« Línguas, religiões e culturas no Médio Oriente » : différence entre les versions

De Baripedia
Ligne 318 : Ligne 318 :
Estas comunidades, com as suas práticas e interpretações teológicas únicas, ilustram o rico mosaico religioso do Médio Oriente. As suas tradições, frequentemente marcadas por um sincretismo de crenças e práticas, reflectem as influências históricas, culturais e religiosas da região. Embora por vezes vistas com desconfiança ou hostilidade pelas correntes islâmicas mais ortodoxas, estas comunidades continuam a desempenhar um papel importante no tecido social e cultural dos respectivos países, testemunhando a diversidade e a complexidade das paisagens religiosas do Médio Oriente.
Estas comunidades, com as suas práticas e interpretações teológicas únicas, ilustram o rico mosaico religioso do Médio Oriente. As suas tradições, frequentemente marcadas por um sincretismo de crenças e práticas, reflectem as influências históricas, culturais e religiosas da região. Embora por vezes vistas com desconfiança ou hostilidade pelas correntes islâmicas mais ortodoxas, estas comunidades continuam a desempenhar um papel importante no tecido social e cultural dos respectivos países, testemunhando a diversidade e a complexidade das paisagens religiosas do Médio Oriente.


= Anhänge =
= Anexos =
*Ayalon, Ami. [https://books.google.fr/books?hl=en&lr=&id=JbE5AAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=middle+east+language&ots=Wvo91NYiRt&sig=T6p5vSXqeD6V7QCU16TD8_ZSGJ4 Language and change in the Arab Middle East: the evolution of modern political discourse]. Oxford University Press on Demand, 1987.
*Ayalon, Ami. [https://books.google.fr/books?hl=en&lr=&id=JbE5AAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=middle+east+language&ots=Wvo91NYiRt&sig=T6p5vSXqeD6V7QCU16TD8_ZSGJ4 Language and change in the Arab Middle East: the evolution of modern political discourse]. Oxford University Press on Demand, 1987.
*Myhill, John. [https://books.google.fr/books?hl=en&lr=&id=JbE5AAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=middle+east+language&ots=Wvo91NYiRt&sig=T6p5vSXqeD6V7QCU16TD8_ZSGJ4 Language, religion and national identity in Europe and the Middle East: a historical study]. Vol. 21. John Benjamins Publishing, 2006.
*Myhill, John. [https://books.google.fr/books?hl=en&lr=&id=JbE5AAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=middle+east+language&ots=Wvo91NYiRt&sig=T6p5vSXqeD6V7QCU16TD8_ZSGJ4 Language, religion and national identity in Europe and the Middle East: a historical study]. Vol. 21. John Benjamins Publishing, 2006.


= Referenzen =
= Referências =
<references/>
<references/>

Version du 26 décembre 2023 à 11:17

Basado en un curso de Yilmaz Özcan.[1][2]

A região do Médio Oriente, berço de civilizações antigas e cruzamento de rotas comerciais históricas, caracteriza-se por uma notável diversidade linguística, religiosa e cultural. Esta diversidade é o fruto de uma história rica e complexa, moldada por inúmeros povos, impérios e movimentos.

Do ponto de vista linguístico, o Médio Oriente é uma manta de retalhos de línguas, com o árabe a predominar em países como o Egipto e a Arábia Saudita. O persa, ou farsi, é a base linguística do Irão, reflectindo a herança do Império Persa, enquanto o turco, a língua oficial da Turquia, testemunha a influência otomana. O hebraico, uma língua ancestral que sofreu uma ressurreição única com a criação do Estado de Israel em 1948, e o curdo, falado em regiões que vão do norte do Iraque ao sudeste da Turquia, completam a paisagem linguística. No plano religioso, predomina o Islão, com ramificações como o sunismo e o xiismo. Figuras históricas como o califa Omar, que reinou de 634 a 644 d.C., e Ali, genro do profeta Maomé, encarnam o início destas divisões. O cristianismo, que está presente desde as suas origens, viu comunidades como os coptas no Egipto perdurarem apesar das mudanças políticas e sociais. Em Israel, o judaísmo é central, ilustrado por figuras históricas como David Ben-Gurion, o principal fundador do Estado de Israel.

A cultura do Médio Oriente, profundamente influenciada por estas diversidades linguísticas e religiosas, é rica em expressões artísticas, musicais e culinárias. Por exemplo, a arte islâmica, com os seus complexos padrões geométricos, reflecte as proibições religiosas de representações figurativas. A música árabe clássica, transportada por ícones como Oum Kalthoum, influenciou a cultura regional muito para além das fronteiras linguísticas. Festividades como o Ramadão e o Nowruz persa são exemplos de como as tradições religiosas e culturais se entrelaçaram para formar práticas únicas.

Diversidade linguística no Médio Oriente

A diversidade linguística do Médio Oriente é uma das suas características mais distintivas, ilustrada pela presença de três grandes famílias linguísticas: Ural-Altaica, Indo-Europeia e Semítica.

Panorama linguístico do Médio Oriente

A família Ural-Altaica inclui as línguas faladas numa grande parte da Ásia e em certas regiões da Europa de Leste. No contexto do Médio Oriente, esta família é representada principalmente pelo turco, a língua oficial da Turquia, que testemunha a expansão dos povos turcos e a influência histórica do Império Otomano na região. Outras línguas, como o azeri, falado no Azerbaijão e por certas comunidades do Irão, também pertencem a esta família. A família indo-europeia, que é uma das maiores e mais diversificadas do mundo, inclui línguas como o persa, o curdo e o arménio. O persa, em particular, é de grande importância histórica e cultural, sendo a língua do antigo Império Persa e do Irão moderno. O curdo, falado pelo povo curdo espalhado pelo Iraque, Irão, Síria e Turquia, e o arménio, a língua da Arménia e da diáspora arménia, completam esta riqueza linguística. Por último, a família das línguas semíticas é crucial no contexto do Médio Oriente. O árabe, a língua do Corão e a língua franca de muitos países árabes, é a mais difundida desta família. O hebraico, uma língua antiga que conheceu um renascimento moderno com a criação do Estado de Israel, e outras línguas como o aramaico e o assírio, embora menos faladas, têm uma importância histórica e cultural significativa.

A language map of the Middle East (Izady).png

Este mapa colorido mostra as línguas faladas no Médio Oriente e ilustra a densidade populacional das regiões onde essas línguas predominam. Distingue as línguas por família linguística e por concentração populacional nas regiões em causa.

A expansão e a influência da língua árabe

As áreas amarelas representam regiões densamente povoadas onde o árabe é predominante. Incluem-se aqui países como o Egipto, a Arábia Saudita, o Iémen, a Jordânia, o Líbano e outros. O árabe é a principal língua do grupo das línguas semíticas e é falado em toda a Península Arábica e não só. O mapa ilustra a predominância do árabe nas áreas de cor amarela, o que indica uma elevada densidade populacional nestas regiões. A língua árabe, pertencente ao grupo das línguas semíticas, é não só uma língua oficial, mas também parte integrante da identidade cultural e religiosa do Médio Oriente.

O árabe espalhou-se muito para além da Península Arábica, nomeadamente através das conquistas islâmicas a partir do século VII, tornando-se uma das línguas mais influentes da região. Atualmente, é falado em muitos países do Médio Oriente e do Norte de África. Em países como o Egipto, onde a civilização remonta a milhares de anos, o árabe suplantou línguas antigas como o egípcio antigo, tornando-se a língua da maioria da população. Na Arábia Saudita, berço do Islão e onde se situam as duas cidades sagradas de Meca e Medina, o árabe reveste-se de particular importância, tanto do ponto de vista religioso como cultural. Noutras regiões, como o Iémen e a Jordânia, o árabe é falado numa variedade de dialectos, o que reflecte a diversidade intrínseca da língua. O Líbano, conhecido pela sua diversidade cultural e religiosa, tem também um mosaico de dialectos árabes, influenciado por muitas outras línguas ao longo da sua história. Desta forma, o mapa confirma que o árabe não só serve como língua de comunicação quotidiana, mas também desempenha um papel essencial na preservação e transmissão da cultura e da história em todo o Médio Oriente.

O mosaico linguístico indo-europeu e semítico

As zonas verdes do mapa indicam a presença de línguas indo-europeias, que testemunham a diversidade etnolinguística e histórica do Médio Oriente. O persa, por exemplo, é a língua oficial do Irão e tem uma influência cultural e literária considerável. Trata-se de uma língua que remonta ao antigo Império Aqueménida, o que testemunha a profundidade histórica da região. O curdo, por seu lado, é falado em áreas geograficamente descontínuas, principalmente nas montanhas do Curdistão, que atravessam várias fronteiras nacionais modernas, incluindo a Turquia, o Iraque, o Irão e a Síria. O curdo é a língua materna da população curda, que manteve a sua língua e cultura apesar da pressão da assimilação e das mudanças políticas na região. O arménio, falado na Arménia e pela diáspora arménia, é outra importante língua indo-europeia que sobreviveu apesar das perturbações históricas, incluindo o genocídio arménio no início do século XX. O arménio tem o seu próprio alfabeto único, criado no século V, que é um elemento-chave da identidade nacional arménia. Estas "ilhas" de línguas indo-europeias não só representam a distribuição geográfica dos grupos étnicos, como também reflectem os complexos movimentos migratórios e as interacções históricas que moldaram o Médio Oriente. As línguas são vectores da cultura e da memória colectiva, e a sua distribuição oferece-nos um vislumbre das histórias de resiliência, adaptação e preservação cultural numa região marcada por uma grande dinâmica de mudança.

O mapa destaca as regiões onde predominam as línguas turcas, simbolizadas por diferentes tons de vermelho. Estas línguas pertencem à família linguística Ural-Altaica e são faladas por povos cuja história e cultura foram profundamente marcadas pela migração e pelos impérios turcos. O turco, a língua nacional da Turquia, é o representante mais notável desta família e é o resultado direto da herança do Império Otomano, que no seu apogeu se estendia por vastas áreas do Médio Oriente, do Sudeste da Europa e do Norte de África. O Império Otomano não só espalhou a sua língua, como também a sua cultura, administração e influência religiosa pelos seus territórios. O azeri, falado no Azerbaijão e por algumas comunidades no Irão, está estreitamente relacionado com o turco e representa outro ramo importante das línguas turcas na região. Estas comunidades partilham laços culturais e históricos com a Turquia e outros povos turcos.

Outras línguas turcas, embora menos representadas, são faladas em regiões adjacentes, incluindo partes da Rússia, da Ásia Central e do Cáucaso. Estas línguas, embora distintas, partilham características comuns devido às suas origens e desenvolvimento histórico semelhantes. A presença destas línguas turcas é testemunho do impacto dos movimentos de populações nómadas das estepes da Ásia Central, que atravessaram o Médio Oriente e deixaram uma marca linguística e cultural indelével na região. Estas línguas e os seus falantes continuam a desempenhar um papel importante na diversidade étnica e cultural do Médio Oriente moderno.

O mapa destaca as línguas caucasianas e outras línguas minoritárias, representadas em tons de castanho e cinzento, que revelam um aspeto frequentemente ignorado da diversidade linguística do Médio Oriente. Estas línguas são características de regiões que, embora menos densamente povoadas, são ricas em variedade linguística e cultural. O Cáucaso é particularmente notável pela sua complexidade linguística. Línguas como o georgiano, que tem o seu próprio sistema de escrita, o kartveliano, são endémicas desta região. A Geórgia, com a sua história e cultura distintas, é um exemplo notável de como as línguas podem encapsular a identidade de uma nação.

