o arménio, a língua da Arménia e da diáspora arménia, completam esta riqueza linguística. Por último, a família das línguas semíticas é crucial no contexto do Médio Oriente. O árabe, a língua do Corão e a língua franca de muitos países árabes, é a mais difundida desta família. O hebraico, uma língua antiga que conheceu um renascimento moderno com a criação do Estado de Israel, e outras línguas como o aramaico e o assírio, embora menos faladas, têm uma importância histórica e cultural significativa.

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Este mapa colorido mostra as línguas faladas no Médio Oriente e ilustra a densidade populacional das regiões onde essas línguas predominam. Distingue as línguas por família linguística e por concentração populacional nas regiões em causa.

A expansão e a influência da língua árabe

As áreas amarelas representam regiões densamente povoadas onde o árabe é predominante. Incluem-se aqui países como o Egipto, a Arábia Saudita, o Iémen, a Jordânia, o Líbano e outros. O árabe é a principal língua do grupo das línguas semíticas e é falado em toda a Península Arábica e não só. O mapa ilustra a predominância do árabe nas áreas de cor amarela, o que indica uma elevada densidade populacional nestas regiões. A língua árabe, pertencente ao grupo das línguas semíticas, é não só uma língua oficial, mas também parte integrante da identidade cultural e religiosa do Médio Oriente.

O árabe espalhou-se muito para além da Península Arábica, nomeadamente através das conquistas islâmicas a partir do século VII, tornando-se uma das línguas mais influentes da região. Atualmente, é falado em muitos países do Médio Oriente e do Norte de África. Em países como o Egipto, onde a civilização remonta a milhares de anos, o árabe suplantou línguas antigas como o egípcio antigo, tornando-se a língua da maioria da população. Na Arábia Saudita, berço do Islão e onde se situam as duas cidades sagradas de Meca e Medina, o árabe reveste-se de particular importância, tanto do ponto de vista religioso como cultural. Noutras regiões, como o Iémen e a Jordânia, o árabe é falado numa variedade de dialectos, o que reflecte a diversidade intrínseca da língua. O Líbano, conhecido pela sua diversidade cultural e religiosa, tem também um mosaico de dialectos árabes, influenciado por muitas outras línguas ao longo da sua história. Desta forma, o mapa confirma que o árabe não só serve como língua de comunicação quotidiana, mas também desempenha um papel essencial na preservação e transmissão da cultura e da história em todo o Médio Oriente.

O mosaico linguístico indo-europeu e semítico

As zonas verdes do mapa indicam a presença de línguas indo-europeias, que testemunham a diversidade etnolinguística e histórica do Médio Oriente. O persa, por exemplo, é a língua oficial do Irão e tem uma influência cultural e literária considerável. Trata-se de uma língua que remonta ao antigo Império Aqueménida, o que testemunha a profundidade histórica da região. O curdo, por seu lado, é falado em áreas geograficamente descontínuas, principalmente nas montanhas do Curdistão, que atravessam várias fronteiras nacionais modernas, incluindo a Turquia, o Iraque, o Irão e a Síria. O curdo é a língua materna da população curda, que manteve a sua língua e cultura apesar da pressão da assimilação e das mudanças políticas na região. O arménio, falado na Arménia e pela diáspora arménia, é outra importante língua indo-europeia que sobreviveu apesar das perturbações históricas, incluindo o genocídio arménio no início do século XX. O arménio tem o seu próprio alfabeto único, criado no século V, que é um elemento-chave da identidade nacional arménia. Estas "ilhas" de línguas indo-europeias não só representam a distribuição geográfica dos grupos étnicos, como também reflectem os complexos movimentos migratórios e as interacções históricas que moldaram o Médio Oriente. As línguas são vectores da cultura e da memória colectiva, e a sua distribuição oferece-nos um vislumbre das histórias de resiliência, adaptação e preservação cultural numa região marcada por uma grande dinâmica de mudança.

O mapa destaca as regiões onde predominam as línguas turcas, simbolizadas por diferentes tons de vermelho. Estas línguas pertencem à família linguística Ural-Altaica e são faladas por povos cuja história e cultura foram profundamente marcadas pela migração e pelos impérios turcos. O turco, a língua nacional da Turquia, é o representante mais notável desta família e é o resultado direto da herança do Império Otomano, que no seu apogeu se estendia por vastas áreas do Médio Oriente, do Sudeste da Europa e do Norte de África. O Império Otomano não só espalhou a sua língua, como também a sua cultura, administração e influência religiosa pelos seus territórios. O azeri, falado no Azerbaijão e por algumas comunidades no Irão, está estreitamente relacionado com o turco e representa outro ramo importante das línguas turcas na região. Estas comunidades partilham laços culturais e históricos com a Turquia e outros povos turcos.

Outras línguas turcas, embora menos representadas, são faladas em regiões adjacentes, incluindo partes da Rússia, da Ásia Central e do Cáucaso. Estas línguas, embora distintas, partilham características comuns devido às suas origens e desenvolvimento histórico semelhantes. A presença destas línguas turcas é testemunho do impacto dos movimentos de populações nómadas das estepes da Ásia Central, que atravessaram o Médio Oriente e deixaram uma marca linguística e cultural indelével na região. Estas línguas e os seus falantes continuam a desempenhar um papel importante na diversidade étnica e cultural do Médio Oriente moderno.

O mapa destaca as línguas caucasianas e outras línguas minoritárias, representadas em tons de castanho e cinzento, que revelam um aspeto frequentemente ignorado da diversidade linguística do Médio Oriente. Estas línguas são características de regiões que, embora menos densamente povoadas, são ricas em variedade linguística e cultural. O Cáucaso é particularmente notável pela sua complexidade linguística. Línguas como o georgiano, que tem o seu próprio sistema de escrita, o kartveliano, são endémicas desta região. A Geórgia, com a sua história e cultura distintas, é um exemplo notável de como as línguas podem encapsular a identidade de uma nação.

Para além do georgiano, existem outras línguas caucasianas que não são faladas em mais nenhum lugar do mundo, como o abecásio e o ossétio. Estas línguas, muitas vezes isoladas geográfica e historicamente, sobreviveram e desenvolveram-se de forma independente, dando origem a características linguísticas únicas. A sua sobrevivência testemunha a resistência cultural dos povos do Cáucaso face a séculos de mudanças políticas e sociais. As línguas minoritárias, por outro lado, podem incluir variedades linguísticas faladas por pequenas comunidades e reflectem frequentemente um rico património cultural e tradições distintas. Embora estas línguas sejam menos dominantes em termos de número de falantes, desempenham um papel crucial na preservação da diversidade cultural e do património imaterial da região. Assim, a distribuição das línguas caucasianas e minoritárias no mapa é um lembrete de que o Médio Oriente é uma região não só de conflito e comércio, mas também de profunda riqueza linguística e cultural, muitas vezes esquecida nas narrativas globais.

Este mapa não é apenas um retrato da diversidade linguística; sugere também histórias de colonização, comércio, conquista e cultura. A distribuição das línguas e dos povos no Médio Oriente foi influenciada por factores geográficos, impérios históricos, movimentos migratórios e mudanças políticas. As línguas, enquanto veículos da cultura, reflectem estas dinâmicas complexas e a sua compreensão é essencial para entender a riqueza da história e da cultura da região. As línguas representadas no mapa não são meros instrumentos de comunicação; elas incorporam a alma das civilizações que as falam. Cada língua é o reflexo de uma identidade cultural, transportando tradições, poesia, histórias e filosofias que foram tecidas ao longo dos séculos. A literatura persa, por exemplo, caracteriza-se pelas obras de poetas como Hafez e Rumi, que influenciaram não só a sua região natal, mas também o pensamento e a literatura mundiais.

As línguas turcas, com epopeias como Dede Korkut, transmitem os valores e as histórias dos povos nómadas das estepes, e as línguas caucasianas têm histórias orais que testemunham a sua resistência à conquista e ao império. Mesmo as línguas minoritárias, que podem ser faladas apenas por pequenas comunidades, são os repositórios de culturas únicas, oferecendo uma janela para modos de vida e sistemas de crenças que são frequentemente distintos dos das culturas dominantes. O mapa linguístico do Médio Oriente é, assim, um mosaico vivo, em que cada cor representa não só um grupo de falantes, mas também um capítulo da história humana. As migrações, as conquistas e o comércio moldaram esta região, mas foram as línguas e as culturas que sobreviveram e continuam a contar a história dos seus povos. São o elo entre o passado, o presente e o futuro, perpetuando o património e continuando a evoluir através das interacções contemporâneas.

Dialectos e línguas minoritárias: um património cultural vivo

A diversidade dialetal das línguas maioritárias do Médio Oriente é uma riqueza que é frequentemente subestimada. Tomemos como exemplo o turco; embora exista uma língua padrão ensinada nas escolas e utilizada nos meios de comunicação social e na política, coexistem muitos dialectos regionais que reflectem a história e a cultura de diferentes partes da Turquia. Estes dialectos podem variar consideravelmente do turco padrão em termos de pronúncia, vocabulário e mesmo de gramática. O árabe é talvez um dos exemplos mais marcantes desta diversidade dialetal. O árabe literário, ou árabe padrão moderno, é universalmente compreendido e utilizado na escrita e no discurso formal, mas na vida quotidiana as pessoas falam numa série de dialectos que podem ser tão diferentes uns dos outros que os falantes de regiões distantes têm por vezes dificuldade em se entender. Estes dialectos reflectem não só a região geográfica, mas também as influências históricas, como as dos otomanos, dos persas e dos franceses no Levante. O curdo também se divide em vários dialectos principais, como o curmandji, o sorani e o pehlewani, cada um com as suas próprias variantes regionais. As diferenças entre estes dialectos curdos são tão grandes que, por vezes, levaram à reivindicação de um estatuto linguístico distinto. Quanto ao arménio, embora exista uma língua arménia padrão, os arménios de todo o mundo também falam diferentes dialectos, muitas vezes influenciados pelas línguas das regiões para onde emigraram ou se dispersaram ao longo do tempo. Para além destas línguas principais, existem cerca de 20 línguas minoritárias no Médio Oriente, que reflectem uma história humana complexa de intercâmbio, migração e adaptação. Estas línguas podem ser faladas por pequenas comunidades, mas transportam consigo uma história e uma cultura que merecem ser reconhecidas e preservadas. A sua existência num contexto linguisticamente tão rico é mais uma prova de como as línguas evoluem e se adaptam aos contextos em que são faladas, muitas vezes em paralelo com as línguas dominantes da região.

Línguas e identidade nacional: entre a política e a cultura

Os movimentos populacionais e a religião têm sido poderosos vectores na difusão e evolução das línguas no Médio Oriente, tal como no resto do mundo. Historicamente, a migração tem desempenhado um papel crucial na dispersão das línguas. Por exemplo, as invasões árabes do século VII, impulsionadas pela expansão do Islão, espalharam a língua árabe pelo Médio Oriente e pelo Norte de África. Esta expansão não só difundiu a língua árabe, como também integrou e influenciou as línguas locais, dando origem a uma multiplicidade de dialectos árabes distintos. Do mesmo modo, a expansão dos impérios turcos, em particular do Império Otomano, alargou as línguas turcas e estabeleceu o turco otomano (uma forma de turco influenciada pelo persa e pelo árabe) como língua administrativa e literária em todo o Médio Oriente, nos Balcãs e no Norte de África. As religiões também facilitaram a adoção e a normalização das línguas. O árabe, enquanto língua do Corão, tornou-se um elo linguístico entre os muçulmanos de todo o mundo, alargando a sua utilização para além das fronteiras tradicionais de língua árabe. Do mesmo modo, os textos religiosos judaicos e cristãos ajudaram a preservar o hebraico e o aramaico, mesmo quando estas línguas já não eram faladas no quotidiano. As línguas do Médio Oriente não são estáticas; são o resultado de uma interação constante entre os povos, as suas crenças e as suas histórias. As línguas espalharam-se através do comércio, da conquista, da colonização e da conversão, moldando a complexa paisagem linguística que vemos atualmente.