Para além do georgiano, existem outras línguas caucasianas que não são faladas em mais nenhum lugar do mundo, como o abecásio e o ossétio. Estas línguas, muitas vezes isoladas geográfica e historicamente, sobreviveram e desenvolveram-se de forma independente, dando origem a características linguísticas únicas. A sua sobrevivência testemunha a resistência cultural dos povos do Cáucaso face a séculos de mudanças políticas e sociais. As línguas minoritárias, por outro lado, podem incluir variedades linguísticas faladas por pequenas comunidades e reflectem frequentemente um rico património cultural e tradições distintas. Embora estas línguas sejam menos dominantes em termos de número de falantes, desempenham um papel crucial na preservação da diversidade cultural e do património imaterial da região. Assim, a distribuição das línguas caucasianas e minoritárias no mapa é um lembrete de que o Médio Oriente é uma região não só de conflito e comércio, mas também de profunda riqueza linguística e cultural, muitas vezes esquecida nas narrativas globais.

Este mapa não é apenas um retrato da diversidade linguística; sugere também histórias de colonização, comércio, conquista e cultura. A distribuição das línguas e dos povos no Médio Oriente foi influenciada por factores geográficos, impérios históricos, movimentos migratórios e mudanças políticas. As línguas, enquanto veículos da cultura, reflectem estas dinâmicas complexas e a sua compreensão é essencial para entender a riqueza da história e da cultura da região. As línguas representadas no mapa não são meros instrumentos de comunicação; elas incorporam a alma das civilizações que as falam. Cada língua é o reflexo de uma identidade cultural, transportando tradições, poesia, histórias e filosofias que foram tecidas ao longo dos séculos. A literatura persa, por exemplo, caracteriza-se pelas obras de poetas como Hafez e Rumi, que influenciaram não só a sua região natal, mas também o pensamento e a literatura mundiais.

As línguas turcas, com epopeias como Dede Korkut, transmitem os valores e as histórias dos povos nómadas das estepes, e as línguas caucasianas têm histórias orais que testemunham a sua resistência à conquista e ao império. Mesmo as línguas minoritárias, que podem ser faladas apenas por pequenas comunidades, são os repositórios de culturas únicas, oferecendo uma janela para modos de vida e sistemas de crenças que são frequentemente distintos dos das culturas dominantes. O mapa linguístico do Médio Oriente é, assim, um mosaico vivo, em que cada cor representa não só um grupo de falantes, mas também um capítulo da história humana. As migrações, as conquistas e o comércio moldaram esta região, mas foram as línguas e as culturas que sobreviveram e continuam a contar a história dos seus povos. São o elo entre o passado, o presente e o futuro, perpetuando o património e continuando a evoluir através das interacções contemporâneas.

Dialectos e línguas minoritárias: um património cultural vivo

A diversidade dialetal das línguas maioritárias do Médio Oriente é uma riqueza que é frequentemente subestimada. Tomemos como exemplo o turco; embora exista uma língua padrão ensinada nas escolas e utilizada nos meios de comunicação social e na política, coexistem muitos dialectos regionais que reflectem a história e a cultura de diferentes partes da Turquia. Estes dialectos podem variar consideravelmente do turco padrão em termos de pronúncia, vocabulário e mesmo de gramática. O árabe é talvez um dos exemplos mais marcantes desta diversidade dialetal. O árabe literário, ou árabe padrão moderno, é universalmente compreendido e utilizado na escrita e no discurso formal, mas na vida quotidiana as pessoas falam numa série de dialectos que podem ser tão diferentes uns dos outros que os falantes de regiões distantes têm por vezes dificuldade em se entender. Estes dialectos reflectem não só a região geográfica, mas também as influências históricas, como as dos otomanos, dos persas e dos franceses no Levante. O curdo também se divide em vários dialectos principais, como o curmandji, o sorani e o pehlewani, cada um com as suas próprias variantes regionais. As diferenças entre estes dialectos curdos são tão grandes que, por vezes, levaram à reivindicação de um estatuto linguístico distinto. Quanto ao arménio, embora exista uma língua arménia padrão, os arménios de todo o mundo também falam diferentes dialectos, muitas vezes influenciados pelas línguas das regiões para onde emigraram ou se dispersaram ao longo do tempo. Para além destas línguas principais, existem cerca de 20 línguas minoritárias no Médio Oriente, que reflectem uma história humana complexa de intercâmbio, migração e adaptação. Estas línguas podem ser faladas por pequenas comunidades, mas transportam consigo uma história e uma cultura que merecem ser reconhecidas e preservadas. A sua existência num contexto linguisticamente tão rico é mais uma prova de como as línguas evoluem e se adaptam aos contextos em que são faladas, muitas vezes em paralelo com as línguas dominantes da região.

Línguas e identidade nacional: entre a política e a cultura

Os movimentos populacionais e a religião têm sido poderosos vectores na difusão e evolução das línguas no Médio Oriente, tal como no resto do mundo. Historicamente, a migração tem desempenhado um papel crucial na dispersão das línguas. Por exemplo, as invasões árabes do século VII, impulsionadas pela expansão do Islão, espalharam a língua árabe pelo Médio Oriente e pelo Norte de África. Esta expansão não só difundiu a língua árabe, como também integrou e influenciou as línguas locais, dando origem a uma multiplicidade de dialectos árabes distintos. Do mesmo modo, a expansão dos impérios turcos, em particular do Império Otomano, alargou as línguas turcas e estabeleceu o turco otomano (uma forma de turco influenciada pelo persa e pelo árabe) como língua administrativa e literária em todo o Médio Oriente, nos Balcãs e no Norte de África. As religiões também facilitaram a adoção e a normalização das línguas. O árabe, enquanto língua do Corão, tornou-se um elo linguístico entre os muçulmanos de todo o mundo, alargando a sua utilização para além das fronteiras tradicionais de língua árabe. Do mesmo modo, os textos religiosos judaicos e cristãos ajudaram a preservar o hebraico e o aramaico, mesmo quando estas línguas já não eram faladas no quotidiano. As línguas do Médio Oriente não são estáticas; são o resultado de uma interação constante entre os povos, as suas crenças e as suas histórias. As línguas espalharam-se através do comércio, da conquista, da colonização e da conversão, moldando a complexa paisagem linguística que vemos atualmente.

A formação de Estados-nação no Médio Oriente moderno teve um impacto considerável nas práticas linguísticas. Ao estabelecerem uma ou mais línguas oficiais, os Estados procuraram frequentemente promover uma identidade nacional unificada e facilitar a comunicação e a administração dentro das suas fronteiras. Esta política linguística pode conduzir a um sentimento de nacionalismo exacerbado, em que a língua oficial se torna um símbolo de unidade nacional e um fator-chave da identidade colectiva. Por exemplo, a promoção do turco padrão na Turquia após a queda do Império Otomano e a criação da República Turca em 1923 tinha como objetivo unificar as diversas populações do país sob uma única identidade nacional turca. Do mesmo modo, a adoção do árabe moderno normalizado nos países de língua árabe tem sido frequentemente associada a movimentos nacionalistas pan-árabes. No entanto, a normalização e a promoção de uma língua estatal podem também ter consequências indesejadas, nomeadamente a marginalização das línguas e dialectos regionais ou minoritários. Isto pode levar a um declínio da sua utilização pública e, por vezes, a uma erosão da sua viabilidade a longo prazo, ou mesmo ao seu desaparecimento. Por exemplo, muitas línguas e dialectos minoritários curdos foram suprimidos em vários países, num esforço para conseguir a assimilação cultural.

Paradoxalmente, a proibição ou repressão de certas línguas pode também levar a um interesse renovado por essas línguas e dialectos, que são frequentemente vistos como elementos essenciais da identidade cultural de uma comunidade. Nalguns casos, isto pode levar a movimentos de protesto linguístico e cultural. A supressão da utilização pública do arménio na Turquia durante muitos anos levou, por exemplo, a uma maior sensibilização e valorização da língua entre as comunidades arménias de todo o mundo. Em última análise, as políticas linguísticas no Médio Oriente reflectem a tensão entre a construção de identidades nacionais e a preservação da diversidade cultural e linguística. As respostas a estas políticas são diversas e podem ir da adoção entusiástica da língua do Estado à resistência e manutenção das línguas tradicionais como ato de preservação cultural e resistência política.

Panorama das crenças religiosas

O Médio Oriente é frequentemente definido de forma abrangente, incluindo regiões como a Anatólia (a parte asiática da Turquia moderna), o Egipto (embora geograficamente localizado no Norte de África, está cultural e historicamente ligado ao Médio Oriente) e a Mesopotâmia (que corresponde aos territórios do Iraque e da Síria modernos, bem como a partes do Irão e da Turquia). Esta região, rica em diversidade cultural e histórica, é reconhecida como o berço de várias das principais religiões do mundo.

O judaísmo, uma das primeiras religiões monoteístas, surgiu no Levante, nomeadamente na região histórica de Canaã, atualmente dividida entre Israel e os territórios palestinianos. Com raízes que remontam há mais de 3.000 anos, o judaísmo desempenhou um papel central no desenvolvimento religioso e cultural da região. O cristianismo, que nasceu do judaísmo no século I d.C., também tem as suas origens no Médio Oriente, especificamente na região histórica da Judeia. Espalhou-se rapidamente pelo Império Romano e não só, tornando-se numa importante religião mundial. O Islão, a mais recente das três grandes religiões abraâmicas, foi revelado ao profeta Maomé no início do século VII na cidade árabe de Meca. Espalhou-se rapidamente pela Península Arábica e, através da conquista e do comércio, por vastas áreas da Ásia, África e Europa. Para além destas religiões abraâmicas, o Médio Oriente é também o berço do zoroastrismo, fundado pelo profeta Zaratustra (ou Zoroastro) na antiga Pérsia, o atual Irão. O zoroastrismo, que era uma das religiões dominantes da Pérsia antes da islamização, é frequentemente considerado uma das mais antigas religiões monoteístas e influenciou outras tradições religiosas através dos seus conceitos dualistas da luta entre o bem e o mal.

Cada uma destas religiões contribuiu para a rica tapeçaria cultural e histórica da região e continua a influenciar profundamente as vidas, as culturas e a política do Médio Oriente moderno. A diversidade religiosa e a profundidade histórica fazem do Médio Oriente um lugar de particular importância para os estudiosos, os crentes e os visitantes de todo o mundo.

As fundações e a evolução do judaísmo==

Judaísmo primitivo e monoteísmo

O judaísmo é reconhecido como uma das primeiras religiões monoteístas da história. Surgido na região do Levante, que atualmente corresponde a Israel e arredores, o Judaísmo desempenhou um papel crucial no desenvolvimento religioso e cultural da humanidade. As origens do judaísmo remontam a cerca de 2000 a.C., com as figuras bíblicas de Abraão, Isaac e Jacob, considerados os patriarcas da religião. O judaísmo centra-se na crença num Deus único, YHWH (Javé), e numa série de leis e princípios éticos expressos na Torá, que faz parte de uma coleção mais vasta de textos sagrados conhecida como Tanakh ou Bíblia hebraica. O que distingue o judaísmo das outras tradições religiosas do seu tempo é o seu monoteísmo estrito. Enquanto muitas culturas antigas aderiam ao politeísmo, o judaísmo afirmava a existência de um único Deus soberano, criador do universo e guia moral da humanidade.

Para além da sua dimensão religiosa, o judaísmo tem também uma forte dimensão étnica e cultural. Os judeus vêem-se não só como adeptos de uma fé, mas também como membros de um povo ou nação, unidos por uma história e tradições comuns. Ao longo dos séculos, o judaísmo influenciou significativamente muitas outras crenças e práticas religiosas, em particular o cristianismo e o islamismo, que partilham certas raízes com o judaísmo e reconhecem muitas figuras bíblicas judaicas como profetas ou mestres importantes.

Abraão e a linhagem patriarcal judaica

Abraão, frequentemente considerado como o pai do monoteísmo, é uma figura central do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. Segundo a tradição judaica, Abraão nasceu em Ur, na Mesopotâmia, e não em Edessa, na Grécia. Edessa é uma cidade histórica da Turquia, conhecida como Urfa, mas não está ligada à história de Abraão nos textos bíblicos. O relato bíblico descreve a sua viagem da Mesopotâmia para Canaã, a mando de Deus, que prometeu fazer da sua descendência uma grande nação. A complexa relação de Abraão com a sua mulher Sara e a sua escrava Agar é um elemento crucial da história. Sara, incapaz de ter filhos, dá Agar a Abraão, de quem nasce Ismael. Mais tarde, Sara dá à luz Isaac. Na tradição judaica, Isaac é o filho da promessa e os judeus consideram-se seus descendentes. Na tradição islâmica, é Ismael que é frequentemente visto como o filho da promessa, embora o Islão também reconheça a importância de Isaac. O filho de Isaac, Jacob, é também uma figura fundamental. Segundo a tradição, ele teve 12 filhos, cujos descendentes se tornaram as Doze Tribos de Israel, marcando a formação do povo hebreu.

O Êxodo Egípcio e a Revelação no Monte Sinai

A história da escravatura no Egipto é outra parte fundamental da história judaica. Depois de viverem no Egipto, os hebreus foram escravizados e, séculos mais tarde, libertados sob a liderança de Moisés, outra figura central na tradição judaica. Esta saída do Egipto, conhecida como o Êxodo, é um acontecimento fundamental na história judaica e é celebrada todos os anos na Pessach (Páscoa). Estas histórias não são apenas narrativas religiosas, mas moldaram também a identidade cultural e histórica do povo judeu. Sublinham a relação contínua entre o povo judeu, a sua terra e a sua fé, uma relação que permanece central para a compreensão da cultura e da história judaicas.

A figura de Moisés e o evento da revelação no Monte Sinai estão entre os mais significativos da tradição judaica e têm uma profunda importância na história e na identidade do povo judeu. De acordo com o relato bíblico, Moisés, um hebreu criado na casa do Faraó no Egipto, é escolhido por Deus para libertar os israelitas da escravatura. Após uma série de acontecimentos miraculosos, incluindo as dez pragas do Egipto, Moisés conduz os israelitas para fora do Egipto, um acontecimento conhecido como o Êxodo. O Êxodo representa não só a libertação física do povo judeu, mas também a sua emergência como nação unida sob Deus.

O momento mais crucial da sua viagem é a revelação no Monte Sinai, onde, segundo a tradição, Deus (Javé) entrega a Moisés a Tora, incluindo os Dez Mandamentos. Este momento é visto como a aliança fundamental entre Deus e os israelitas, onde estes recebem um conjunto de leis e instruções para orientar a sua vida espiritual e social. A Torá, que é o coração do judaísmo, inclui não só as leis e os ensinamentos, mas também a história do povo judeu desde a criação do mundo. Os Dez Mandamentos são particularmente importantes porque estabelecem princípios morais e éticos fundamentais, não só para o judaísmo, mas também para o cristianismo e, indiretamente, para o islamismo. São considerados a pedra angular do direito e da ética na tradição judaico-cristã. A importância destes acontecimentos no judaísmo não pode ser subestimada. Não só estão no centro da fé judaica, como também moldaram os valores, as práticas e a identidade do povo judeu. A comemoração do Êxodo em Pessach e a receção da Torá em Shavuot são exemplos de como estes acontecimentos históricos são integrados no ciclo anual de festas e celebrações judaicas, recordando constantemente ao povo judeu a sua história e os seus compromissos para com Deus.

A conquista de Canaã e a era dos profetas

Após o êxodo do Egipto e a travessia do deserto, os israelitas, liderados por Josué, entraram em Canaã, uma terra que, segundo a Bíblia, tinha sido prometida por Deus aos seus antepassados. Esse processo, descrito nos textos bíblicos, envolve uma série de batalhas e conquistas para estabelecer a presença israelita na região. No entanto, é importante notar que a exatidão histórica destes acontecimentos, tal como descritos na Bíblia, é objeto de debate entre historiadores e arqueólogos.

O rei David, que reinou no século X a.C., é uma figura central na história do povo judeu. Segundo a tradição, uniu as tribos de Israel, conquistou Jerusalém e fez dela a capital do seu reino. Jerusalém adquiriu uma importância central na tradição judaica, não só como centro político, mas também como centro espiritual. O seu filho, o rei Salomão, é famoso por ter construído o Primeiro Templo em Jerusalém. Este templo tornou-se o centro do culto judaico e era suposto albergar a Arca da Aliança, que continha as tábuas da Lei (os Dez Mandamentos) dadas a Moisés no Monte Sinai. O Templo de Salomão não é apenas um símbolo da soberania e da unidade do Reino de Israel, mas também um local de grande significado religioso para os judeus.

O período dos reinos de Israel e de Judá foi também marcado pela atividade dos profetas, figuras importantes da tradição judaica. Estes profetas, como Isaías, Jeremias e Ezequiel, desempenharam um papel crucial no aconselhamento dos reis, criticando as injustiças sociais e morais e recordando ao povo os mandamentos de Deus. A sua mensagem e os seus escritos constituem uma parte importante dos textos bíblicos e continuam a influenciar o pensamento religioso judaico. Este período foi fundamental para a formação da identidade e da fé judaicas. Estabeleceu Jerusalém como o coração espiritual do judaísmo e lançou as bases para muitas das práticas e crenças que ainda são centrais no judaísmo contemporâneo.

Após a morte de Salomão, por volta de 926 a.C., o reino unificado de Israel dividiu-se em dois: o reino do norte, chamado Israel, com Samaria como capital, e o reino do sul, chamado Judá, com Jerusalém como capital. Esta divisão reflectia não só as tensões políticas e económicas, mas também as diferenças religiosas e culturais entre os dois reinos. O reino do norte, Israel, era maior em termos de território e de população, mas era também mais vulnerável a influências e invasões externas devido à sua posição geográfica.

O reino do norte acabou por sofrer uma derrota devastadora em 722 a.C., quando os assírios, um poderoso império da época, invadiram e conquistaram Samaria. Este acontecimento marcou o fim do reino de Israel, com uma grande parte da sua população deportada e dispersa, um fenómeno frequentemente referido como as "Dez Tribos Perdidas de Israel". Esta deportação e dispersão teve consequências profundas, não só a nível político e militar, mas também a nível da identidade cultural e religiosa. O reino do sul, Judá, sobreviveu a este período, mas tornou-se vassalo de vários impérios, incluindo o Império Neo-Babilónico. No entanto, também Judá acabou por cair, com a conquista de Jerusalém e a destruição do Primeiro Templo pelos babilónios em 586 a.C., seguida do exílio babilónico da elite judaica. Estes acontecimentos são de grande importância na história judaica. Marcam não só pontos de viragem políticos e militares, mas também momentos cruciais de transformação cultural e religiosa. As experiências da conquista, do exílio e do regresso tiveram uma profunda influência no pensamento e na literatura judaicos, nomeadamente com a redação de numerosos textos bíblicos e o reforço da identidade e da fé judaicas em torno da Torá e da comunidade religiosa.

A desagregação dos reinos e o início da diáspora

A destruição do reino de Israel pelos assírios, em 722 a.C., representou a primeira grande catástrofe (ou "Churban", em hebraico) para os israelitas. Esta invasão levou à dispersão das dez tribos do reino do Norte, um acontecimento frequentemente referido no contexto das "Dez Tribos Perdidas de Israel". Esta dispersão teve um impacto profundo na identidade colectiva e na memória histórica do povo judeu. Em resposta a estas dificuldades e aos desafios de viver no exílio e sob domínio estrangeiro, os rabinos e académicos judeus desempenharam um papel essencial na preservação e interpretação da tradição judaica. No entanto, é importante notar que a Mishna, que é uma importante compilação da lei oral judaica, foi escrita mais tarde, no final do século II d.C., muito depois do tempo dos reinos de Israel e Judá. A Mishna, combinada com a Gemara (um comentário sobre a Mishna), forma o Talmud, um texto central no judaísmo rabínico.

O Tanakh compreende a Torah (os cinco livros de Moisés), os Nevi'im (os Profetas) e os Ketuvim (os Escritos, incluindo os Salmos). Profetas como Elias, Isaías e Jeremias, que viveram em épocas diferentes, desempenharam um papel crucial na vida religiosa e social dos israelitas, enviando mensagens de reforma, de justiça social e de fidelidade a Deus. Estes profetas actuaram frequentemente em períodos de crise e de mudança, reflectindo os seus ensinamentos e acções os desafios que o povo judeu enfrentava. Os seus escritos, que fazem parte dos Nevi'im, são fundamentais para compreender o judaísmo, a espiritualidade judaica e a história do povo judeu. Estes textos têm desempenhado um papel crucial na preservação da identidade judaica e têm sido uma fonte de força e inspiração, particularmente durante os períodos de perseguição e dispersão.

A destruição do Primeiro Templo de Jerusalém por Nabucodonosor II, rei do Império Neobabilónico, em 587 a.C., foi uma grande catástrofe para o povo judeu. Esta destruição, acompanhada da deportação de uma grande parte da população judaica para a Mesopotâmia, foi um acontecimento devastador que marcou profundamente a consciência colectiva judaica. O exílio babilónico simbolizou não só uma perda territorial e política, mas também uma profunda crise espiritual e de identidade, obrigando os judeus a repensar a sua relação com Deus, a sua história e a sua identidade como povo. O regresso dos judeus à Judeia começou com a ascensão de Ciro, o Grande, rei do Império Persa, que conquistou a Babilónia em 539 a.C. Ciro é conhecido pela sua política de tolerância e de restauração dos povos deslocados, incluindo os judeus. De acordo com o Livro de Esdras, na Bíblia, Ciro emitiu um édito que permitia aos judeus regressar à Judeia e reconstruir o Templo de Jerusalém. Este regresso começou por volta de 538 a.C. e marcou um momento de renovação da comunidade judaica.

O Segundo Templo foi reconstruído, mas a construção não começou durante o reinado de Herodes, o Grande. O processo de reconstrução do Templo começou muito antes, por volta de 516 a.C., completando assim o período de 70 anos de exílio profetizado nas Escrituras. O Segundo Templo continuou a ser um importante centro religioso e comunitário para os judeus até à sua destruição pelos romanos em 70 d.C. Sabe-se que Herodes, o Grande, que reinou muito mais tarde (37-4 a.C.), empreendeu uma grande renovação e ampliação do Segundo Templo, dando-lhe ainda mais esplendor e magnificência. Foi esta versão do Templo, ampliada e embelezada por Herodes, que esteve presente no tempo de Jesus e é frequentemente referida no Novo Testamento.

A evolução do judaísmo pós-templo e das comunidades judaicas

A Palestina ficou sob o domínio romano após a conquista romana no século I a.C. Em 332 a.C., Alexandre, o Grande, da Macedónia, conquistou a região, marcando o início do período helenístico. Após a morte de Alexandre, a região ficou sob o controlo de várias dinastias helenísticas, nomeadamente os Ptolomeus do Egipto e os Selêucidas da Síria. Só no século I a.C. é que a Judeia se tornou um reino cliente do Império Romano. Sob o domínio romano, os judeus viveram períodos de repressão, exacerbados por tensões religiosas e culturais e por pesados impostos. A destruição do Segundo Templo de Jerusalém pelos romanos, em 70 d.C., sob o comando do futuro imperador Tito, foi um acontecimento devastador para o povo judeu. Esta destruição seguiu-se à Grande Revolta Judaica contra o domínio romano. A perda do Templo, considerado como o centro espiritual e nacional do judaísmo, teve consequências profundas para a identidade e a prática religiosas judaicas. Após a destruição do Templo, a dispersão (ou "diáspora") dos judeus acelerou-se. Embora já existissem comunidades judaicas dispersas por todo o mundo antigo antes da destruição do Templo (por exemplo, no Egipto, na Babilónia, na Grécia e em Itália), este acontecimento marcou o início de um período de dispersão mais vasto e sistemático. Muitos judeus fugiram ou foram deportados da Judeia e estabeleceram-se em diferentes partes do Império Romano e não só. Esta dispersão teve um impacto duradouro no judaísmo. Sem o Templo como centro de culto, o judaísmo evoluiu, com uma maior ênfase na oração, no estudo dos textos sagrados e na prática religiosa nas sinagogas. A diáspora judaica tornou-se um elemento central da identidade judaica, com a noção de um povo unido pela fé e pela história, apesar da dispersão geográfica.