A formação de Estados-nação no Médio Oriente moderno teve um impacto considerável nas práticas linguísticas. Ao estabelecerem uma ou mais línguas oficiais, os Estados procuraram frequentemente promover uma identidade nacional unificada e facilitar a comunicação e a administração dentro das suas fronteiras. Esta política linguística pode conduzir a um sentimento de nacionalismo exacerbado, em que a língua oficial se torna um símbolo de unidade nacional e um fator-chave da identidade colectiva. Por exemplo, a promoção do turco padrão na Turquia após a queda do Império Otomano e a criação da República Turca em 1923 tinha como objetivo unificar as diversas populações do país sob uma única identidade nacional turca. Do mesmo modo, a adoção do árabe moderno normalizado nos países de língua árabe tem sido frequentemente associada a movimentos nacionalistas pan-árabes. No entanto, a normalização e a promoção de uma língua estatal podem também ter consequências indesejadas, nomeadamente a marginalização das línguas e dialectos regionais ou minoritários. Isto pode levar a um declínio da sua utilização pública e, por vezes, a uma erosão da sua viabilidade a longo prazo, ou mesmo ao seu desaparecimento. Por exemplo, muitas línguas e dialectos minoritários curdos foram suprimidos em vários países, num esforço para conseguir a assimilação cultural.

Paradoxalmente, a proibição ou repressão de certas línguas pode também levar a um interesse renovado por essas línguas e dialectos, que são frequentemente vistos como elementos essenciais da identidade cultural de uma comunidade. Nalguns casos, isto pode levar a movimentos de protesto linguístico e cultural. A supressão da utilização pública do arménio na Turquia durante muitos anos levou, por exemplo, a uma maior sensibilização e valorização da língua entre as comunidades arménias de todo o mundo. Em última análise, as políticas linguísticas no Médio Oriente reflectem a tensão entre a construção de identidades nacionais e a preservação da diversidade cultural e linguística. As respostas a estas políticas são diversas e podem ir da adoção entusiástica da língua do Estado à resistência e manutenção das línguas tradicionais como ato de preservação cultural e resistência política.

Panorama das crenças religiosas

O Médio Oriente é frequentemente definido de forma abrangente, incluindo regiões como a Anatólia (a parte asiática da Turquia moderna), o Egipto (embora geograficamente localizado no Norte de África, está cultural e historicamente ligado ao Médio Oriente) e a Mesopotâmia (que corresponde aos territórios do Iraque e da Síria modernos, bem como a partes do Irão e da Turquia). Esta região, rica em diversidade cultural e histórica, é reconhecida como o berço de várias das principais religiões do mundo.

O judaísmo, uma das primeiras religiões monoteístas, surgiu no Levante, nomeadamente na região histórica de Canaã, atualmente dividida entre Israel e os territórios palestinianos. Com raízes que remontam há mais de 3.000 anos, o judaísmo desempenhou um papel central no desenvolvimento religioso e cultural da região. O cristianismo, que nasceu do judaísmo no século I d.C., também tem as suas origens no Médio Oriente, especificamente na região histórica da Judeia. Espalhou-se rapidamente pelo Império Romano e não só, tornando-se numa importante religião mundial. O Islão, a mais recente das três grandes religiões abraâmicas, foi revelado ao profeta Maomé no início do século VII na cidade árabe de Meca. Espalhou-se rapidamente pela Península Arábica e, através da conquista e do comércio, por vastas áreas da Ásia, África e Europa. Para além destas religiões abraâmicas, o Médio Oriente é também o berço do zoroastrismo, fundado pelo profeta Zaratustra (ou Zoroastro) na antiga Pérsia, o atual Irão. O zoroastrismo, que era uma das religiões dominantes da Pérsia antes da islamização, é frequentemente considerado uma das mais antigas religiões monoteístas e influenciou outras tradições religiosas através dos seus conceitos dualistas da luta entre o bem e o mal.

Cada uma destas religiões contribuiu para a rica tapeçaria cultural e histórica da região e continua a influenciar profundamente as vidas, as culturas e a política do Médio Oriente moderno. A diversidade religiosa e a profundidade histórica fazem do Médio Oriente um lugar de particular importância para os estudiosos, os crentes e os visitantes de todo o mundo.

As fundações e a evolução do judaísmo==

Judaísmo primitivo e monoteísmo

O judaísmo é reconhecido como uma das primeiras religiões monoteístas da história. Surgido na região do Levante, que atualmente corresponde a Israel e arredores, o Judaísmo desempenhou um papel crucial no desenvolvimento religioso e cultural da humanidade. As origens do judaísmo remontam a cerca de 2000 a.C., com as figuras bíblicas de Abraão, Isaac e Jacob, considerados os patriarcas da religião. O judaísmo centra-se na crença num Deus único, YHWH (Javé), e numa série de leis e princípios éticos expressos na Torá, que faz parte de uma coleção mais vasta de textos sagrados conhecida como Tanakh ou Bíblia hebraica. O que distingue o judaísmo das outras tradições religiosas do seu tempo é o seu monoteísmo estrito. Enquanto muitas culturas antigas aderiam ao politeísmo, o judaísmo afirmava a existência de um único Deus soberano, criador do universo e guia moral da humanidade.

Para além da sua dimensão religiosa, o judaísmo tem também uma forte dimensão étnica e cultural. Os judeus vêem-se não só como adeptos de uma fé, mas também como membros de um povo ou nação, unidos por uma história e tradições comuns. Ao longo dos séculos, o judaísmo influenciou significativamente muitas outras crenças e práticas religiosas, em particular o cristianismo e o islamismo, que partilham certas raízes com o judaísmo e reconhecem muitas figuras bíblicas judaicas como profetas ou mestres importantes.

Abraão e a linhagem patriarcal judaica

Abraão, frequentemente considerado como o pai do monoteísmo, é uma figura central do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. Segundo a tradição judaica, Abraão nasceu em Ur, na Mesopotâmia, e não em Edessa, na Grécia. Edessa é uma cidade histórica da Turquia, conhecida como Urfa, mas não está ligada à história de Abraão nos textos bíblicos. O relato bíblico descreve a sua viagem da Mesopotâmia para Canaã, a mando de Deus, que prometeu fazer da sua descendência uma grande nação. A complexa relação de Abraão com a sua mulher Sara e a sua escrava Agar é um elemento crucial da história. Sara, incapaz de ter filhos, dá Agar a Abraão, de quem nasce Ismael. Mais tarde, Sara dá à luz Isaac. Na tradição judaica, Isaac é o filho da promessa e os judeus consideram-se seus descendentes. Na tradição islâmica, é Ismael que é frequentemente visto como o filho da promessa, embora o Islão também reconheça a importância de Isaac. O filho de Isaac, Jacob, é também uma figura fundamental. Segundo a tradição, ele teve 12 filhos, cujos descendentes se tornaram as Doze Tribos de Israel, marcando a formação do povo hebreu.

O Êxodo Egípcio e a Revelação no Monte Sinai

A história da escravatura no Egipto é outra parte fundamental da história judaica. Depois de viverem no Egipto, os hebreus foram escravizados e, séculos mais tarde, libertados sob a liderança de Moisés, outra figura central na tradição judaica. Esta saída do Egipto, conhecida como o Êxodo, é um acontecimento fundamental na história judaica e é celebrada todos os anos na Pessach (Páscoa). Estas histórias não são apenas narrativas religiosas, mas moldaram também a identidade cultural e histórica do povo judeu. Sublinham a relação contínua entre o povo judeu, a sua terra e a sua fé, uma relação que permanece central para a compreensão da cultura e da história judaicas.

A figura de Moisés e o evento da revelação no Monte Sinai estão entre os mais significativos da tradição judaica e têm uma profunda importância na história e na identidade do povo judeu. De acordo com o relato bíblico, Moisés, um hebreu criado na casa do Faraó no Egipto, é escolhido por Deus para libertar os israelitas da escravatura. Após uma série de acontecimentos miraculosos, incluindo as dez pragas do Egipto, Moisés conduz os israelitas para fora do Egipto, um acontecimento conhecido como o Êxodo. O Êxodo representa não só a libertação física do povo judeu, mas também a sua emergência como nação unida sob Deus.

O momento mais crucial da sua viagem é a revelação no Monte Sinai, onde, segundo a tradição, Deus (Javé) entrega a Moisés a Tora, incluindo os Dez Mandamentos. Este momento é visto como a aliança fundamental entre Deus e os israelitas, onde estes recebem um conjunto de leis e instruções para orientar a sua vida espiritual e social. A Torá, que é o coração do judaísmo, inclui não só as leis e os ensinamentos, mas também a história do povo judeu desde a criação do mundo. Os Dez Mandamentos são particularmente importantes porque estabelecem princípios morais e éticos fundamentais, não só para o judaísmo, mas também para o cristianismo e, indiretamente, para o islamismo. São considerados a pedra angular do direito e da ética na tradição judaico-cristã. A importância destes acontecimentos no judaísmo não pode ser subestimada. Não só estão no centro da fé judaica, como também moldaram os valores, as práticas e a identidade do povo judeu. A comemoração do Êxodo em Pessach e a receção da Torá em Shavuot são exemplos de como estes acontecimentos históricos são integrados no ciclo anual de festas e celebrações judaicas, recordando constantemente ao povo judeu a sua história e os seus compromissos para com Deus.

A conquista de Canaã e a era dos profetas

Após o êxodo do Egipto e a travessia do deserto, os israelitas, liderados por Josué, entraram em Canaã, uma terra que, segundo a Bíblia, tinha sido prometida por Deus aos seus antepassados. Esse processo, descrito nos textos bíblicos, envolve uma série de batalhas e conquistas para estabelecer a presença israelita na região. No entanto, é importante notar que a exatidão histórica destes acontecimentos, tal como descritos na Bíblia, é objeto de debate entre historiadores e arqueólogos.

O rei David, que reinou no século X a.C., é uma figura central na história do povo judeu. Segundo a tradição, uniu as tribos de Israel, conquistou Jerusalém e fez dela a capital do seu reino. Jerusalém adquiriu uma importância central na tradição judaica, não só como centro político, mas também como centro espiritual. O seu filho, o rei Salomão, é famoso por ter construído o Primeiro Templo em Jerusalém. Este templo tornou-se o centro do culto judaico e era suposto albergar a Arca da Aliança, que continha as tábuas da Lei (os Dez Mandamentos) dadas a Moisés no Monte Sinai. O Templo de Salomão não é apenas um símbolo da soberania e da unidade do Reino de Israel, mas também um local de grande significado religioso para os judeus.