A transição da identidade de "hebreus" para "judeus" é um aspeto importante da história judaica e está ligada a uma série de factores, incluindo a perda de território e as mudanças políticas. O termo "hebreus" (Ivrim em hebraico) foi originalmente utilizado na Bíblia hebraica para designar os antepassados dos israelitas, nomeadamente no contexto das suas relações com outros povos. O termo é frequentemente associado a períodos anteriores da história judaica, em particular o tempo dos patriarcas (Abraão, Isaac, Jacob) e o êxodo do Egipto. O termo "judeus" (Yehudim em hebraico), por outro lado, deriva de "Judá" (Yehuda), um dos doze filhos de Jacob e uma das doze tribos de Israel. Após a divisão do reino unido em dois reinos distintos, Israel (a norte) e Judá (a sul), e a queda do reino de Israel perante os Assírios, o reino de Judá tornou-se o centro da identidade israelita. Quando os babilónios destruíram o Primeiro Templo e exilaram uma grande parte da população de Judá, estas pessoas passaram a ser designadas por "Yehudim" ou "Judeus".

Com a destruição do Segundo Templo pelos romanos, em 70 d.C., e a subsequente dispersão dos judeus, a identidade judaica tornou-se ainda mais centrada na religião e na cultura, e não num território específico ou numa soberania política. O termo "judeu" tornou-se assim sinónimo de uma filiação religiosa e cultural, e não apenas étnica ou nacional. A perda de território e as mudanças políticas desempenharam, sem dúvida, um papel nesta evolução, mas a transição de "hebreus" para "judeus" reflecte também uma evolução interna na compreensão e auto-identificação do povo. Assim, o termo "judeu" engloba uma identidade religiosa, cultural e étnica, transcendendo as fronteiras geográficas e políticas.

Línguas e culturas judaicas no mundo

Os judeus Ashkenazi, originários da Europa Central e Oriental, desenvolveram uma língua e uma cultura únicas. O iídiche, sua língua, é um exemplo notável dessa cultura distinta. O iídiche é uma língua germânica que incorpora elementos do hebraico e das línguas eslavas, reflectindo a história e as experiências dos judeus asquenazes. Esta língua não era apenas um instrumento de comunicação quotidiana, mas também um veículo importante para a literatura, o teatro e a poesia dos judeus asquenazes. Por outro lado, os judeus sefarditas, principalmente da Península Ibérica (Espanha e Portugal), desenvolveram uma outra língua híbrida conhecida como ladino ou judaico-espanhol. O ladino, semelhante ao iídiche, mistura o espanhol com o hebraico e outras línguas como o turco e o árabe, reflectindo as migrações e interacções dos judeus sefarditas após a sua expulsão de Espanha em 1492.

Em termos de práticas religiosas, o judaísmo é diversificado. As práticas ortodoxas aderem estritamente às leis e tradições judaicas, enquanto os movimentos reformistas ou liberais (também conhecidos como progressistas ou moderados) tendem a adotar interpretações e práticas mais flexíveis. Existem também movimentos conservadores e reconstrucionistas, que procuram um equilíbrio entre a adesão à tradição e a adaptação às realidades contemporâneas. Esta diversidade reflecte a capacidade do judaísmo para evoluir e se adaptar, preservando a sua identidade e os seus valores fundamentais. Diferentes comunidades judaicas em todo o mundo, sejam elas asquenazis, sefarditas ou de outras origens, contribuíram para a rica tapeçaria da cultura e tradição judaicas, trazendo cada uma delas as suas próprias perspectivas e experiências únicas.

As Origens e Ramos do Cristianismo

A Expansão do Cristianismo no Império Romano

O Cristianismo está centrado na figura de Jesus de Nazaré, que os cristãos reconhecem como o Messias (o Cristo) e o Filho de Deus. O seu nascimento, vida, ensino, morte e ressurreição estão no centro da fé cristã.

De acordo com o Novo Testamento, Jesus nasceu em Belém, uma pequena cidade da Judeia. Os relatos do seu nascimento estão contidos nos Evangelhos de Mateus e Lucas, que mencionam o nascimento virginal de Maria, sua mãe, e o anúncio do seu nascimento pelos anjos como um acontecimento de grande importância. Jesus passou a maior parte da sua vida na região da Galileia, pregando uma mensagem de amor, compaixão e arrependimento, apelando à renovação espiritual e a uma relação pessoal com Deus. Reuniu à sua volta um grupo de discípulos e realizou vários milagres, de acordo com os relatos dos Evangelhos.

A sua crucificação em Jerusalém é um momento central do cristianismo. Os cristãos acreditam que, com a sua morte, Jesus ofereceu o derradeiro sacrifício para o perdão dos pecados da humanidade e que a sua ressurreição, três dias depois, oferece a promessa de salvação e vida eterna. Este acontecimento é comemorado todos os anos na Páscoa cristã. O cristianismo começou como um movimento no seio do judaísmo no século I, mas rapidamente se espalhou por outras populações, principalmente não judaicas, em todo o Império Romano e mais além. A figura de Jesus e os seus ensinamentos tiveram uma profunda influência na história da humanidade, moldando não só a religião cristã, mas também muitos aspectos da civilização ocidental e mundial.

Legalização e institucionalização do cristianismo

Sob o imperador Constantino I, com o Édito de Milão em 313 d.C., o Cristianismo foi legalizado no Império Romano, pondo fim à perseguição oficial. Mais tarde, com o imperador Teodósio I, em 380 d.C., o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, com o Édito de Tessalónica. Este reconhecimento imperial transformou profundamente o cristianismo, permitindo-lhe difundir-se e influenciar todos os aspectos da sociedade romana. No entanto, esta integração do cristianismo nas estruturas do poder imperial também criou tensões e divergências no seio da comunidade cristã. Algumas comunidades cristãs procuraram distanciar-se da Igreja oficial e do Império, quer devido a diferenças teológicas, quer em resposta ao que consideravam ser a corrupção ou a politização da sua fé. Estes grupos, muitas vezes rotulados de seitas ou heresias pela Igreja oficial, procuraram preservar uma forma de cristianismo que consideravam mais autêntica ou fiel aos ensinamentos originais de Jesus e dos apóstolos.

Estas diferenças deram origem a vários cismas e movimentos no seio do cristianismo, alguns dos quais persistiram durante séculos. Estas divisões foram exacerbadas por debates teológicos (como a natureza da Trindade ou a relação entre a divindade e a humanidade de Jesus), diferenças culturais e linguísticas e conflitos políticos no seio do Império. A integração do Cristianismo na estrutura do Império Romano teve, portanto, um impacto complexo: permitiu uma expansão e uma institucionalização sem precedentes da religião, mas também lançou as sementes de divisões internas que continuariam a moldar a história do Cristianismo nos séculos seguintes.

O debate sobre a natureza de Jesus é um dos maiores e mais significativos da história do cristianismo. Esta questão teológica, que diz respeito à relação entre a divindade e a humanidade de Jesus, esteve no centro de muitas controvérsias e levou a vários concílios importantes na Igreja primitiva. A questão principal era saber como é que Jesus podia ser, simultaneamente, totalmente divino e totalmente humano. Esta questão foi abordada pela primeira vez de forma significativa no Concílio de Niceia, em 325 d.C., onde a doutrina da Trindade começou a tomar forma. O Credo Niceno, resultante deste Concílio, afirmava que Jesus era "da mesma substância" (homoousios) que o Pai, estabelecendo assim a sua plena divindade. No entanto, esta declaração não pôs fim ao debate. Nos séculos seguintes, surgiram diferentes escolas de pensamento. Duas das mais influentes foram o arianismo, que defendia que Jesus, embora divino, não era da mesma substância que o Pai, sendo por isso inferior a ele; e o nestorianismo, que ensinava que as naturezas divina e humana de Jesus eram separadas e distintas.

Estes debates atingiram o seu clímax no Concílio de Calcedónia, em 451 d.C., que resultou na formulação da chamada "dupla natureza" de Cristo: Jesus foi reconhecido como sendo plenamente divino e plenamente humano, estando as duas naturezas unidas numa só pessoa, sem serem misturadas, confundidas ou separadas. Esta doutrina é conhecida como cristologia calcedónica. Este debate sobre a natureza de Jesus não foi apenas uma questão teológica abstrata; teve grandes repercussões políticas, sociais e culturais no Império Romano e não só. As divergências sobre estas questões levaram a cismas no seio da Igreja e foram mesmo a causa de conflitos e perseguições. A forma como as várias comunidades cristãs responderam a estas questões moldou significativamente o desenvolvimento do cristianismo nos séculos seguintes.

O Concílio de Nicéia e a formação da doutrina cristã

O Concílio de Nicéia, realizado em 325 d.C., é um momento crucial na história do cristianismo por várias razões. Foi o primeiro concílio ecuménico, reunindo bispos de todo o Império Romano para debater e decidir sobre questões teológicas centrais. A principal questão em causa era responder ao arianismo, uma doutrina promovida por Ário, um sacerdote de Alexandria, que defendia que Jesus não era da mesma substância que Deus Pai, mas antes uma criatura criada por Deus e inferior a Ele. O Concílio de Niceia rejeitou o arianismo e afirmou que Jesus era "consubstancial" (da mesma substância) com o Pai, afirmando assim a sua plena divindade. Esta decisão foi codificada no Credo de Nicéia, que se tornou uma declaração fundamental da fé cristã.

No entanto, a decisão de Nicéia não resolveu todas as controvérsias. Levou à formação de diferentes interpretações e igrejas, nomeadamente entre a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente. Estas divergências estavam ligadas não só a questões teológicas, mas também a questões linguísticas, culturais e políticas. Os jacobitas, por exemplo, seguiam os ensinamentos de Tiago Baradai e estavam associados à Igreja Ortodoxa Siríaca. Rejeitaram as decisões do Concílio de Calcedónia (451 d.C.), que tinha aprofundado a natureza de Cristo, afirmando que ele tinha duas naturezas, divina e humana, unidas numa só pessoa. Os jacobitas e outros grupos, como os nestorianos e os monofisitas, formaram as suas próprias comunidades eclesiásticas distintas, muitas vezes em oposição às doutrinas estabelecidas pelas autoridades imperiais e eclesiásticas dominantes.

Estas divisões e controvérsias no seio do cristianismo moldaram significativamente a evolução da religião, conduzindo a um complexo mosaico de tradições cristãs em todo o mundo. Estas diferentes comunidades mantiveram as suas próprias interpretações teológicas, práticas litúrgicas e estruturas organizativas, contribuindo para a rica e por vezes conflituosa diversidade do cristianismo ao longo dos séculos.

O Concílio de Calcedónia e a Cristologia Diofisita

O Concílio de Calcedónia, realizado em 451 d.C., é um acontecimento importante na história do cristianismo, pois abordou de frente a complexa questão da natureza de Cristo. Este Concílio é frequentemente considerado como o ponto culminante dos debates cristológicos que atravessaram a Igreja Cristã durante vários séculos. A decisão do Concílio de Calcedónia estabeleceu que Jesus Cristo possui duas naturezas distintas - divina e humana - unidas numa única pessoa (hipóstase). Esta formulação é conhecida como "Cristologia Diofisita". De acordo com esta doutrina, as duas naturezas de Cristo coexistem sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem separação. Isto significa que, embora Cristo seja plenamente Deus e plenamente homem, as suas duas naturezas não se misturam, preservando assim tanto a sua completa divindade como a sua completa humanidade.

Este Concílio foi crucial para estabelecer uma ortodoxia aceite pela maioria dos cristãos, mas também deu origem a divisões significativas. Várias Igrejas, nomeadamente algumas Igrejas Orientais, rejeitaram as decisões de Calcedónia. Estas Igrejas são frequentemente chamadas "não-calcedonianas" ou "pré-calcedonianas" e incluem a Igreja Copta do Egipto, a Igreja Ortodoxa Etíope, a Igreja Apostólica Arménia e outras. Estas comunidades mantiveram o seu próprio entendimento da natureza de Cristo, centrando-se frequentemente na unidade das suas naturezas divina e humana. O Concílio de Calcedónia marca assim um momento crucial na história do Cristianismo, estabelecendo uma doutrina fundamental para muitas igrejas cristãs, ao mesmo tempo que cria cismas duradouros com outras comunidades que não aceitaram as suas conclusões. Estas divisões cristológicas continuam a ser uma faceta importante das diferenças entre as várias tradições cristãs até aos dias de hoje.

Implicações políticas e culturais das divergências teológicas

O Grande Cisma de 1054, que marcou a separação entre a Igreja do Oriente, mais tarde conhecida como Igreja Ortodoxa, e a Igreja do Ocidente, a Igreja Católica Romana, representou um ponto de viragem histórico no Cristianismo. Esta rutura não foi um acontecimento isolado, mas antes o culminar de um longo período de divergência crescente entre os dois ramos do cristianismo. No centro dessas divergências estavam profundas disputas teológicas e eclesiásticas. Um dos principais pontos de discórdia dizia respeito à questão da autoridade papal. A Igreja de Roma, com figuras como o Papa Leão IX, reivindicava a autoridade suprema sobre todas as igrejas cristãs, uma posição contestada pela Igreja do Oriente. O Patriarcado de Constantinopla, com líderes como Miguel Cerularus, rejeitava a ideia de uma autoridade centralizada e defendia uma abordagem mais colegial.

Outro ponto-chave de discórdia foi a adição do "Filioque" ao Credo Niceno pela Igreja do Ocidente. Esta alteração, que afirma que o Espírito Santo procede do Pai "e do Filho", foi vista pela Igreja do Oriente como uma alteração inaceitável de uma doutrina estabelecida nos primeiros concílios ecuménicos. Este debate reflectiu diferenças mais amplas na compreensão da Trindade e da natureza de Deus. Para além das questões teológicas, as diferenças culturais e políticas também desempenharam um papel importante. O colapso do Império Romano do Ocidente e a ascensão do Império Bizantino criaram um fosso entre as duas regiões. As diferenças linguísticas, com o latim a predominar no Ocidente e o grego no Oriente, também contribuíram para um fosso cultural crescente.

O acontecimento simbólico que marcou o ponto culminante destas tensões foi a excomunhão mútua de 1054. Legados enviados pelo Papa Leão IX a Constantinopla excomungaram o Patriarca Miguel Cerularus, que respondeu excomungando os legados. Embora esta excomunhão tenha sido o gesto mais dramático, representou o culminar de uma longa série de desacordos e mal-entendidos. O Grande Cisma teve profundas repercussões no desenvolvimento posterior do cristianismo, solidificando a divisão entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa. Esta divisão, enraizada em diferenças teológicas, culturais e políticas, moldou não só a história religiosa, mas também as trajectórias políticas e culturais da Europa e das regiões circundantes. Nos tempos modernos, têm sido feitos esforços no sentido do diálogo e da reconciliação, mas as divisões do Cisma de 1054 continuam a influenciar a paisagem religiosa e cultural do mundo.

Protestantismo e Reforma: transformação do cristianismo

No século XVI, o Cristianismo foi profundamente transformado pelo aparecimento do Protestantismo, um movimento que desafiou as doutrinas e práticas da Igreja Católica Romana e conduziu à Reforma Protestante. Este período marcou um ponto de viragem crucial na história religiosa da Europa e teve repercussões globais duradouras. A génese do Protestantismo é frequentemente atribuída a Martinho Lutero, um monge e teólogo alemão. Em 1517, Lutero afixou as suas "95 teses" na porta da igreja de Wittenberg, criticando vários aspectos da Igreja Católica, nomeadamente a venda de indulgências. Os seus escritos circularam rapidamente, impulsionados pela recente invenção da imprensa, e tiveram eco junto de um público cada vez mais insatisfeito com certas práticas da Igreja.

Lutero contestou doutrinas fundamentais da Igreja Católica, como a autoridade do Papa e a eficácia das obras para a salvação, defendendo, em vez disso, a justificação apenas pela fé ("sola fide") e a autoridade apenas das Escrituras ("sola scriptura"). Estas ideias puseram em causa os fundamentos da Igreja Católica e deram início a uma série de reformas religiosas em toda a Europa. Outras figuras-chave da Reforma Protestante foram João Calvino, em Genebra, que desenvolveu um sistema teológico conhecido como calvinismo, e Huldrych Zwingli, em Zurique. Cada um destes reformadores ajudou a dar forma a várias vertentes do Protestantismo, que depois deram origem a uma multiplicidade de denominações, incluindo luteranos, reformados, presbiterianos e anabaptistas, entre outras.

A Reforma trouxe profundas mudanças não só na esfera religiosa, mas também nas esferas política, cultural e social. Deu origem a guerras religiosas em toda a Europa, a mudanças nas estruturas do poder político e teve influência na educação, na literatura e nas artes. A Reforma Protestante abriu também caminho à expansão do cristianismo em todo o mundo, nomeadamente através de actividades missionárias nas colónias europeias. Assim, o século XVI foi um período de grande transformação para o cristianismo, com o protestantismo a desafiar as estruturas estabelecidas da Igreja e a redefinir a forma como muitos cristãos entendiam a sua fé e praticavam a sua religião.

Ao longo da complexa história do cristianismo, houve alturas em que algumas Igrejas Orientais estabeleceram ligações com a Igreja Católica Romana, dando origem a comunidades cristãs que combinam elementos das tradições orientais e ocidentais. Estas Igrejas, frequentemente designadas por Igrejas Católicas Orientais ou Igrejas Uniatas, mantiveram os seus ritos litúrgicos e a sua herança cultural oriental, aceitando simultaneamente a autoridade do Papa e certas doutrinas católicas romanas. Este movimento de união com Roma foi motivado por vários factores, incluindo considerações políticas, desejos de apoio face a pressões externas e interesses teológicos e eclesiásticos. Um exemplo notável é a União de Brest, em 1596, quando alguns bispos da Igreja Ortodoxa da Polónia-Lituânia concordaram em unir-se à Igreja Católica Romana, formando a Igreja Greco-Católica Ucraniana. Do mesmo modo, a Igreja Católica Maronita do Líbano há muito que mantém a comunhão com Roma, preservando as suas tradições litúrgicas e espirituais orientais.

No que diz respeito à demografia cristã ao longo dos séculos, é verdade que em algumas regiões, especialmente no Médio Oriente e no Norte de África, a proporção de cristãos em relação à população total tem vindo a diminuir ao longo do tempo. Este declínio pode ser atribuído a vários factores, como as conversões, as migrações, as mudanças políticas e as pressões sociais e económicas. Por exemplo, após a conquista muçulmana do Médio Oriente, muitos cristãos adoptaram gradualmente a língua e a religião islâmicas, embora continuassem a existir comunidades cristãs na região. No entanto, à escala mundial, o cristianismo expandiu-se significativamente, em grande parte devido aos movimentos missionários e à colonização europeia entre os séculos XVI e XX. Atualmente, o cristianismo continua a ser uma das principais religiões do mundo, com uma presença substancial em todos os continentes. É importante notar que, apesar dos desafios e das mudanças, as comunidades cristãs continuaram a preservar a sua fé e as suas tradições, muitas vezes em contextos culturais e políticos muito diversos. A capacidade do cristianismo para se adaptar e transformar, preservando simultaneamente as suas crenças fundamentais, é um aspeto notável da sua história.

Princípios e correntes do Islão

Muhammad: Profeta e fundamento do Islão

O Islão está centrado na figura de Maomé, considerado pelos muçulmanos como o último profeta enviado por Deus para guiar a humanidade. A vida e os ensinamentos de Maomé desempenham um papel fundamental no Islão e influenciaram profundamente o desenvolvimento desta religião. Nascido em Meca em 570 d.C., Maomé cresceu num contexto em que a Península Arábica era dominada por práticas politeístas e por um sistema social tribal. A sua juventude foi marcada pela orfandade e pela pobreza, mas mais tarde adquiriu uma reputação de confiança e integridade no seu trabalho como comerciante. Estas experiências deram-lhe uma perspetiva única sobre os vários aspectos sociais, económicos e religiosos da sua sociedade. Segundo a tradição islâmica, aos 40 anos, Maomé começou a receber revelações de Deus (Alá em árabe) através do anjo Gabriel. Estas revelações, que se prolongaram durante 23 anos, deram origem ao Corão, o texto sagrado do Islão.

A mensagem de Maomé sublinhava o monoteísmo estrito (Tawhid), a justiça social, a responsabilidade moral e a igualdade perante Deus. Consciente das desigualdades e injustiças da sociedade de Meca, os seus ensinamentos apelavam a uma mudança radical das estruturas sociais e religiosas da época. No entanto, a sua pregação deparou-se com uma forte oposição dos líderes de Meca, principalmente devido às implicações económicas e sociais da sua mensagem, que desafiava as estruturas de poder e as práticas religiosas estabelecidas em Meca. Estas tensões acabaram por conduzir à Hégira (migração) de Maomé e dos seus primeiros seguidores de Meca para Medina, em 622 d.C., um acontecimento tão significativo que marcou o início do calendário islâmico.

A Hégira: um ponto de viragem na história islâmica

Em Medina, Maomé estabeleceu uma comunidade (Ummah) baseada nos princípios islâmicos, onde desempenhou um papel de líder espiritual, político e militar. Nos anos seguintes, assistiu-se a uma rápida expansão do Islão na Península Arábica, bem como à consolidação das várias tribos árabes sob a bandeira da nova fé. Após a morte de Maomé, em 632 d.C., os seus ensinamentos e o seu exemplo continuaram a guiar os muçulmanos. O Islão espalhou-se rapidamente para além da Península Arábica, tornando-se uma importante força religiosa, cultural e política no mundo. A vida e os ensinamentos de Maomé permanecem no centro da fé muçulmana, influenciando profundamente as crenças, práticas e cultura dos muçulmanos em todo o mundo.

O período que se seguiu à morte de Maomé, em 632 d.C., é crucial para a história do Islão, pois lançou as bases da sua estrutura política e das suas divisões internas. A Hégira, a migração de Maomé de Meca para Medina em 622, foi um momento fundador do Islão, marcando o início do calendário islâmico e o estabelecimento de uma comunidade muçulmana unida sob a sua liderança.

Quando Maomé morreu, em 632, não nomeou explicitamente um sucessor para o liderar, o que levou a uma questão crucial: quem deveria liderar a comunidade muçulmana (Ummah)? Esta questão deu origem aos dois principais ramos do Islão: o sunismo e o xiismo. Os sunitas, que representam a maioria dos muçulmanos, consideram que o sucessor de Maomé deve ser eleito de entre os membros da comunidade muçulmana e seguir a "Sunna" (tradição baseada nos ensinamentos e práticas de Maomé). O primeiro califa eleito de acordo com esta tradição foi Abu Bakr, um companheiro próximo e sogro de Maomé. Os xiitas, por outro lado, acreditam que a liderança da comunidade muçulmana deve permanecer na família de Maomé. Defendem que Ali, primo e genro de Maomé, foi o seu sucessor designado. Os xiitas utilizam o termo "Ahl al-Bayt" (povo da casa) para designar a família de Maomé e os seus descendentes.