O período dos reinos de Israel e de Judá foi também marcado pela atividade dos profetas, figuras importantes da tradição judaica. Estes profetas, como Isaías, Jeremias e Ezequiel, desempenharam um papel crucial no aconselhamento dos reis, criticando as injustiças sociais e morais e recordando ao povo os mandamentos de Deus. A sua mensagem e os seus escritos constituem uma parte importante dos textos bíblicos e continuam a influenciar o pensamento religioso judaico. Este período foi fundamental para a formação da identidade e da fé judaicas. Estabeleceu Jerusalém como o coração espiritual do judaísmo e lançou as bases para muitas das práticas e crenças que ainda são centrais no judaísmo contemporâneo.

Após a morte de Salomão, por volta de 926 a.C., o reino unificado de Israel dividiu-se em dois: o reino do norte, chamado Israel, com Samaria como capital, e o reino do sul, chamado Judá, com Jerusalém como capital. Esta divisão reflectia não só as tensões políticas e económicas, mas também as diferenças religiosas e culturais entre os dois reinos. O reino do norte, Israel, era maior em termos de território e de população, mas era também mais vulnerável a influências e invasões externas devido à sua posição geográfica.

O reino do norte acabou por sofrer uma derrota devastadora em 722 a.C., quando os assírios, um poderoso império da época, invadiram e conquistaram Samaria. Este acontecimento marcou o fim do reino de Israel, com uma grande parte da sua população deportada e dispersa, um fenómeno frequentemente referido como as "Dez Tribos Perdidas de Israel". Esta deportação e dispersão teve consequências profundas, não só a nível político e militar, mas também a nível da identidade cultural e religiosa. O reino do sul, Judá, sobreviveu a este período, mas tornou-se vassalo de vários impérios, incluindo o Império Neo-Babilónico. No entanto, também Judá acabou por cair, com a conquista de Jerusalém e a destruição do Primeiro Templo pelos babilónios em 586 a.C., seguida do exílio babilónico da elite judaica. Estes acontecimentos são de grande importância na história judaica. Marcam não só pontos de viragem políticos e militares, mas também momentos cruciais de transformação cultural e religiosa. As experiências da conquista, do exílio e do regresso tiveram uma profunda influência no pensamento e na literatura judaicos, nomeadamente com a redação de numerosos textos bíblicos e o reforço da identidade e da fé judaicas em torno da Torá e da comunidade religiosa.

A desagregação dos reinos e o início da diáspora

A destruição do reino de Israel pelos assírios, em 722 a.C., representou a primeira grande catástrofe (ou "Churban", em hebraico) para os israelitas. Esta invasão levou à dispersão das dez tribos do reino do Norte, um acontecimento frequentemente referido no contexto das "Dez Tribos Perdidas de Israel". Esta dispersão teve um impacto profundo na identidade colectiva e na memória histórica do povo judeu. Em resposta a estas dificuldades e aos desafios de viver no exílio e sob domínio estrangeiro, os rabinos e académicos judeus desempenharam um papel essencial na preservação e interpretação da tradição judaica. No entanto, é importante notar que a Mishna, que é uma importante compilação da lei oral judaica, foi escrita mais tarde, no final do século II d.C., muito depois do tempo dos reinos de Israel e Judá. A Mishna, combinada com a Gemara (um comentário sobre a Mishna), forma o Talmud, um texto central no judaísmo rabínico.

O Tanakh compreende a Torah (os cinco livros de Moisés), os Nevi'im (os Profetas) e os Ketuvim (os Escritos, incluindo os Salmos). Profetas como Elias, Isaías e Jeremias, que viveram em épocas diferentes, desempenharam um papel crucial na vida religiosa e social dos israelitas, enviando mensagens de reforma, de justiça social e de fidelidade a Deus. Estes profetas actuaram frequentemente em períodos de crise e de mudança, reflectindo os seus ensinamentos e acções os desafios que o povo judeu enfrentava. Os seus escritos, que fazem parte dos Nevi'im, são fundamentais para compreender o judaísmo, a espiritualidade judaica e a história do povo judeu. Estes textos têm desempenhado um papel crucial na preservação da identidade judaica e têm sido uma fonte de força e inspiração, particularmente durante os períodos de perseguição e dispersão.

A destruição do Primeiro Templo de Jerusalém por Nabucodonosor II, rei do Império Neobabilónico, em 587 a.C., foi uma grande catástrofe para o povo judeu. Esta destruição, acompanhada da deportação de uma grande parte da população judaica para a Mesopotâmia, foi um acontecimento devastador que marcou profundamente a consciência colectiva judaica. O exílio babilónico simbolizou não só uma perda territorial e política, mas também uma profunda crise espiritual e de identidade, obrigando os judeus a repensar a sua relação com Deus, a sua história e a sua identidade como povo. O regresso dos judeus à Judeia começou com a ascensão de Ciro, o Grande, rei do Império Persa, que conquistou a Babilónia em 539 a.C. Ciro é conhecido pela sua política de tolerância e de restauração dos povos deslocados, incluindo os judeus. De acordo com o Livro de Esdras, na Bíblia, Ciro emitiu um édito que permitia aos judeus regressar à Judeia e reconstruir o Templo de Jerusalém. Este regresso começou por volta de 538 a.C. e marcou um momento de renovação da comunidade judaica.

O Segundo Templo foi reconstruído, mas a construção não começou durante o reinado de Herodes, o Grande. O processo de reconstrução do Templo começou muito antes, por volta de 516 a.C., completando assim o período de 70 anos de exílio profetizado nas Escrituras. O Segundo Templo continuou a ser um importante centro religioso e comunitário para os judeus até à sua destruição pelos romanos em 70 d.C. Sabe-se que Herodes, o Grande, que reinou muito mais tarde (37-4 a.C.), empreendeu uma grande renovação e ampliação do Segundo Templo, dando-lhe ainda mais esplendor e magnificência. Foi esta versão do Templo, ampliada e embelezada por Herodes, que esteve presente no tempo de Jesus e é frequentemente referida no Novo Testamento.

A evolução do judaísmo pós-templo e das comunidades judaicas

A Palestina ficou sob o domínio romano após a conquista romana no século I a.C. Em 332 a.C., Alexandre, o Grande, da Macedónia, conquistou a região, marcando o início do período helenístico. Após a morte de Alexandre, a região ficou sob o controlo de várias dinastias helenísticas, nomeadamente os Ptolomeus do Egipto e os Selêucidas da Síria. Só no século I a.C. é que a Judeia se tornou um reino cliente do Império Romano. Sob o domínio romano, os judeus viveram períodos de repressão, exacerbados por tensões religiosas e culturais e por pesados impostos. A destruição do Segundo Templo de Jerusalém pelos romanos, em 70 d.C., sob o comando do futuro imperador Tito, foi um acontecimento devastador para o povo judeu. Esta destruição seguiu-se à Grande Revolta Judaica contra o domínio romano. A perda do Templo, considerado como o centro espiritual e nacional do judaísmo, teve consequências profundas para a identidade e a prática religiosas judaicas. Após a destruição do Templo, a dispersão (ou "diáspora") dos judeus acelerou-se. Embora já existissem comunidades judaicas dispersas por todo o mundo antigo antes da destruição do Templo (por exemplo, no Egipto, na Babilónia, na Grécia e em Itália), este acontecimento marcou o início de um período de dispersão mais vasto e sistemático. Muitos judeus fugiram ou foram deportados da Judeia e estabeleceram-se em diferentes partes do Império Romano e não só. Esta dispersão teve um impacto duradouro no judaísmo. Sem o Templo como centro de culto, o judaísmo evoluiu, com uma maior ênfase na oração, no estudo dos textos sagrados e na prática religiosa nas sinagogas. A diáspora judaica tornou-se um elemento central da identidade judaica, com a noção de um povo unido pela fé e pela história, apesar da dispersão geográfica.

A transição da identidade de "hebreus" para "judeus" é um aspeto importante da história judaica e está ligada a uma série de factores, incluindo a perda de território e as mudanças políticas. O termo "hebreus" (Ivrim em hebraico) foi originalmente utilizado na Bíblia hebraica para designar os antepassados dos israelitas, nomeadamente no contexto das suas relações com outros povos. O termo é frequentemente associado a períodos anteriores da história judaica, em particular o tempo dos patriarcas (Abraão, Isaac, Jacob) e o êxodo do Egipto. O termo "judeus" (Yehudim em hebraico), por outro lado, deriva de "Judá" (Yehuda), um dos doze filhos de Jacob e uma das doze tribos de Israel. Após a divisão do reino unido em dois reinos distintos, Israel (a norte) e Judá (a sul), e a queda do reino de Israel perante os Assírios, o reino de Judá tornou-se o centro da identidade israelita. Quando os babilónios destruíram o Primeiro Templo e exilaram uma grande parte da população de Judá, estas pessoas passaram a ser designadas por "Yehudim" ou "Judeus".

Com a destruição do Segundo Templo pelos romanos, em 70 d.C., e a subsequente dispersão dos judeus, a identidade judaica tornou-se ainda mais centrada na religião e na cultura, e não num território específico ou numa soberania política. O termo "judeu" tornou-se assim sinónimo de uma filiação religiosa e cultural, e não apenas étnica ou nacional. A perda de território e as mudanças políticas desempenharam, sem dúvida, um papel nesta evolução, mas a transição de "hebreus" para "judeus" reflecte também uma evolução interna na compreensão e auto-identificação do povo. Assim, o termo "judeu" engloba uma identidade religiosa, cultural e étnica, transcendendo as fronteiras geográficas e políticas.

Línguas e culturas judaicas no mundo

Os judeus Ashkenazi, originários da Europa Central e Oriental, desenvolveram uma língua e uma cultura únicas. O iídiche, sua língua, é um exemplo notável dessa cultura distinta. O iídiche é uma língua germânica que incorpora elementos do hebraico e das línguas eslavas, reflectindo a história e as experiências dos judeus asquenazes. Esta língua não era apenas um instrumento de comunicação quotidiana, mas também um veículo importante para a literatura, o teatro e a poesia dos judeus asquenazes. Por outro lado, os judeus sefarditas, principalmente da Península Ibérica (Espanha e Portugal), desenvolveram uma outra língua híbrida conhecida como ladino ou judaico-espanhol. O ladino, semelhante ao iídiche, mistura o espanhol com o hebraico e outras línguas como o turco e o árabe, reflectindo as migrações e interacções dos judeus sefarditas após a sua expulsão de Espanha em 1492.

Em termos de práticas religiosas, o judaísmo é diversificado. As práticas ortodoxas aderem estritamente às leis e tradições judaicas, enquanto os movimentos reformistas ou liberais (também conhecidos como progressistas ou moderados) tendem a adotar interpretações e práticas mais flexíveis. Existem também movimentos conservadores e reconstrucionistas, que procuram um equilíbrio entre a adesão à tradição e a adaptação às realidades contemporâneas. Esta diversidade reflecte a capacidade do judaísmo para evoluir e se adaptar, preservando a sua identidade e os seus valores fundamentais. Diferentes comunidades judaicas em todo o mundo, sejam elas asquenazis, sefarditas ou de outras origens, contribuíram para a rica tapeçaria da cultura e tradição judaicas, trazendo cada uma delas as suas próprias perspectivas e experiências únicas.

As Origens e Ramos do Cristianismo

A Expansão do Cristianismo no Império Romano

O Cristianismo está centrado na figura de Jesus de Nazaré, que os cristãos reconhecem como o Messias (o Cristo) e o Filho de Deus. O seu nascimento, vida, ensino, morte e ressurreição estão no centro da fé cristã.