No período de 632 a 661 d.C., conhecido como o período dos "Califas Bem Guiados" ou "Rashidun", os sucessores de Abu Bakr, 'Umar e 'Uthman, tornaram-se Califas. Cada um destes califas foi eleito por consenso ou por conselho de entre os companheiros de Maomé. No entanto, as tensões e os desacordos sobre a questão da sucessão deram origem a divisões e conflitos que culminaram na Fitna, uma série de guerras civis que afectaram profundamente a comunidade muçulmana. Este período lançou as bases do califado, a estrutura política do império muçulmano, que viria a desenvolver-se e a mudar de forma ao longo dos séculos. As divisões iniciais entre sunitas e xiitas, apesar de serem principalmente teológicas e políticas no início, moldaram significativamente a história, a política e a cultura do mundo muçulmano.

A Batalha de Nehavend e a Queda do Império Sassânida

A Batalha de Nehavend, que teve lugar por volta de 641-642 d.C., foi um marco histórico importante na expansão do Islão e na queda do Império Sassânida. Este confronto militar, que teve lugar no que é hoje o noroeste do Irão, opôs as forças árabes muçulmanas em ascensão ao exército do Império Sassânida, um império outrora poderoso e enfraquecido por conflitos prolongados e agitação interna. Antes desta batalha, o Império Sassânida, sob o reinado de Yazdgard III, já tinha sofrido pesadas perdas face às conquistas muçulmanas. A Batalha de Nehavend é frequentemente considerada como o golpe final da resistência sassânida. A vitória muçulmana nesta batalha foi decisiva: não só marcou o fim da resistência organizada do Império Sassânida, como também abriu caminho para a rápida expansão do Islão na região. Esta vitória, apelidada pelos muçulmanos de "a vitória das vitórias", teve consequências profundas no curso da história regional. Com a derrota do exército sassânida, Yazdgard III foi obrigado a fugir para leste, procurando desesperadamente aliados para reconquistar o seu império. No entanto, os seus esforços revelaram-se infrutíferos e o Império Sassânida, outrora rival do Império Bizantino, desapareceu da história.

O impacto desta batalha vai muito para além do campo de batalha. Marcou o início de uma importante transformação cultural e religiosa na Pérsia. Com a conquista muçulmana, a região iniciou uma conversão gradual da religião zoroastriana para o Islão. Esta transição não se limitou aos aspectos religiosos, tendo também conduzido a grandes mudanças linguísticas e culturais. O árabe tornou-se a principal língua da administração e da cultura académica, embora a língua e a cultura persas continuassem a desempenhar um papel significativo na região. A Batalha de Nehavend ilustra, portanto, a forma como as conquistas militares podem ter implicações duradouras na identidade cultural e religiosa de uma região. Ao transformar a Pérsia do Império Sassânida num território-chave do mundo islâmico, esta batalha não só redesenhou o mapa político da região, como também lançou as bases para os desenvolvimentos culturais e religiosos que se seguiram.

Os xiitas e a sua visão da liderança islâmica

Os xiitas, cujo nome significa literalmente "seguidores de Ali", defendem que Ali, primo e genro do Profeta Maomé, foi o legítimo sucessor de Maomé. Acreditam que Ali e os seus descendentes, os imãs, são os verdadeiros líderes espirituais e políticos da comunidade muçulmana. O xiismo baseia-se na ideia da legitimidade divina da linhagem de Ali e os seus seguidores concentram-se particularmente nos aspectos espirituais e místicos do Islão. Os sunitas, por outro lado, representam a maioria dos muçulmanos e defendem que o califa deve ser eleito com base na sua competência e piedade. Muawiya, o governador da Síria, tornou-se uma figura-chave da história sunita quando entrou em confronto com Ali na Batalha de Siffin, em 657. Esta batalha, que terminou num impasse e conduziu a uma arbitragem controversa, foi um momento decisivo, exacerbando as divisões no seio da comunidade muçulmana. O facto de Ali ter aceitado a arbitragem em Siffin provocou uma rutura com alguns dos seus apoiantes, que consideravam que, ao aceitar a arbitragem, estava a trair os princípios do Islão. Estes dissidentes ficaram conhecidos como os kharijitas, um grupo que defendia uma interpretação rigorosa e por vezes extrema do Islão e que se opunha tanto a Ali como a Muawiya.

Após o assassinato de Ali em 661, frequentemente atribuído aos carijitas, Muawiya estabeleceu o califado omíada, marcando o início de uma dinastia em que a sucessão se tornou hereditária. Este período foi marcado por tensões e conflitos constantes entre os apoiantes de Ali e os governantes omíadas. O filho de Muawiya, Yazid, é particularmente impopular na tradição xiita pelo seu papel no massacre de Husayn, filho de Ali, na batalha de Kerbala, em 680. Este trágico acontecimento está no centro da comemoração xiita da Ashura e simboliza a luta contra a injustiça e a opressão. Estas primeiras divisões e conflitos no seio do Islão lançaram as bases das diferenças doutrinais, políticas e culturais que caracterizam as relações entre sunitas, xiitas e kharijitas até aos nossos dias. Estes acontecimentos não só moldaram a história do mundo muçulmano, como também tiveram um profundo impacto na política, na sociedade e na cultura das regiões onde o Islão é praticado.

A Batalha de Kerbala e o seu impacto no xiismo

A Batalha de Kerbala, que teve lugar no Iraque em 680 d.C., é um dos acontecimentos mais trágicos e significativos da história do Islão, sobretudo para os xiitas. A batalha opôs Husayn ibn Ali, neto de Maomé e figura central do xiismo, às forças do califa omíada Yazid I. Husayn, juntamente com um pequeno grupo de apoiantes e familiares, tinha viajado para Kerbala para contestar a legitimidade do califado omíada, que os xiitas consideravam ilegítimo e corrupto. As forças de Yazid, muito superiores, cercaram Husayn e os seus apoiantes. Apesar das ofertas de rendição, Husayn optou por resistir, o que levou a uma batalha desigual em que ele e quase todos os seus companheiros foram mortos. A morte de Husayn em Kerbala tornou-se um símbolo poderoso de resistência à opressão e de sacrifício pela justiça na tradição xiita. A sua morte é comemorada todos os anos durante o mês de Muharram, especialmente no dia de Ashura, quando os xiitas de todo o mundo recordam o seu martírio com rituais de luto e comemoração.

MOMCENC - Califat Omeyyade.png

Este mapa histórico ilustra o mundo mediterrânico por volta de 750 d.C., destacando a extensão territorial do califado omíada no seu apogeu, bem como as outras entidades políticas importantes do período.

A área a verde representa o Califado Omíada, que se estendia desde a Península Ibérica (Al-Andalus), a leste, até às fronteiras da Índia, abrangendo o Magrebe, o Egipto, a Península Arábica e vastas regiões do Médio Oriente. O Califado Omíada, com Damasco como capital, expandiu-se rapidamente após as conquistas muçulmanas que tiveram início no século VII. A inclusão de cidades como Córdova, Sevilha e Toledo mostra a extensão do seu poder na Europa, enquanto cidades como Kairouan, no Norte de África, e Fustat, no Egipto, realçam a sua presença em África. A vermelho, vemos o reino franco sob o reinado de Pepino, o Breve. Os francos, sob a liderança de Carlos Martel, travaram o avanço omíada na Europa na Batalha de Poitiers, em 732, que é frequentemente considerada como um momento decisivo na contenção da expansão islâmica na Europa Ocidental. A cor azul indica o Império Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente, que manteve a sua capital em Constantinopla (atual Istambul). Apesar de ter perdido território para os árabes, o Império Bizantino conseguiu resistir e manter regiões importantes como a Anatólia, os Balcãs e partes de Itália, como o demonstra a presença de Siracusa e Ravena no mapa. O Reino Lombardo, não destacado no mapa mas presente na região do Norte de Itália, é outra entidade política deste período que acabou por ser conquistada pelos Francos. Por último, a pequena área a castanho claro representa o Reino das Astúrias, situado no noroeste da Península Ibérica. Este foi um dos primeiros reinos cristãos estabelecidos após o início da conquista muçulmana de Espanha e é considerado um antecessor dos reinos cristãos que mais tarde reconquistaram os territórios sob controlo muçulmano durante a Reconquista. O mapa reflecte, portanto, um período de grandes transições geopolíticas, com dinâmicas trocas de poder entre reinos e impérios, e representa demarcações territoriais numa época em que a Europa e o Médio Oriente eram profundamente influenciados por conflitos e trocas entre cristãos e muçulmanos.

Ascensão e queda do Califado Omíada

A dinastia omíada, fundada por Muawiya após a morte de Ali, estabeleceu a sua capital em Damasco e governou um vasto império que se estendia de Espanha à Índia. Sob os omíadas, o império muçulmano conheceu uma expansão considerável e uma certa unificação, embora o seu reinado tenha sido marcado por tensões internas, nomeadamente com os seguidores de Ali e as comunidades xiitas. O califado omíada chegou finalmente ao fim em 750 d.C., derrubado pela revolução abássida. Os abássidas, que transferiram a capital do império para Bagdade, estabeleceram uma nova dinastia que marcou um ponto de viragem na história islâmica, com um renascimento cultural, científico e político. A queda dos Omíadas marcou também uma nova fase na divisão sunita-xiita, com os xiitas a continuarem a desenvolver-se como uma comunidade distinta com as suas próprias doutrinas e práticas religiosas.

MOMCENC - Califat Abbasside.png

O mapa histórico apresentado representa a Europa e o Médio Oriente por volta do ano 880 d.C. Ilustra a complexa geopolítica da época, marcada por um mosaico de reinos, impérios e dinastias. A zona verde representa o Califado Abássida, em declínio, que sucedeu aos Omíadas e cuja capital era Bagdade. Esta entidade viveu uma época dourada de desenvolvimento científico, cultural e económico, mas durante este período a sua influência política começou a diminuir devido a revoltas internas e à pressão das potências emergentes. Havia vários reinos em Espanha, incluindo Leão, Navarra e Aragão, para além de territórios ainda sob controlo muçulmano, como os governados pelo emirado omíada de Córdova, representados a verde axadrezado. Estas regiões muçulmanas de Espanha, conhecidas como Al-Andalus, eram centros de aprendizagem e de cultura onde coexistiam muçulmanos, cristãos e judeus. A área com riscas vermelhas e brancas indica os Estados Papais sob autoridade papal, centrados em Roma, simbolizando o poder papal na península italiana. As zonas laranja e amarela representam o Reino Franco, dividido em Francia Ocidental e Francia Oriental. Por esta altura, o Império Carolíngio, uma vez unificado sob Carlos Magno, tinha-se fragmentado, levando à formação do que viria a ser a França e a Alemanha. O Império Bizantino, a azul claro, com Constantinopla como capital, embora enfraquecido por lutas internas e conflitos externos, manteve a sua presença no Mediterrâneo oriental, incluindo regiões como a Anatólia, os Balcãs e partes do sul de Itália. No Norte de África, as dinastias Aghlabid e Idrisid, bem como os Rustamids (de verde com riscas), todos eles resultantes de dissidências ou ramos do grande movimento islâmico, estabeleceram reinados autónomos, com diferentes graus de fidelidade ou independência em relação ao califado abássida. Por último, o Reino Búlgaro, representado a roxo, representa outra potência significativa deste período, tendo estendido a sua influência aos Balcãs e desafiando por vezes o Império Bizantino. Este mapa revela a fragmentação política do período, com a ascensão de novas potências, a descentralização do poder e a complexa interação entre diferentes autoridades religiosas e seculares. Representa um período de transição entre a era carolíngia e o início da formação dos Estados-nação europeus, ao mesmo tempo que mostra o enfraquecimento gradual dos califados islâmicos face ao aumento das forças internas e externas.

Ascensão e queda do Califado Abássida

A transição da dinastia omíada para a dinastia abássida, em 750 d.C., representou um importante ponto de viragem na história islâmica. A revolta que levou à queda dos omíadas foi amplamente apoiada pelos muçulmanos que procuravam uma mudança, em especial os xiitas e os não-árabes (como os persas), que se tinham sentido marginalizados sob o domínio omíada. Com a ascensão dos abássidas, que reivindicavam a descendência do tio de Maomé, Abbas ibn Abd al-Muttalib, o centro do poder deslocou-se de Damasco para Bagdade. Este período, frequentemente considerado a idade de ouro do Islão, foi marcado por avanços significativos na ciência, cultura, filosofia, medicina e direito. Os abássidas encorajaram o patrocínio da ciência e das artes, atraindo académicos, artistas e pensadores de todo o império e não só.

No entanto, o califado abássida começou a entrar em declínio no final do século XI, em grande parte devido às Cruzadas. Estas foram guerras levadas a cabo pelas potências cristãs europeias para recuperar o controlo dos locais sagrados da Terra Santa. Embora as Cruzadas não tenham derrubado diretamente os Abássidas, enfraqueceram o Califado, esgotando os seus recursos e exacerbando as divisões internas. Ao mesmo tempo, a partir de meados do século XIII, as invasões mongóis representaram uma ameaça ainda maior para o mundo islâmico. Os mongóis, liderados por chefes como Gengis Khan e os seus sucessores, conquistaram vastos territórios na Ásia, incluindo regiões muçulmanas.

O ponto alto deste período de crise para os abássidas foi a tomada de Bagdade pelos mongóis, em 1258, sob a liderança de Hulagu Khan. Esta conquista não só marcou o fim do califado abássida, como também provocou uma destruição maciça e a perda de vidas humanas, pondo fim à idade de ouro da civilização islâmica. No final do século XIII, o mundo islâmico encontrava-se profundamente transformado, entre as Cruzadas, a oeste, e as invasões mongóis, a leste. Estes acontecimentos não só alteraram a estrutura política do Islão, como também tiveram um impacto duradouro no seu desenvolvimento cultural, científico e religioso.

Entre 1258 e 1500, o mundo muçulmano permaneceu muito frágil entre as Cruzadas e os Mongóis. A criação do Império Otomano e do Império Sefevídeo (1501-1736) estabilizaram-no.

MOMCENC - the gunpowder empires.png

O mapa mostra a distribuição geográfica dos três grandes impérios muçulmanos dos séculos XVI a XVIII, frequentemente designados por "Impérios da Pólvora" devido à sua utilização inovadora da pólvora na expansão militar e na consolidação do poder. Estes impérios foram o Império Otomano, o Império Safávida e o Império Mughal. O Império Otomano, a verde, com capital em Constantinopla (atual Istambul), estendia-se pela Anatólia, Médio Oriente, parte do Norte de África e os Balcãs até à Europa. Foi um império que não só fez uma utilização revolucionária da pólvora, como também deixou um legado duradouro na região em termos de arquitetura, administração e cultura. A área a laranja representa o Império Safávida, centrado na Pérsia (atual Irão). Os Safávidas são famosos por terem estabelecido o xiismo duodecimal como religião oficial do Império, o que ajudou a moldar a identidade religiosa da região. A capital safávida era Isfahan, famosa pela sua esplêndida arquitetura e pelo seu papel como centro de artes e comércio. Na púrpura, o Império Mughal cobre uma grande parte do subcontinente indiano. Fundado por Babur, um descendente de Tamerlão e de Gengis Khan, o Império Mogol é conhecido pela sua riqueza, pelo seu patrocínio das artes e da arquitetura - como o famoso Taj Mahal - e pela sua administração relativamente progressista e pluralista sob imperadores como Akbar. Este mapa ilustra um período em que estes impérios dominaram a política e o comércio mundiais, graças, em parte, aos seus avanços militares e ao seu poder económico. O seu legado reflecte-se nas fronteiras, línguas, religião e cultura modernas das regiões que governaram. O período dos Impérios da Pólvora foi também marcado por importantes intercâmbios culturais e científicos, frequentes guerras territoriais e um florescente comércio intercontinental.

A tomada do Cairo pelos otomanos em 1517 foi outro marco importante na história islâmica, assinalando a expansão do Império Otomano e a sua reivindicação do título de Califado. Este período marcou o início da hegemonia otomana sobre uma grande parte do mundo muçulmano, que se prolongaria por vários séculos. Sob o comando de Selim I, os otomanos derrotaram o sultanato mameluco do Egipto e da Síria, estendendo o seu império pelo Médio Oriente, Norte de África e partes da Europa. Com esta expansão, Selim I reivindicou o título de califa, afirmando não só o poder político, mas também a autoridade religiosa sobre os muçulmanos sunitas. A transferência do centro do Califado para Istambul, a capital otomana, reforçou a posição do Império Otomano como uma grande potência, tanto no mundo islâmico como na cena internacional. No entanto, no final do século XIX, o Império Otomano estava em declínio. Confrontado com desafios internos e externos, incluindo a ascensão do nacionalismo nos seus territórios, a concorrência das potências europeias e problemas económicos, o império começou a perder influência e território.

Apesar deste declínio, o Império Otomano manteve o título de Califado até à sua abolição. Embora o título de Califa tenha perdido muito do seu significado político efetivo, manteve a sua importância simbólica e religiosa. O califa continuava a ser considerado por muitos muçulmanos como o líder espiritual da comunidade sunita, mesmo que esta posição já não fosse apoiada por um poder político ou militar substancial. O fim do Império Otomano e a abolição do Califado após a Primeira Guerra Mundial, em 1924, pela República da Turquia de Mustafa Kemal Atatürk, marcaram o fim de uma era na história islâmica. Este facto deixou um vazio em termos de liderança religiosa sunita que continua a influenciar a dinâmica política e religiosa no mundo muçulmano contemporâneo.

A abolição do califado e a modernização da Turquia

A abolição do Califado em 1924 por Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da República da Turquia, representou um momento decisivo na história moderna do mundo muçulmano. Esta decisão marcou o fim oficial da instituição do Califado, que tinha sido uma caraterística central da governação islâmica durante quase treze séculos. Mustafa Kemal Atatürk, um líder reformista e visionário, estava determinado a modernizar e secularizar a Turquia na sequência da queda do Império Otomano após a Primeira Guerra Mundial. No âmbito das suas reformas radicais, procurou transformar a Turquia num Estado-nação secular, afastando-se das estruturas e ideologias do Império Otomano. A abolição do Califado foi um passo fundamental neste processo. Em março de 1924, a Assembleia Nacional Turca aboliu o Califado, expulsando o último califa, Abdülmecid II, e marcando o fim de uma das instituições mais antigas e simbólicas do Islão. A decisão foi motivada pelo desejo de Atatürk de promover uma identidade nacional turca e reduzir a influência do Islão na política do Estado.

A abolição do Califado teve um profundo impacto no mundo muçulmano. Deixou um vazio de liderança religiosa no Islão sunita e levantou questões sobre a autoridade religiosa e política no Islão. Muitos muçulmanos em todo o mundo ficaram chocados com a decisão, que suscitou um debate sobre a natureza da liderança no Islão e o papel da religião na sociedade moderna. Desde então, nenhum Estado ou movimento conseguiu restabelecer o Califado de uma forma amplamente reconhecida, embora o conceito de Califado tenha continuado a ocupar um lugar de destaque no discurso islâmico. A abolição do califado por Atatürk continua a ser um acontecimento significativo na história do Islão e continua a influenciar os debates sobre a relação entre o Islão e o Estado no mundo muçulmano contemporâneo.

O aparecimento e a queda do Estado Islâmico do Daesh

Entre 2014 e 2019, teve lugar um acontecimento marcante no contexto contemporâneo do Islão com a autoproclamação de Abu Bakr al-Baghdadi como Califa. Al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico no Iraque e na Síria (EIIS), também conhecido como Daesh, declarou a formação de um califado sobre os territórios sob o controlo da sua organização no Iraque e na Síria. Esta proclamação, feita em junho de 2014, foi amplamente rejeitada pela comunidade muçulmana mundial, tanto pelos líderes religiosos como pelos governos. As acções e a ideologia do Daesh foram condenadas por serem flagrantemente contraditórias com os princípios e os ensinamentos do Islão. A brutalidade e o extremismo do Daesh, incluindo os seus actos de violência, as execuções em massa e as violações dos direitos humanos, foram universalmente denunciados.

O chamado califado do Daesh tentou estabelecer uma governação baseada numa interpretação extrema e literal da lei islâmica, mas deparou-se com oposição e hostilidade tanto a nível local como internacional. Foi formada uma coligação internacional, incluindo muitos países muçulmanos, para combater o Daesh, o que resultou na perda gradual do seu território e no enfraquecimento significativo da organização. Em outubro de 2019, Abu Bakr al-Baghdadi foi morto numa operação militar dos EUA na Síria, um golpe para a liderança do Daesh e que simboliza o fim efetivo do seu chamado califado. Este período pôs em evidência os desafios que o mundo muçulmano contemporâneo enfrenta, nomeadamente no que diz respeito às questões do extremismo, da governação e da identidade islâmica. A tentativa de Al-Baghdadi de reavivar o conceito de califado foi vista como uma distorção dos princípios islâmicos e levantou questões importantes sobre o futuro da governação e da autoridade religiosa no Islão.

Período pré-islâmico e era da ignorância: "Jahiliya"

A noção de "Jahiliya" no Islão é um conceito-chave para compreender a perceção muçulmana da história e da sociedade. Jahiliya, que se traduz literalmente por "período de ignorância", refere-se à era pré-islâmica na Arábia, antes da revelação do Corão ao profeta Maomé no século VII. Este período é frequentemente caracterizado nas fontes islâmicas como um período de escuridão moral e espiritual. A Jahiliya está associada a práticas consideradas incompatíveis com os ensinamentos do Islão, como o politeísmo, a injustiça social, a decadência moral e os conflitos tribais. A mensagem do Islão, com a sua ênfase no monoteísmo, na ética, na justiça social e na formação de uma comunidade unida pela fé num Deus único, é, portanto, vista como uma rutura radical com as tradições e práticas da Jahiliya.

No discurso islâmico contemporâneo, o termo Jahiliya é por vezes utilizado para descrever situações ou sociedades consideradas distantes dos princípios islâmicos, mesmo para além do contexto árabe pré-islâmico. Alguns intelectuais e pensadores muçulmanos utilizaram o conceito de Jahiliya para criticar o que consideram ser aspectos corruptos ou anti-islâmicos da sociedade moderna, incluindo nas próprias sociedades muçulmanas. Contudo, esta utilização do termo Jahiliya num contexto contemporâneo é frequentemente controversa e debatida no seio da comunidade muçulmana. Para a maioria dos muçulmanos, Jahiliya continua a ser sobretudo um conceito histórico, que se refere especificamente à Arábia pré-islâmica e às suas tradições. Jahiliya é uma noção importante no Islão, uma vez que simboliza não só um passado histórico, mas também um estado de ser que o Islão procura transcender através dos seus ensinamentos sobre espiritualidade, moralidade e comunidade. Em termos espaciais, Dar al Islam (terra do Islão) e Dar al Harb (terra de guerra). Existe também uma diferença entre os povos: os do livro (Al-Kithab), que aderem às religiões monoteístas e são convidados a aderir ao Islão, e os outros (que desaparecem).

O estatuto dos não-muçulmanos no Islão: "Dhimmi"

No contexto histórico do Islão clássico, o conceito de "dhimmi" é uma noção importante para compreender a forma como as sociedades muçulmanas interagiam com os não muçulmanos. Os dhimmis são cidadãos não muçulmanos que vivem num Estado islâmico, gozando de proteção especial e de certos direitos ao abrigo da lei islâmica, embora estejam sujeitos a certas restrições e obrigações. De acordo com os princípios da Sharia (lei islâmica), os dhimmis eram sobretudo adeptos de religiões monoteístas, como o cristianismo e o judaísmo. Eram autorizados a praticar a sua religião, a administrar os seus próprios assuntos comunitários e eram protegidos pelo Estado muçulmano. Em troca desta proteção e do direito de praticar a sua religião, os dhimmis tinham de pagar um imposto especial denominado "jizya". A jizya era vista como um símbolo da submissão dos dhimmis à autoridade muçulmana e em troca da isenção do serviço militar, que era obrigatório para os cidadãos muçulmanos.