De acordo com o Novo Testamento, Jesus nasceu em Belém, uma pequena cidade da Judeia. Os relatos do seu nascimento estão contidos nos Evangelhos de Mateus e Lucas, que mencionam o nascimento virginal de Maria, sua mãe, e o anúncio do seu nascimento pelos anjos como um acontecimento de grande importância. Jesus passou a maior parte da sua vida na região da Galileia, pregando uma mensagem de amor, compaixão e arrependimento, apelando à renovação espiritual e a uma relação pessoal com Deus. Reuniu à sua volta um grupo de discípulos e realizou vários milagres, de acordo com os relatos dos Evangelhos.

A sua crucificação em Jerusalém é um momento central do cristianismo. Os cristãos acreditam que, com a sua morte, Jesus ofereceu o derradeiro sacrifício para o perdão dos pecados da humanidade e que a sua ressurreição, três dias depois, oferece a promessa de salvação e vida eterna. Este acontecimento é comemorado todos os anos na Páscoa cristã. O cristianismo começou como um movimento no seio do judaísmo no século I, mas rapidamente se espalhou por outras populações, principalmente não judaicas, em todo o Império Romano e mais além. A figura de Jesus e os seus ensinamentos tiveram uma profunda influência na história da humanidade, moldando não só a religião cristã, mas também muitos aspectos da civilização ocidental e mundial.

Legalização e institucionalização do cristianismo

Sob o imperador Constantino I, com o Édito de Milão em 313 d.C., o Cristianismo foi legalizado no Império Romano, pondo fim à perseguição oficial. Mais tarde, com o imperador Teodósio I, em 380 d.C., o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, com o Édito de Tessalónica. Este reconhecimento imperial transformou profundamente o cristianismo, permitindo-lhe difundir-se e influenciar todos os aspectos da sociedade romana. No entanto, esta integração do cristianismo nas estruturas do poder imperial também criou tensões e divergências no seio da comunidade cristã. Algumas comunidades cristãs procuraram distanciar-se da Igreja oficial e do Império, quer devido a diferenças teológicas, quer em resposta ao que consideravam ser a corrupção ou a politização da sua fé. Estes grupos, muitas vezes rotulados de seitas ou heresias pela Igreja oficial, procuraram preservar uma forma de cristianismo que consideravam mais autêntica ou fiel aos ensinamentos originais de Jesus e dos apóstolos.

Estas diferenças deram origem a vários cismas e movimentos no seio do cristianismo, alguns dos quais persistiram durante séculos. Estas divisões foram exacerbadas por debates teológicos (como a natureza da Trindade ou a relação entre a divindade e a humanidade de Jesus), diferenças culturais e linguísticas e conflitos políticos no seio do Império. A integração do Cristianismo na estrutura do Império Romano teve, portanto, um impacto complexo: permitiu uma expansão e uma institucionalização sem precedentes da religião, mas também lançou as sementes de divisões internas que continuariam a moldar a história do Cristianismo nos séculos seguintes.

O debate sobre a natureza de Jesus é um dos maiores e mais significativos da história do cristianismo. Esta questão teológica, que diz respeito à relação entre a divindade e a humanidade de Jesus, esteve no centro de muitas controvérsias e levou a vários concílios importantes na Igreja primitiva. A questão principal era saber como é que Jesus podia ser, simultaneamente, totalmente divino e totalmente humano. Esta questão foi abordada pela primeira vez de forma significativa no Concílio de Niceia, em 325 d.C., onde a doutrina da Trindade começou a tomar forma. O Credo Niceno, resultante deste Concílio, afirmava que Jesus era "da mesma substância" (homoousios) que o Pai, estabelecendo assim a sua plena divindade. No entanto, esta declaração não pôs fim ao debate. Nos séculos seguintes, surgiram diferentes escolas de pensamento. Duas das mais influentes foram o arianismo, que defendia que Jesus, embora divino, não era da mesma substância que o Pai, sendo por isso inferior a ele; e o nestorianismo, que ensinava que as naturezas divina e humana de Jesus eram separadas e distintas.

Estes debates atingiram o seu clímax no Concílio de Calcedónia, em 451 d.C., que resultou na formulação da chamada "dupla natureza" de Cristo: Jesus foi reconhecido como sendo plenamente divino e plenamente humano, estando as duas naturezas unidas numa só pessoa, sem serem misturadas, confundidas ou separadas. Esta doutrina é conhecida como cristologia calcedónica. Este debate sobre a natureza de Jesus não foi apenas uma questão teológica abstrata; teve grandes repercussões políticas, sociais e culturais no Império Romano e não só. As divergências sobre estas questões levaram a cismas no seio da Igreja e foram mesmo a causa de conflitos e perseguições. A forma como as várias comunidades cristãs responderam a estas questões moldou significativamente o desenvolvimento do cristianismo nos séculos seguintes.

O Concílio de Nicéia e a formação da doutrina cristã

O Concílio de Nicéia, realizado em 325 d.C., é um momento crucial na história do cristianismo por várias razões. Foi o primeiro concílio ecuménico, reunindo bispos de todo o Império Romano para debater e decidir sobre questões teológicas centrais. A principal questão em causa era responder ao arianismo, uma doutrina promovida por Ário, um sacerdote de Alexandria, que defendia que Jesus não era da mesma substância que Deus Pai, mas antes uma criatura criada por Deus e inferior a Ele. O Concílio de Niceia rejeitou o arianismo e afirmou que Jesus era "consubstancial" (da mesma substância) com o Pai, afirmando assim a sua plena divindade. Esta decisão foi codificada no Credo de Nicéia, que se tornou uma declaração fundamental da fé cristã.

No entanto, a decisão de Nicéia não resolveu todas as controvérsias. Levou à formação de diferentes interpretações e igrejas, nomeadamente entre a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente. Estas divergências estavam ligadas não só a questões teológicas, mas também a questões linguísticas, culturais e políticas. Os jacobitas, por exemplo, seguiam os ensinamentos de Tiago Baradai e estavam associados à Igreja Ortodoxa Siríaca. Rejeitaram as decisões do Concílio de Calcedónia (451 d.C.), que tinha aprofundado a natureza de Cristo, afirmando que ele tinha duas naturezas, divina e humana, unidas numa só pessoa. Os jacobitas e outros grupos, como os nestorianos e os monofisitas, formaram as suas próprias comunidades eclesiásticas distintas, muitas vezes em oposição às doutrinas estabelecidas pelas autoridades imperiais e eclesiásticas dominantes.

Estas divisões e controvérsias no seio do cristianismo moldaram significativamente a evolução da religião, conduzindo a um complexo mosaico de tradições cristãs em todo o mundo. Estas diferentes comunidades mantiveram as suas próprias interpretações teológicas, práticas litúrgicas e estruturas organizativas, contribuindo para a rica e por vezes conflituosa diversidade do cristianismo ao longo dos séculos.

O Concílio de Calcedónia e a Cristologia Diofisita

O Concílio de Calcedónia, realizado em 451 d.C., é um acontecimento importante na história do cristianismo, pois abordou de frente a complexa questão da natureza de Cristo. Este Concílio é frequentemente considerado como o ponto culminante dos debates cristológicos que atravessaram a Igreja Cristã durante vários séculos. A decisão do Concílio de Calcedónia estabeleceu que Jesus Cristo possui duas naturezas distintas - divina e humana - unidas numa única pessoa (hipóstase). Esta formulação é conhecida como "Cristologia Diofisita". De acordo com esta doutrina, as duas naturezas de Cristo coexistem sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem separação. Isto significa que, embora Cristo seja plenamente Deus e plenamente homem, as suas duas naturezas não se misturam, preservando assim tanto a sua completa divindade como a sua completa humanidade.

Este Concílio foi crucial para estabelecer uma ortodoxia aceite pela maioria dos cristãos, mas também deu origem a divisões significativas. Várias Igrejas, nomeadamente algumas Igrejas Orientais, rejeitaram as decisões de Calcedónia. Estas Igrejas são frequentemente chamadas "não-calcedonianas" ou "pré-calcedonianas" e incluem a Igreja Copta do Egipto, a Igreja Ortodoxa Etíope, a Igreja Apostólica Arménia e outras. Estas comunidades mantiveram o seu próprio entendimento da natureza de Cristo, centrando-se frequentemente na unidade das suas naturezas divina e humana. O Concílio de Calcedónia marca assim um momento crucial na história do Cristianismo, estabelecendo uma doutrina fundamental para muitas igrejas cristãs, ao mesmo tempo que cria cismas duradouros com outras comunidades que não aceitaram as suas conclusões. Estas divisões cristológicas continuam a ser uma faceta importante das diferenças entre as várias tradições cristãs até aos dias de hoje.

Implicações políticas e culturais das divergências teológicas

O Grande Cisma de 1054, que marcou a separação entre a Igreja do Oriente, mais tarde conhecida como Igreja Ortodoxa, e a Igreja do Ocidente, a Igreja Católica Romana, representou um ponto de viragem histórico no Cristianismo. Esta rutura não foi um acontecimento isolado, mas antes o culminar de um longo período de divergência crescente entre os dois ramos do cristianismo. No centro dessas divergências estavam profundas disputas teológicas e eclesiásticas. Um dos principais pontos de discórdia dizia respeito à questão da autoridade papal. A Igreja de Roma, com figuras como o Papa Leão IX, reivindicava a autoridade suprema sobre todas as igrejas cristãs, uma posição contestada pela Igreja do Oriente. O Patriarcado de Constantinopla, com líderes como Miguel Cerularus, rejeitava a ideia de uma autoridade centralizada e defendia uma abordagem mais colegial.

Outro ponto-chave de discórdia foi a adição do "Filioque" ao Credo Niceno pela Igreja do Ocidente. Esta alteração, que afirma que o Espírito Santo procede do Pai "e do Filho", foi vista pela Igreja do Oriente como uma alteração inaceitável de uma doutrina estabelecida nos primeiros concílios ecuménicos. Este debate reflectiu diferenças mais amplas na compreensão da Trindade e da natureza de Deus. Para além das questões teológicas, as diferenças culturais e políticas também desempenharam um papel importante. O colapso do Império Romano do Ocidente e a ascensão do Império Bizantino criaram um fosso entre as duas regiões. As diferenças linguísticas, com o latim a predominar no Ocidente e o grego no Oriente, também contribuíram para um fosso cultural crescente.

O acontecimento simbólico que marcou o ponto culminante destas tensões foi a excomunhão mútua de 1054. Legados enviados pelo Papa Leão IX a Constantinopla excomungaram o Patriarca Miguel Cerularus, que respondeu excomungando os legados. Embora esta excomunhão tenha sido o gesto mais dramático, representou o culminar de uma longa série de desacordos e mal-entendidos. O Grande Cisma teve profundas repercussões no desenvolvimento posterior do cristianismo, solidificando a divisão entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa. Esta divisão, enraizada em diferenças teológicas, culturais e políticas, moldou não só a história religiosa, mas também as trajectórias políticas e culturais da Europa e das regiões circundantes. Nos tempos modernos, têm sido feitos esforços no sentido do diálogo e da reconciliação, mas as divisões do Cisma de 1054 continuam a influenciar a paisagem religiosa e cultural do mundo.

Protestantismo e Reforma: transformação do cristianismo

No século XVI, o Cristianismo foi profundamente transformado pelo aparecimento do Protestantismo, um movimento que desafiou as doutrinas e práticas da Igreja Católica Romana e conduziu à Reforma Protestante. Este período marcou um ponto de viragem crucial na história religiosa da Europa e teve repercussões globais duradouras. A génese do Protestantismo é frequentemente atribuída a Martinho Lutero, um monge e teólogo alemão. Em 1517, Lutero afixou as suas "95 teses" na porta da igreja de Wittenberg, criticando vários aspectos da Igreja Católica, nomeadamente a venda de indulgências. Os seus escritos circularam rapidamente, impulsionados pela recente invenção da imprensa, e tiveram eco junto de um público cada vez mais insatisfeito com certas práticas da Igreja.

Lutero contestou doutrinas fundamentais da Igreja Católica, como a autoridade do Papa e a eficácia das obras para a salvação, defendendo, em vez disso, a justificação apenas pela fé ("sola fide") e a autoridade apenas das Escrituras ("sola scriptura"). Estas ideias puseram em causa os fundamentos da Igreja Católica e deram início a uma série de reformas religiosas em toda a Europa. Outras figuras-chave da Reforma Protestante foram João Calvino, em Genebra, que desenvolveu um sistema teológico conhecido como calvinismo, e Huldrych Zwingli, em Zurique. Cada um destes reformadores ajudou a dar forma a várias vertentes do Protestantismo, que depois deram origem a uma multiplicidade de denominações, incluindo luteranos, reformados, presbiterianos e anabaptistas, entre outras.

A Reforma trouxe profundas mudanças não só na esfera religiosa, mas também nas esferas política, cultural e social. Deu origem a guerras religiosas em toda a Europa, a mudanças nas estruturas do poder político e teve influência na educação, na literatura e nas artes. A Reforma Protestante abriu também caminho à expansão do cristianismo em todo o mundo, nomeadamente através de actividades missionárias nas colónias europeias. Assim, o século XVI foi um período de grande transformação para o cristianismo, com o protestantismo a desafiar as estruturas estabelecidas da Igreja e a redefinir a forma como muitos cristãos entendiam a sua fé e praticavam a sua religião.

Ao longo da complexa história do cristianismo, houve alturas em que algumas Igrejas Orientais estabeleceram ligações com a Igreja Católica Romana, dando origem a comunidades cristãs que combinam elementos das tradições orientais e ocidentais. Estas Igrejas, frequentemente designadas por Igrejas Católicas Orientais ou Igrejas Uniatas, mantiveram os seus ritos litúrgicos e a sua herança cultural oriental, aceitando simultaneamente a autoridade do Papa e certas doutrinas católicas romanas. Este movimento de união com Roma foi motivado por vários factores, incluindo considerações políticas, desejos de apoio face a pressões externas e interesses teológicos e eclesiásticos. Um exemplo notável é a União de Brest, em 1596, quando alguns bispos da Igreja Ortodoxa da Polónia-Lituânia concordaram em unir-se à Igreja Católica Romana, formando a Igreja Greco-Católica Ucraniana. Do mesmo modo, a Igreja Católica Maronita do Líbano há muito que mantém a comunhão com Roma, preservando as suas tradições litúrgicas e espirituais orientais.

No que diz respeito à demografia cristã ao longo dos séculos, é verdade que em algumas regiões, especialmente no Médio Oriente e no Norte de África, a proporção de cristãos em relação à população total tem vindo a diminuir ao longo do tempo. Este declínio pode ser atribuído a vários factores, como as conversões, as migrações, as mudanças políticas e as pressões sociais e económicas. Por exemplo, após a conquista muçulmana do Médio Oriente, muitos cristãos adoptaram gradualmente a língua e a religião islâmicas, embora continuassem a existir comunidades cristãs na região. No entanto, à escala mundial, o cristianismo expandiu-se significativamente, em grande parte devido aos movimentos missionários e à colonização europeia entre os séculos XVI e XX. Atualmente, o cristianismo continua a ser uma das principais religiões do mundo, com uma presença substancial em todos os continentes. É importante notar que, apesar dos desafios e das mudanças, as comunidades cristãs continuaram a preservar a sua fé e as suas tradições, muitas vezes em contextos culturais e políticos muito diversos. A capacidade do cristianismo para se adaptar e transformar, preservando simultaneamente as suas crenças fundamentais, é um aspeto notável da sua história.

Les Principes et les Courants de l'Islam

Mahomet : Prophète et Fondation de l'Islam

L'islam est centré sur la figure de Mahomet (Muhammad en arabe), considéré par les musulmans comme le dernier prophète envoyé par Dieu pour guider l'humanité. La vie et les enseignements de Mahomet jouent un rôle fondamental dans l'islam et ont profondément influencé le développement de cette religion. Né à La Mecque en 570 après J.-C., Mahomet grandit dans un contexte où la péninsule arabique est dominée par des pratiques polythéistes et un système social tribal. Sa jeunesse est marquée par l'orphelinat et la pauvreté, mais il acquiert plus tard une réputation de confiance et d'intégrité dans son travail en tant que marchand. Ces expériences lui donnent une perspective unique sur les divers aspects sociaux, économiques et religieux de sa société. Selon la tradition islamique, à l'âge de 40 ans, Mahomet commence à recevoir des révélations de Dieu (Allah en arabe) par l'intermédiaire de l'ange Gabriel. Ces révélations, qui se poursuivent pendant 23 ans, forment le Coran, le texte sacré de l'islam.

Le message de Mahomet met l'accent sur le monothéisme strict (Tawhid), la justice sociale, la responsabilité morale et l'égalité devant Dieu. Conscient des inégalités et des injustices de la société mecquoise, ses enseignements appellent à un changement radical des structures sociales et religieuses de l'époque. Cependant, ses prédications rencontrent une forte opposition de la part des leaders mecquois, principalement en raison des implications économiques et sociales de son message, qui remet en question les structures de pouvoir et les pratiques religieuses établies à La Mecque. Ces tensions aboutissent finalement à l'Hégire (la migration) de Mahomet et de ses premiers disciples de La Mecque à Médine en 622 après J.-C., un événement si significatif qu'il marque le début du calendrier islamique.

L'Hégire : Un Tournant dans l'Histoire Islamique

À Médine, Mahomet établit une communauté (Ummah) basée sur les principes islamiques, où il joue un rôle de leader spirituel, politique et militaire. Les années suivantes voient l'expansion rapide de l'islam à travers la péninsule arabique, ainsi que la consolidation des diverses tribus arabes sous la bannière de la nouvelle foi. Après la mort de Mahomet en 632 après J.-C., ses enseignements et son exemple continuent de guider les musulmans. L'islam se propage rapidement au-delà de la péninsule arabique, devenant une force majeure religieuse, culturelle et politique dans le monde. La vie et les enseignements de Mahomet restent au cœur de la foi musulmane, influençant profondément les croyances, les pratiques et la culture des musulmans dans le monde entier.

La période suivant le décès de Mahomet en 632 après J.-C. est cruciale dans l'histoire de l'islam, car elle a posé les fondations de sa structuration politique et de ses divisions internes. L'Hégire, la migration de Mahomet de La Mecque à Médine en 622, est un moment fondateur de l'islam, marquant le début du calendrier islamique et l'établissement d'une communauté musulmane unie sous son leadership.

À sa mort en 632, Mahomet n'a pas désigné explicitement un successeur pour le guider, ce qui a conduit à une question cruciale : qui devrait diriger la communauté musulmane (Ummah)? Cette question a donné naissance aux deux principales branches de l'islam : le sunnisme et le chiisme. Les sunnites, représentant la majorité des musulmans, croient que le successeur de Mahomet doit être élu parmi les membres de la communauté musulmane et suivent la "Sunna" (tradition basée sur les enseignements et les pratiques de Mahomet). Le premier calife élu selon cette tradition fut Abou Bakr, un compagnon proche et beau-père de Mahomet. Les chiites, en revanche, croient que le leadership de la communauté musulmane doit rester au sein de la famille de Mahomet. Ils soutiennent que Ali, le cousin et gendre de Mahomet, était son successeur désigné. Les chiites utilisent le terme "Ahl al-Bayt" (gens de la maison) pour désigner la famille de Mahomet et leurs descendants.

La période de 632 à 661 après J.-C., connue sous le nom de période des "Califes bien guidés" ou "Rachidoune", a vu les successeurs d'Abou Bakr, Omar et Othman, devenir califes. Chacun de ces califes a été élu par consensus ou par conseil parmi les compagnons de Mahomet. Cependant, les tensions et les désaccords sur la question de la succession ont conduit à des divisions et des conflits, culminant dans la Fitna, une série de guerres civiles qui ont profondément affecté la communauté musulmane. Cette période a établi les bases du califat, la structure politique de l'empire musulman, qui allait se développer et changer de formes à travers les siècles. Les divisions initiales entre sunnites et chiites, bien que principalement théologiques et politiques à leurs débuts, ont façonné de manière significative l'histoire, la politique et la culture du monde musulman.

La Bataille de Nehavend et la Chute de l'Empire Sassanide

La bataille de Nehavend, survenue aux alentours de 641-642 après J.-C., est un jalon historique de première importance dans l'expansion de l'islam et la chute de l'Empire sassanide. Cette confrontation militaire, qui a eu lieu dans la région qui correspond aujourd'hui au nord-ouest de l'Iran, a opposé les forces musulmanes arabes, alors en pleine ascension, à l'armée de l'Empire sassanide, un empire autrefois puissant mais affaibli par des conflits prolongés et des troubles internes. Avant cette bataille, l'Empire sassanide, sous le règne de Yazdgard III, avait déjà subi de lourdes pertes face aux conquêtes musulmanes. La bataille de Nehavend est souvent considérée comme le coup de grâce à la résistance sassanide. La victoire musulmane dans cette bataille a été décisive : elle a non seulement marqué la fin de la résistance organisée de l'Empire sassanide, mais a également ouvert la voie à l'expansion rapide de l'islam dans la région. Cette victoire, surnommée par les musulmans "la victoire des victoires", a eu des conséquences profondes sur le cours de l'histoire régionale. Avec la défaite de l'armée sassanide, Yazdgard III a été contraint de fuir vers l'est, cherchant désespérément des alliés pour reconquérir son empire. Cependant, ses efforts se sont avérés infructueux, et l'Empire sassanide, autrefois un rival de l'Empire byzantin, a disparu de l'histoire.

L'impact de cette bataille va bien au-delà du champ de bataille. Elle a marqué le début d'une transformation culturelle et religieuse majeure en Perse. Avec la conquête musulmane, la région a commencé à se convertir progressivement de la religion zoroastrienne à l'islam. Cette transition ne s'est pas limitée aux aspects religieux ; elle a également entraîné d'importants changements linguistiques et culturels. L'arabe est devenu la langue principale de l'administration et de la culture savante, bien que la langue et la culture persanes aient continué à jouer un rôle significatif dans la région. La bataille de Nehavend illustre donc comment les conquêtes militaires peuvent avoir des implications durables sur l'identité culturelle et religieuse d'une région. En transformant la Perse de l'Empire sassanide en un territoire clé du monde islamique, cette bataille a non seulement redessiné la carte politique de la région, mais a également posé les bases pour les développements culturels et religieux qui ont suivi.