Esta abordagem baseava-se em parte nos ensinamentos do Corão e da Sunna (tradição do Profeta Maomé), que preconizam a tolerância para com o "Povo do Livro" (Ahl al-Kitab), termo utilizado para designar os judeus e os cristãos que, tal como os muçulmanos, aderem às escrituras reveladas. É importante notar que a aplicação destes princípios tem variado ao longo do tempo e de região para região. Nalgumas épocas e regiões, os dhimmis gozavam de considerável liberdade e tolerância, enquanto noutros contextos podiam estar sujeitos a restrições e discriminações mais rigorosas.

Com o declínio dos impérios islâmicos tradicionais e a ascensão dos Estados-nação modernos, o estatuto de dhimmi perdeu gradualmente o seu significado prático. No mundo muçulmano contemporâneo, os princípios da cidadania e da igualdade de direitos, independentemente da religião, substituíram em grande medida o sistema tradicional de Dhimma. No entanto, o conceito histórico de Dhimma continua a ser um tema de interesse e de debate entre estudiosos e pensadores, tanto para compreender a história do Islão como pelas suas implicações nas relações inter-religiosas contemporâneas.

Tolerância e o tratamento do "Povo do Livro"

O conceito de "Povo do Livro" (Ahl al-Kitab) no Islão, que se refere principalmente a judeus e cristãos, está centrado na tolerância e não na igualdade no sentido moderno do termo. Nas sociedades islâmicas medievais, este estatuto era uma forma de reconhecer e respeitar a presença de comunidades religiosas não muçulmanas no seio do Estado islâmico, estabelecendo simultaneamente um quadro jurídico específico para a sua integração e interação com a maioria muçulmana.

Os princípios da Sharia (lei islâmica) concedem ao Povo do Livro determinados direitos e protecções enquanto comunidades monoteístas com escrituras reveladas. Foram autorizados a praticar a sua religião, a manter os seus locais de culto e a ser julgados de acordo com as suas próprias leis em matéria de casamento, divórcio e outros assuntos pessoais. No entanto, este estatuto não implicava uma igualdade total com os muçulmanos no quadro político e social da época. Os dhimmis (não muçulmanos que viviam sob a proteção dos muçulmanos) tinham de pagar um imposto especial, a jizya, e estavam frequentemente sujeitos a determinadas restrições legais e sociais. Por exemplo, podiam ser impedidos de construir novos locais de culto ou de manifestar publicamente a sua fé. Estavam também isentos do serviço militar, que era obrigatório para os muçulmanos.

É importante sublinhar que a aplicação e a interpretação destas regras variavam consideravelmente consoante a época e a região. Em alguns contextos históricos, as comunidades do Povo do Livro floresceram sob o domínio muçulmano, contribuindo significativamente para a sociedade, a cultura e a economia. Noutros casos, enfrentaram restrições e discriminações mais severas. No contexto contemporâneo, o conceito de Povo do Livro e o estatuto de Dhimmi perderam grande parte da sua relevância prática, uma vez que os Estados muçulmanos modernos se orientam geralmente para princípios de cidadania e de igualdade de direitos, independentemente da religião. No entanto, estes conceitos históricos continuam a ser importantes para compreender a forma como as sociedades islâmicas medievais geriam a diversidade religiosa e as relações intercomunitárias.

Divergências e pontos em comum: Sunnismo vs Xiismo

A tradição xiita e as suas diferentes interpretações

Para os xiitas, a legitimidade da liderança após a morte de Maomé baseia-se no princípio da designação divina e na linhagem familiar do Profeta. Consideram que o califado deveria ter cabido a Ali ibn Abi Talib, primo e genro de Maomé, e aos seus descendentes, os imãs. Os xiitas acreditam que estes imãs, que provêm da linhagem de Ali e Fátima (filha de Maomé), possuem uma autoridade espiritual e temporal única devido à sua relação de sangue com Maomé e à sua designação divina. Esta crença deu origem a uma forte cultura de martírio no xiismo, particularmente em resultado das tragédias e perseguições sofridas por Ali e pelos seus descendentes, em particular Husayn ibn Ali, que foi morto na Batalha de Kerbala. O martírio de Husayn é central no xiismo, simbolizando a luta contra a injustiça e a tirania.

Por outro lado, a maioria sunita do Islão não reconhece a autoridade religiosa hereditária dos imãs xiitas. Para os sunitas, o califa deve ser escolhido por consenso ou eleição entre a comunidade muçulmana (Ummah) e não precisa de ser um descendente direto de Maomé. Os sunitas centram-se na Sunna, os ensinamentos e práticas de Maomé, como fonte de autoridade religiosa, e rejeitam a ideia de que é necessária uma autoridade intermédia específica entre Deus e o crente. Para eles, os académicos religiosos (ulama) e os juristas (fuqaha) desempenham um papel importante na interpretação do Corão e da Sunna, mas não são considerados como tendo autoridade divina ou infalível. Estas diferenças entre xiitas e sunitas em termos de liderança, autoridade e interpretação religiosa estão na origem de muitas das diferenças teológicas, rituais e políticas que caracterizam estes dois ramos principais do Islão.

O xiismo está subdividido em vários ramos, cada um com a sua própria interpretação da sucessão de imãs depois de Ali ibn Abi Talib, o primeiro imã segundo os xiitas. Os zayditas, que se encontram principalmente no Iémen, reconhecem Zayd ibn Ali, neto de Husayn, como o seu quinto imã. Distinguem-se dos outros xiitas por não exigirem que o Imã seja um descendente direto de Husayn através do seu filho mais velho. Os Zayditas desempenharam um papel importante na história do Iémen e continuam a influenciar a política iemenita. Os ismaelitas, por seu lado, seguem a linhagem dos imãs até ao sétimo, Ismail ibn Jafar, de quem tiraram o nome. Divergiram do dualismo após o sexto imã, Jafar al-Sadiq, reconhecendo Ismail como o imã legítimo seguinte. Os Ismailis são conhecidos pela sua interpretação esotérica do Corão e pela sua rica tradição intelectual. Este ramo deu origem à ordem dos Assassinos na Idade Média e é atualmente representado pelo Aga Khan.

O xiismo duodecimano, maioritário entre os xiitas actuais, reconhece uma sucessão de doze imãs, o último dos quais é Muhammad al-Mahdi. Nascido em 868, o décimo segundo imã, de acordo com as crenças duodecimanas, entrou em ocultação em 941. Os duodecimanos acreditam que ele regressará no final dos tempos como o Mahdi, para estabelecer a justiça e a paz. Esta crença no Imã Oculto é um elemento central da teologia duodecimal e desempenha um papel importante nas expectativas escatológicas dos xiitas. O xiismo, com os seus vários ramos, representa assim uma tradição rica e diversificada no seio do Islão, caracterizada por uma ênfase particular na figura do Imã, na espiritualidade e na expetativa do regresso do Mahdi.

Islão sunita: escolas jurídicas e teológicas

No Islão sunita, a diversidade de interpretações jurisprudenciais e teológicas deu origem a várias escolas de pensamento, conhecidas como Madhahib. Estas escolas não representam divisões sectárias, mas sim diferentes abordagens metodológicas para interpretar a Sharia, a lei islâmica. As quatro principais escolas são os hanafitas, os malequitas, os shafiitas e os hanbalitas.

A escola Hanafi, fundada por Abu Hanifa no século VIII, é conhecida pela sua abordagem racional da jurisprudência. Abu Hanifa, um pioneiro no domínio da fiqh (jurisprudência islâmica), sublinhou a importância da razão e da opinião pessoal (ra'y) na interpretação dos textos religiosos. Esta escola é particularmente influente no Sul da Ásia, na Turquia e nos Balcãs. A escola malequita, criada por Malik ibn Anas, dá ênfase às práticas e tradições da comunidade de Medina, considerada um modelo de sociedade islâmica, uma vez que foi aí que o Profeta Maomé passou os últimos anos da sua vida. Predominante no Norte de África e em partes da África subsaariana, esta escola distingue-se pela sua adesão aos hadith, os relatos dos actos e ditos do profeta. Al-Shafii, fundador da escola shafiita no início do século IX, introduziu um sistema rigoroso que combina a tradição (hadith) com a analogia (qiyas) e o consenso (ijma). Os seus ensinamentos desempenharam um papel crucial na codificação da jurisprudência islâmica. Esta escola é amplamente seguida no Egipto, no Sudeste Asiático e em partes da África Oriental. Por último, a escola hanbalita, iniciada por Ahmad ibn Hanbal, é considerada a mais conservadora das quatro. Ibn Hanbal era um fervoroso defensor do hadith como principal fonte da lei islâmica, rejeitando a utilização da razão humana na interpretação dos textos sagrados. A sua escola teve uma influência notável na Arábia Saudita e nos Estados do Golfo.

Estas escolas jurídicas reflectem a diversidade e a riqueza do pensamento islâmico sunita. Ajudaram a moldar a forma como os muçulmanos compreenderam e praticaram a sua fé ao longo dos séculos. Embora existam diferenças entre estas escolas em termos de metodologias e conclusões jurisprudenciais, partilham um respeito mútuo e são todas reconhecidas como interpretações válidas da lei islâmica no mundo sunita. Esta diversidade reflecte a capacidade do Islão de se adaptar a diferentes contextos culturais e históricos, mantendo um quadro coerente de crenças e práticas.

O Médio Oriente, rico em diversidade cultural e religiosa, alberga uma série de grupos religiosos que, embora partilhando raízes com o Islão xiita, desenvolveram crenças e práticas distintas. Estes grupos, frequentemente rotulados de sincréticos ou heterodoxos, incluem os alauítas na Síria, os qizilbash no Irão e na Anatólia, os drusos, principalmente no Líbano, na Síria e em Israel, e os alevitas na Turquia.

Os alauítas, concentrados na Síria, evoluíram do xiismo duodecimano e incorporaram elementos do gnosticismo, do cristianismo e de outras tradições. A sua veneração de Ali como manifestação divina e outros aspectos da sua teologia distinguem-nos das principais correntes do Islão. Esta crença particular em Ali tem sido frequentemente uma fonte de tensão com as comunidades tradicionais sunitas e xiitas. Os Qizilbash, originários da Anatólia e do Irão, desempenharam um papel fundamental no estabelecimento do Império Safávida no Irão, e a sua prática do xiismo venerava a família real safávida. O termo "Qizilbash" tem sido historicamente utilizado para designar uma variedade de grupos xiitas turcos, caracterizados pela sua lealdade aos Safávidas. Os drusos, cuja presença é notável no Líbano, na Síria e em Israel, surgiram do xiismo ismaelita no século XI. A sua fé incorpora a crença na reencarnação e outras doutrinas únicas, e praticam um certo secretismo religioso. Os drusos não procuram converter os outros e concentram-se na sua própria comunidade. Na Turquia, os alevitas constituem um grupo distinto, que mistura elementos do xiismo, do sufismo e das tradições pré-islâmicas da Anatólia. Valorizam o amor, a tolerância e a espiritualidade e diferem das práticas ortodoxas sunitas e xiitas nos seus ritos de culto e crenças.

Estas comunidades, com as suas práticas e interpretações teológicas únicas, ilustram o rico mosaico religioso do Médio Oriente. As suas tradições, frequentemente marcadas por um sincretismo de crenças e práticas, reflectem as influências históricas, culturais e religiosas da região. Embora por vezes vistas com desconfiança ou hostilidade pelas correntes islâmicas mais ortodoxas, estas comunidades continuam a desempenhar um papel importante no tecido social e cultural dos respectivos países, testemunhando a diversidade e a complexidade das paisagens religiosas do Médio Oriente.

Anexos

Referências