Les Chiites et leur Vision du Leadership Islamique

Les chiites, dont le nom signifie littéralement "partisans d'Ali", soutiennent que Ali, le cousin et gendre du prophète Mahomet, était le successeur légitime de Mahomet. Ils croient qu'Ali et ses descendants, les Imams, sont les véritables leaders spirituels et politiques de la communauté musulmane. Le chiisme repose sur l'idée de la légitimité divine de la lignée d'Ali, et ses adeptes se concentrent particulièrement sur les aspects spirituels et mystiques de l'islam. Les sunnites, quant à eux, représentent la majorité des musulmans et soutiennent que le calife doit être élu pour ses compétences et sa piété. Muawiya, le gouverneur de la Syrie, est devenu un personnage clé dans l'histoire sunnite lorsqu'il s'est opposé à Ali lors de la bataille de Siffin en 657. Cette bataille, qui s'est soldée par un impasse et a conduit à un arbitrage controversé, a été un moment décisif, exacerbant les divisions au sein de la communauté musulmane. L'acceptation par Ali de l'arbitrage à Siffin a causé une rupture avec certains de ses partisans, qui ont estimé qu'en acceptant l'arbitrage, il trahissait les principes de l'islam. Ces dissidents sont devenus connus sous le nom de Kharijites, un groupe qui prônait une interprétation stricte et parfois extrême de l'islam, et qui s'est opposé à la fois à Ali et à Muawiya.

Après l'assassinat d'Ali en 661, souvent attribué aux Kharijites, Muawiya établit le califat omeyyade, marquant le début d'une dynastie où la succession devient héréditaire. Cette période a été marquée par des tensions et des conflits continus entre les partisans d'Ali et les dirigeants omeyyades. Le fils de Muawiya, Yazid, est particulièrement mal vu dans la tradition chiite pour son rôle dans le massacre de Husayn, le fils d'Ali, lors de la bataille de Kerbala en 680. Ce tragique événement est au cœur de la commémoration chiite d'Achoura et symbolise la lutte contre l'injustice et l'oppression. Ces premières divisions et conflits au sein de l'islam ont jeté les bases des différences doctrinales, politiques et culturelles qui caractérisent les relations entre sunnites, chiites et kharijites jusqu'à nos jours. Ces événements ont non seulement façonné l'histoire du monde musulman, mais ont également eu un impact profond sur la politique, la société et la culture dans les régions où l'islam est pratiqué.

La Bataille de Kerbala et son Impact sur le Chiisme

La bataille de Kerbala, survenue en 680 après J.-C. en Irak, est l'un des événements les plus tragiques et significatifs de l'histoire de l'islam, en particulier pour les chiites. Cette bataille oppose Husayn ibn Ali, le petit-fils de Mahomet et figure centrale du chiisme, aux forces du calife omeyyade Yazid Ier. Husayn, avec un petit groupe de partisans et de membres de sa famille, s'est rendu à Kerbala dans le but de contester la légitimité du califat omeyyade, que les chiites considéraient comme illégitime et corrompu. Les forces de Yazid, largement supérieures en nombre, ont encerclé Husayn et ses partisans. Malgré les offres de reddition, Husayn a choisi de résister, ce qui a conduit à une bataille inégale où lui et presque tous ses compagnons ont été tués. La mort de Husayn à Kerbala est devenue un symbole puissant de résistance à l'oppression et de sacrifice pour la justice dans la tradition chiite. Sa mort est commémorée chaque année lors du mois de Muharram, en particulier le jour d'Achoura, où les chiites du monde entier se souviennent de son martyre par des rituels de deuil et de commémoration.

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La carte historique présentée illustre le monde méditerranéen aux alentours de l'année 750 après J.-C., mettant en évidence l'étendue territoriale du califat omeyyade à son apogée, ainsi que les autres entités politiques majeures de cette période.

La zone en vert représente le califat omeyyade, qui s'étend de la péninsule ibérique (Al-Andalus) à l'est jusqu'aux frontières de l'Inde, englobant le Maghreb, l'Égypte, la péninsule arabique, et de vastes régions du Moyen-Orient. Le califat omeyyade, avec Damas comme capitale, a connu une expansion rapide suite aux conquêtes musulmanes qui ont débuté au 7ème siècle. L'inclusion de villes telles que Cordoue, Séville, et Tolède montre l'étendue de leur pouvoir en Europe, tandis que des villes comme Kairouan en Afrique du Nord et Fustat en Égypte soulignent leur présence en Afrique. En rouge, on observe le Royaume franc sous le règne de Pépin le Bref. Les Francs, sous la direction de Charles Martel, ont stoppé l'avancée omeyyade en Europe lors de la bataille de Poitiers en 732, ce qui est souvent considéré comme un moment déterminant dans la retenue de l'expansion islamique en Europe occidentale. La couleur bleue indique l'Empire byzantin, également connu sous le nom de l'Empire romain d'Orient, qui a maintenu sa capitale à Constantinople (l'actuelle Istanbul). Malgré la perte de territoires au profit des Arabes, l'Empire byzantin a réussi à résister et à conserver des régions clés telles que l'Anatolie, les Balkans et certaines parties de l'Italie, comme en témoigne la présence de Syracuse et de Ravenne sur la carte. Le Royaume lombard, non souligné sur la carte mais présent dans la région de l'Italie du Nord, est une autre entité politique de cette époque qui a finalement été conquise par les Francs. Enfin, le petit territoire en brun clair représente le Royaume des Asturies, situé dans la région nord-ouest de la péninsule ibérique. C'est l'un des premiers royaumes chrétiens établis après le début de la conquête musulmane de l'Espagne et il est considéré comme un prédécesseur des royaumes chrétiens qui ont plus tard reconquis les territoires sous contrôle musulman lors de la Reconquista. La carte reflète donc une période de transitions géopolitiques importantes, avec des échanges dynamiques de pouvoir entre les royaumes et les empires, et représente les délimitations territoriales à une époque où l'Europe et le Moyen-Orient étaient profondément influencés par les conflits et les échanges entre chrétiens et musulmans.

L'Émergence et le Déclin du Califat Omeyyade

La dynastie omeyyade, fondée par Muawiya après la mort d'Ali, a établi sa capitale à Damas et a régné sur un vaste empire qui s'étendait de l'Espagne à l'Inde. Sous les Omeyyades, l'empire musulman a connu une expansion considérable et une certaine unification, bien que leur règne ait été marqué par des tensions internes, en particulier avec les partisans d'Ali et les communautés chiites. Le califat omeyyade a finalement pris fin en 750 après J.-C., renversé par la révolution abbasside. Les Abbassides, qui ont déplacé la capitale de l'empire à Bagdad, ont établi une nouvelle dynastie qui a marqué un tournant dans l'histoire islamique, avec un renouveau culturel, scientifique et politique. La chute des Omeyyades a également marqué une nouvelle phase dans la division sunnite-chiite, avec les chiites continuant à se développer en tant que communauté distincte avec ses propres doctrines et pratiques religieuses.

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La carte historique fournie représente l'Europe et le Moyen-Orient autour de l'année 880 après J.-C. Elle illustre la géopolitique complexe de l'époque, marquée par une mosaïque de royaumes, d'empires et de dynasties. La zone en vert représente le califat abbasside à son déclin, qui a succédé aux Omeyyades et dont la capitale était Bagdad. Cette entité a connu un âge d'or de développement scientifique, culturel et économique, mais à cette période, son influence politique commence à diminuer en raison des révoltes internes et de la pression des puissances émergentes. On remarque en Espagne plusieurs royaumes, y compris León, Navarre et Aragon, en plus de territoires encore sous contrôle musulman, tels que ceux gouvernés par l'émirat omeyyade de Cordoue, indiqué en damier vert. Ces régions musulmanes en Espagne, connues sous le nom d'Al-Andalus, étaient des centres de savoir et de culture où coexistaient musulmans, chrétiens et juifs. La zone rayée rouge et blanche indique les États pontificaux sous l'autorité du pape, centrés autour de Rome, symbolisant la puissance papale dans la péninsule italienne. Les territoires en orange et jaune représentent le Royaume franc divisé en Francie occidentale et orientale. À cette époque, l'empire carolingien, autrefois unifié sous Charlemagne, s'était fragmenté, ce qui a conduit à la formation de ce qui deviendrait plus tard la France et l'Allemagne. L'Empire byzantin, en bleu clair, avec Constantinople comme capitale, bien qu'affaibli par les luttes internes et les conflits externes, maintenait sa présence en Méditerranée orientale, comprenant des régions telles que l'Anatolie, les Balkans et des parties de l'Italie du Sud. En Afrique du Nord, les dynasties Aghlabides et Idrissides, ainsi que les Rustamides (en vert à rayures), tous issues de dissidences ou de branches du grand mouvement islamique, ont établi des règnes autonomes, avec des degrés variables d'allégeance ou d'indépendance par rapport au califat abbasside. Enfin, le Royaume bulgare, indiqué en violet, représente une autre puissance significative de cette période, ayant étendu son influence dans les Balkans et parfois contesté l'Empire byzantin. Cette carte révèle la fragmentation politique de l'époque, avec la montée de nouvelles puissances, la décentralisation du pouvoir et l'interaction complexe entre les différentes autorités religieuses et laïques. Elle dépeint une période de transition entre l'âge carolingien et les prémices de la formation des États-nations européens, tout en témoignant de l'affaiblissement progressif des califats islamiques face à des forces internes et externes montantes.

La Montée et le Déclin du Califat Abbasside

La transition de la dynastie omeyyade à la dynastie abbasside en 750 après J.-C. représente un tournant majeur dans l'histoire islamique. La révolte qui a conduit à la chute des Omeyyades était largement soutenue par les musulmans qui cherchaient un changement, notamment les chiites et les non-Arabes (comme les Perses), qui s'étaient sentis marginalisés sous le règne omeyyade. Avec l'ascension des Abbassides, qui prétendaient descendre de l'oncle de Mahomet, Abbas ibn Abd al-Muttalib, le centre de pouvoir a été déplacé de Damas à Bagdad. Cette période, souvent considérée comme l'âge d'or de l'islam, a été marquée par des avancées significatives dans les domaines de la science, de la culture, de la philosophie, de la médecine et du droit. Les Abbassides ont favorisé le mécénat des sciences et des arts, attirant des savants, des artistes et des penseurs de tout l'empire et même au-delà.

Cependant, le califat abbasside a commencé à décliner vers la fin du 11ème siècle, en grande partie à cause des croisades. Ces guerres menées par les puissances chrétiennes européennes visaient à reprendre le contrôle des lieux saints en Terre Sainte. Bien que les croisades n'aient pas directement renversé les Abbassides, elles ont affaibli le califat en drainant ses ressources et en exacerbant les divisions internes. En parallèle, à partir du milieu du 13ème siècle, les invasions mongoles ont représenté une menace encore plus grande pour le monde islamique. Les Mongols, sous la conduite de chefs comme Gengis Khan et ses successeurs, ont conquis de vastes territoires en Asie, y compris des régions musulmanes.

Le point culminant de cette période de crise pour les Abbassides fut la prise de Bagdad par les Mongols en 1258, dirigée par Hulagu Khan. Cette conquête a non seulement marqué la fin du califat abbasside, mais a également entraîné une destruction massive et des pertes de vies humaines, mettant fin à l'âge d'or de la civilisation islamique. Ainsi, vers la fin du 13ème siècle, le monde islamique était profondément transformé, pris en étau entre les croisades à l'ouest et les invasions mongoles à l'est. Ces événements ont non seulement changé la structure politique de l'islam, mais ont également eu un impact durable sur son développement culturel, scientifique et religieux.

Entre 1258 et 1500, le monde musulman reste très fragile entre les croisades et les Mongoles. La création de l’Empire ottoman et l’empire Séfévides (1501-1736) vont le stabiliser.

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La carte représente la répartition géographique des trois grands empires musulmans du 16ème au 18ème siècle, souvent désignés comme les "Empires de la poudre à canon" en raison de leur utilisation innovante de la poudre à canon dans l'expansion militaire et la consolidation de leur pouvoir. Ces empires sont l'Empire ottoman, l'Empire safavide et l'Empire moghol. L'Empire ottoman, en vert, avec sa capitale à Constantinople (actuelle Istanbul), s'étendait sur l'Anatolie, le Moyen-Orient, une partie de l'Afrique du Nord et des Balkans en Europe. C'était un empire qui non seulement a utilisé la poudre à canon de manière révolutionnaire, mais qui a également laissé un héritage durable dans la région en termes d'architecture, d'administration et de culture. Le territoire en orange représente l'Empire safavide, centré en Perse (actuel Iran). Les Safavides sont notables pour avoir établi le chiisme duodécimain comme religion officielle de l'Empire, ce qui a contribué à façonner l'identité religieuse de la région. La capitale safavide était Ispahan, célèbre pour sa splendide architecture et son rôle en tant que centre des arts et du commerce. En violet, l'Empire moghol couvre une grande partie du sous-continent indien. Fondé par Babur, descendant de Tamerlan et Gengis Khan, l'Empire moghol est connu pour sa richesse, son mécénat des arts et de l'architecture – comme le célèbre Taj Mahal – et son administration relativement progressiste et pluraliste sous des empereurs comme Akbar. Cette carte illustre une période où ces empires dominaient la politique mondiale et le commerce, grâce en partie à leurs avancées militaires et à leur puissance économique. Leur héritage se retrouve dans les frontières modernes, les langues, la religion et la culture des régions qu'ils gouvernaient. La période des Empires de la poudre à canon a également été marquée par des échanges culturels et scientifiques importants, des guerres territoriales fréquentes et un commerce intercontinental florissant.

La prise du Caire par les Ottomans en 1517 est un autre jalon important dans l'histoire islamique, marquant l'expansion de l'Empire ottoman et sa revendication du titre de califat. Cette période marque le début de l'hégémonie ottomane sur une grande partie du monde musulman, qui allait durer plusieurs siècles. Sous la direction de Selim Ier, les Ottomans ont vaincu le Sultanat mamelouk d'Égypte et de Syrie, étendant ainsi leur empire au Moyen-Orient, en Afrique du Nord, et dans certaines parties de l'Europe. Avec cette expansion, Selim Ier a revendiqué le titre de calife, affirmant ainsi non seulement un pouvoir politique, mais aussi une autorité religieuse sur les musulmans sunnites. Le transfert du centre du califat à Istanbul, la capitale ottomane, a renforcé la position de l'Empire ottoman comme une puissance majeure à la fois dans le monde islamique et sur la scène internationale. Cependant, à la fin du 19ème siècle, l'Empire ottoman était en déclin. Confronté à des défis internes et externes, y compris la montée du nationalisme parmi ses territoires, la concurrence des puissances européennes, et des problèmes économiques, l'empire a commencé à perdre son influence et son territoire.

Malgré ce déclin, l'Empire ottoman a conservé le titre de califat jusqu'à son abolition. Le titre de calife, bien qu'ayant perdu une grande partie de sa signification politique effective, conservait une importance symbolique et religieuse. Le calife était toujours considéré par de nombreux musulmans comme le chef spirituel de la communauté sunnite, même si cette position n'était plus soutenue par une puissance politique ou militaire substantielle. La fin de l'Empire ottoman et l'abolition du califat après la Première Guerre mondiale en 1924 par la République de Turquie, sous Mustafa Kemal Atatürk, ont marqué la fin d'une ère dans l'histoire islamique. Cela a laissé un vide en termes de leadership religieux sunnite qui continue d'influencer les dynamiques politiques et religieuses dans le monde musulman contemporain.

L'Abolition du Califat et la Modernisation de la Turquie

L'abolition du califat en 1924 par Mustafa Kemal Atatürk, le fondateur de la République de Turquie, représente un moment décisif dans l'histoire moderne du monde musulman. Cette décision a marqué la fin officielle de l'institution du califat, qui avait été une caractéristique centrale de la gouvernance islamique pendant près de treize siècles. Mustafa Kemal Atatürk, un leader réformateur et visionnaire, était déterminé à moderniser et séculariser la Turquie dans le sillage de la chute de l'Empire ottoman après la Première Guerre mondiale. Dans le cadre de ses réformes radicales, il a cherché à transformer la Turquie en un État-nation laïc, s'éloignant des structures et des idéologies de l'Empire ottoman. L'abolition du califat était une étape clé dans ce processus. En mars 1924, l'Assemblée nationale turque a abrogé le califat, expulsant le dernier calife, Abdülmecid II, et marquant ainsi la fin de l'une des institutions les plus anciennes et les plus symboliques de l'islam. Cette décision a été motivée par le désir d'Atatürk de promouvoir une identité turque nationale et de réduire l'influence de l'islam sur la politique de l'État.

L'abolition du califat a eu un impact profond sur le monde musulman. Elle a laissé un vide en matière de leadership religieux dans l'islam sunnite et a soulevé des questions sur l'autorité religieuse et politique dans l'islam. De nombreux musulmans à travers le monde ont été choqués par cette décision, et elle a suscité des débats sur la nature du leadership dans l'islam et le rôle de la religion dans la société moderne. Depuis lors, aucun État ou mouvement n'a réussi à rétablir le califat de manière largement reconnue, bien que le concept de califat ait continué à occuper une place importante dans le discours islamique. L'abolition du califat par Atatürk reste un événement significatif dans l'histoire de l'islam et continue d'influencer les discussions sur la relation entre l'islam et l'État dans le monde musulman contemporain.

L'Émergence et la Chute de l'État Islamique de Daesh

Entre 2014 et 2019, un événement marquant a eu lieu dans le contexte contemporain de l'islam avec l'autoproclamation d'Abu Bakr al-Baghdadi en tant que calife. Al-Baghdadi, le leader de l'État islamique en Irak et en Syrie (EIIS), également connu sous le nom de Daesh, a déclaré la formation d'un califat sur les territoires sous contrôle de son organisation en Irak et en Syrie. Cette proclamation, faite en juin 2014, a été largement rejetée par la communauté musulmane mondiale, tant les dirigeants religieux que les gouvernements. Les actions et l'idéologie de Daesh ont été condamnées comme étant en contradiction flagrante avec les principes et les enseignements de l'islam. La brutalité et l'extrémisme de Daesh, notamment ses actes de violence, ses exécutions de masse, et ses violations des droits de l'homme, ont été universellement dénoncés.

Le prétendu califat de Daesh a tenté d'établir une gouvernance basée sur une interprétation extrême et littérale de la loi islamique, mais a suscité l'opposition et l'hostilité à la fois au niveau local et international. Une coalition internationale, comprenant de nombreux pays musulmans, a été formée pour combattre Daesh, aboutissant à la perte progressive de son territoire et à l'affaiblissement significatif de l'organisation. En octobre 2019, Abu Bakr al-Baghdadi a été tué lors d'une opération militaire américaine en Syrie, un coup porté à la direction de Daesh et symbolisant la fin effective de son soi-disant califat. Cette période a mis en lumière les défis auxquels est confronté le monde musulman contemporain, notamment en ce qui concerne les questions d'extrémisme, de gouvernance et de l'identité islamique. La tentative d'Al-Baghdadi de revivifier le concept de califat a été perçue comme une distorsion des principes islamiques et a soulevé des questions importantes sur l'avenir de la gouvernance et de l'autorité religieuse dans l'islam.

Période Préislamique et l'Ère de l'Ignorance: "Jahiliya"

La notion de "Jahiliya" dans l'islam est un concept clé pour comprendre la perception musulmane de l'histoire et de la société. Jahiliya, qui se traduit littéralement par "période d'ignorance", fait référence à l'époque préislamique en Arabie, avant la révélation du Coran au prophète Mahomet au 7ème siècle. Cette période est souvent caractérisée, dans les sources islamiques, comme une époque de ténèbres morales et spirituelles. La Jahiliya est associée à des pratiques considérées incompatibles avec les enseignements de l'islam, telles que le polythéisme, l'injustice sociale, la décadence morale, et les conflits tribaux. Le message de l'islam, avec son accent sur le monothéisme, l'éthique, la justice sociale et la formation d'une communauté unie sous la foi en un seul Dieu, est donc vu comme une rupture radicale avec les traditions et les pratiques de la Jahiliya.

Dans le discours islamique contemporain, le terme Jahiliya est parfois utilisé pour décrire des situations ou des sociétés perçues comme étant éloignées des principes islamiques, même au-delà du contexte arabe préislamique. Certains intellectuels et penseurs musulmans ont utilisé le concept de Jahiliya pour critiquer ce qu'ils considèrent être des aspects corrompus ou non islamiques de la société moderne, y compris dans les sociétés musulmanes elles-mêmes. Cependant, cette utilisation du terme Jahiliya dans un contexte contemporain est souvent controversée et fait l'objet de débats au sein de la communauté musulmane. Pour la majorité des musulmans, la Jahiliya reste principalement un concept historique, se référant spécifiquement à l'Arabie préislamique et à ses traditions. La Jahiliya est une notion importante dans l'islam, car elle symbolise non seulement un passé historique, mais aussi un état d'être que l'islam cherche à transcender à travers ses enseignements sur la spiritualité, la morale, et la communauté. Sur le plan spatial, Dar al Islam (pays de l’Islam) et Dar al Harb (pays de guerre). Il existe aussi une différence entre les gens : ceux du livre (Al-Kithab), adhérant aux religions monothéistes et invité à adhérer à l’Islam et les autres (qui disparaissent).

Le Statut des Non-Musulmans en Islam: "Dhimmi"

Dans le contexte historique de l'islam classique, le concept de "Dhimmi" est une notion importante pour comprendre comment les sociétés musulmanes ont interagi avec les non-musulmans. Les Dhimmis sont les citoyens non-musulmans vivant dans un État islamique, bénéficiant d'une protection spéciale et de certains droits en vertu de la loi islamique, tout en étant soumis à certaines restrictions et obligations. Selon les principes de la Charia (loi islamique), les Dhimmis étaient principalement des adhérents de religions monothéistes telles que le christianisme et le judaïsme. Ils étaient autorisés à pratiquer leur religion, à administrer leurs propres affaires communautaires et étaient protégés par l'État musulman. En échange de cette protection et du droit de pratiquer leur religion, les Dhimmis devaient payer une taxe spéciale appelée "jizya". La jizya était perçue comme un symbole de la soumission des Dhimmis à l'autorité musulmane et en échange de l'exemption du service militaire, qui était obligatoire pour les citoyens musulmans.

Cette approche était en partie basée sur les enseignements du Coran et de la Sunna (tradition du Prophète Mahomet), qui préconisent la tolérance envers les "gens du Livre" (Ahl al-Kitab), terme utilisé pour désigner les juifs et les chrétiens, qui, comme les musulmans, adhèrent à des écritures révélées. Il est important de noter que l'application de ces principes a varié au fil du temps et selon les régions. Dans certaines périodes et régions, les Dhimmis jouissaient d'une liberté et d'une tolérance considérables, tandis que dans d'autres contextes, ils pouvaient être soumis à des restrictions plus strictes et à des discriminations.

Avec le déclin des empires traditionnels islamiques et la montée des États-nations modernes, le statut de Dhimmi a progressivement perdu son importance pratique. Dans le monde musulman contemporain, les principes de citoyenneté et de droits égaux, indépendamment de la religion, ont largement remplacé le système traditionnel de Dhimma. Cependant, le concept historique de Dhimma reste un sujet d'intérêt et de débat parmi les chercheurs et les penseurs, à la fois pour comprendre l'histoire de l'islam et pour ses implications sur les relations interreligieuses contemporaines.

Tolérance et Traitement des "Gens du Livre"

Le concept des "Gens du Livre" (Ahl al-Kitab) dans l'islam, qui fait référence principalement aux Juifs et aux Chrétiens, est centré sur la tolérance plutôt que sur l'égalité au sens moderne du terme. Dans les sociétés islamiques médiévales, ce statut était une manière de reconnaître et de respecter la présence de communautés religieuses non-musulmanes au sein de l'État islamique, tout en établissant un cadre légal spécifique pour leur intégration et leur interaction avec la majorité musulmane.

Les principes de la Charia (loi islamique) accordent aux Gens du Livre certains droits et protections en tant que communautés monothéistes possédant des écritures révélées. Ils étaient autorisés à pratiquer leur religion, à maintenir leurs lieux de culte, et à être jugés selon leurs propres lois en matière de mariage, de divorce et d'autres affaires personnelles. Cependant, ce statut n'impliquait pas l'égalité complète avec les musulmans dans le cadre politique et social de l'époque. Les Dhimmis (les non-musulmans vivant sous protection musulmane) devaient payer une taxe spéciale, la jizya, et étaient souvent soumis à certaines restrictions légales et sociales. Par exemple, ils pouvaient être limités dans la construction de nouveaux lieux de culte ou la manifestation publique de leur foi. Ils étaient également exemptés du service militaire, qui était obligatoire pour les musulmans.

Il est important de souligner que la mise en œuvre et l'interprétation de ces règles variaient considérablement selon les époques et les régions. Dans certains contextes historiques, les communautés des Gens du Livre ont prospéré sous la domination musulmane, contribuant de manière significative à la société, à la culture, et à l'économie. Dans d'autres cas, elles ont pu faire face à des restrictions plus sévères et à des discriminations. Dans le contexte contemporain, le concept des Gens du Livre et le statut de Dhimmi ont perdu une grande partie de leur pertinence pratique, les États musulmans modernes s'orientant généralement vers des principes de citoyenneté et d'égalité des droits, indépendamment de la religion. Néanmoins, ces concepts historiques restent importants pour comprendre la façon dont les sociétés islamiques médiévales géraient la diversité religieuse et les relations intercommunautaires.

Divergences et Points Communs: Sunnisme vs Chiisme

La Tradition Chiite et ses Différentes Interprétations

Pour les chiites, la légitimité du leadership après la mort de Mahomet repose sur le principe de la désignation divine et la lignée familiale du Prophète. Ils croient que le califat aurait dû revenir à Ali ibn Abi Talib, cousin et gendre de Mahomet, et à ses descendants, les imams. Les chiites considèrent que ces imams, issus de la lignée d'Ali et de Fatima (la fille de Mahomet), possèdent une autorité spirituelle et temporelle unique en raison de leur lien de sang avec Mahomet et leur désignation divine. Cette croyance a donné naissance à une forte culture du martyr au sein du chiisme, notamment en raison des tragédies et des persécutions subies par Ali et ses descendants, en particulier Husayn ibn Ali, tué lors de la bataille de Kerbala. Le martyr de Husayn est un élément central du chiisme, symbolisant la lutte contre l'injustice et la tyrannie.

D'un autre côté, la majorité sunnite de l'islam ne reconnaît pas l'autorité religieuse héréditaire des imams chiites. Pour les sunnites, le calife doit être choisi par consensus ou élection parmi la communauté musulmane (Ummah) et n'a pas besoin d'être un descendant direct de Mahomet. Les sunnites se concentrent sur la Sunna, les enseignements et les pratiques de Mahomet, comme source d'autorité religieuse, et rejettent l'idée qu'une autorité intermédiaire spécifique soit nécessaire entre Dieu et le croyant. Pour eux, les érudits religieux (oulémas) et juristes (fuqaha) jouent un rôle important dans l'interprétation du Coran et de la Sunna, mais ils ne sont pas considérés comme ayant une autorité divine ou infaillible. Ces différences entre chiites et sunnites en termes de leadership, d'autorité et d'interprétation religieuse sont à la base de nombreuses divergences théologiques, rituelles et politiques qui caractérisent ces deux principales branches de l'islam.

Le chiisme est subdivisé en plusieurs branches, chacune avec sa propre interprétation de la succession des imams après Ali ibn Abi Talib, le premier imam selon les chiites. Les Zaydites, principalement présents au Yémen, reconnaissent Zayd ibn Ali, le petit-fils de Husayn, comme leur cinquième imam. Ils diffèrent des autres chiites en n'exigeant pas que l'imam soit un descendant direct de Husayn par son fils aîné. Les Zaydites ont joué un rôle important dans l'histoire du Yémen et continuent d'influencer la politique yéménite. Les Ismaéliens, quant à eux, suivent la lignée des imams jusqu'au septième, Ismaïl ibn Jafar, d'où ils tirent leur nom. Ils divergent du chiisme duodécimain après le sixième imam, Jafar al-Sadiq, en reconnaissant Ismaïl comme l'imam légitime suivant. Les Ismaéliens sont connus pour leur interprétation ésotérique du Coran et leur riche tradition intellectuelle. Cette branche a donné naissance à l'ordre des Assassins au Moyen Âge et est aujourd'hui représentée par l'Aga Khan.

Le chiisme duodécimain, majoritaire parmi les chiites actuels, reconnaît une succession de douze imams, le dernier étant Muhammad al-Mahdi. Né en 868, le douzième imam, selon les croyances duodécimaines, est entré en occultation en 941. Les duodécimains croient qu'il reviendra à la fin des temps en tant que Mahdi, pour établir la justice et la paix. Cette croyance en l'Imam caché est un élément central de la théologie duodécimaine et joue un rôle important dans l'attente eschatologique des chiites. Ainsi, le chiisme, avec ses différentes branches, représente une riche et diverse tradition au sein de l'islam, caractérisée par une emphase particulière sur la figure de l'imam, la spiritualité, et l'attente du retour du Mahdi.

L’Islam sunnite: Écoles Juridiques et Théologiques

Dans l'islam sunnite, la diversité des interprétations jurisprudentielles et théologiques a donné naissance à plusieurs écoles de pensée, connues sous le nom de Madhahib. Ces écoles ne représentent pas des divisions sectaires, mais plutôt des approches méthodologiques différentes dans l'interprétation de la Charia, la loi islamique. Les quatre principales écoles sont les Hanafites, les Malékites, les Chaféites et les Hanbalites.

L'école Hanafite, fondée par Abu Hanifa au 8ème siècle, est renommée pour son approche rationnelle de la jurisprudence. Abu Hanifa, un pionnier dans le domaine de la fiqh (jurisprudence islamique), a souligné l'importance de la raison et de l'opinion personnelle (ra'y) dans l'interprétation des textes religieux. Cette école est particulièrement influente en Asie du Sud, en Turquie et dans les Balkans. La Malékite, établie par Malik ibn Anas, met l'accent sur les pratiques et les traditions de la communauté de Médine, considérée comme un modèle de société islamique, car c'est là que le prophète Mahomet a passé les dernières années de sa vie. Prédominante en Afrique du Nord et dans certaines régions d'Afrique subsaharienne, cette école se distingue par son adhésion aux hadiths, les récits des actes et paroles du prophète. Al-Chafii, fondateur de l'école Chaféite au début du 9ème siècle, a introduit un système rigoureux qui combinait la tradition (hadith) avec l'analogie (qiyas) et le consensus (ijma). Ses enseignements ont joué un rôle crucial dans la codification de la jurisprudence islamique. Cette école est largement suivie en Égypte, en Asie du Sud-Est et dans certaines parties de l'Afrique de l'Est. Enfin, l'école Hanbalite, initiée par Ahmad ibn Hanbal, est considérée comme la plus conservatrice des quatre. Ibn Hanbal était un ardent défenseur des hadiths comme source principale de la loi islamique, rejetant l'usage de la raison humaine dans l'interprétation des textes sacrés. Son école a eu une influence notable en Arabie Saoudite et dans les pays du Golfe.

Ces écoles juridiques reflètent la diversité et la richesse de la pensée islamique sunnite. Elles ont contribué à façonner la manière dont les musulmans comprennent et pratiquent leur foi à travers les siècles. Bien qu'il existe des différences entre ces écoles en termes de méthodologies et de conclusions jurisprudentielles, elles partagent un respect mutuel et sont toutes reconnues comme des interprétations valables de la loi islamique dans le monde sunnite. Cette diversité reflète la capacité de l'islam à s'adapter à différents contextes culturels et historiques, tout en maintenant un cadre cohérent de croyance et de pratique.

Le Moyen-Orient, riche en diversité culturelle et religieuse, abrite plusieurs groupes religieux qui, bien que partageant des racines avec l'islam chiite, ont développé des croyances et des pratiques distinctives. Ces groupes, souvent étiquetés comme syncrétiques ou hétérodoxes, comprennent les Alawites en Syrie, les Qizilbash en Iran et en Anatolie, les Druzes principalement au Liban, en Syrie et en Israël, et les Alévis en Turquie.

Les Alawites, concentrés en Syrie, ont évolué à partir du chiisme duodécimain et ont intégré des éléments du gnosticisme, du christianisme et d'autres traditions. Leur vénération d'Ali, qu'ils considèrent comme une manifestation divine, ainsi que d'autres aspects de leur théologie, les distinguent des courants principaux de l'islam. Cette croyance particulière en Ali a souvent été source de tensions avec les communautés sunnites et chiites traditionnelles. Les Qizilbash, originaires d'Anatolie et d'Iran, ont joué un rôle déterminant dans l'établissement de l'Empire safavide en Iran, et leur pratique du chiisme vénérait la famille royale safavide. Le terme "Qizilbash" a été utilisé historiquement pour désigner une variété de groupes chiites turcs, caractérisés par leur loyauté envers les Safavides. Les Druzes, dont la présence est notable au Liban, en Syrie et en Israël, ont émergé du chiisme ismaélien au 11ème siècle. Leur foi intègre la croyance en la réincarnation et d'autres doctrines uniques, et ils pratiquent un certain degré de secret religieux. Les Druzes ne cherchent pas à convertir d'autres personnes et se concentrent sur leur propre communauté. En Turquie, les Alévis forment un groupe distinct, mélangeant des éléments du chiisme, du soufisme et des traditions anatoliennes préislamiques. Ils valorisent l'amour, la tolérance et la spiritualité, et se distinguent des pratiques orthodoxes sunnites et chiites par leurs rites de culte et leurs croyances.

Ces communautés, avec leurs pratiques uniques et leurs interprétations théologiques, illustrent la richesse de la mosaïque religieuse du Moyen-Orient. Leurs traditions, souvent marquées par un syncrétisme de croyances et de pratiques, reflètent les influences historiques, culturelles et religieuses de la région. Bien que parfois considérées avec suspicion ou hostilité par les courants islamiques plus orthodoxes, ces communautés continuent de jouer un rôle important dans le tissu social et culturel de leurs pays respectifs, témoignant de la diversité et de la complexité des paysages religieux du Moyen-Orient.

Annexes

Références