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Version actuelle datée du 28 janvier 2024 à 10:52

"O mundo real começa aqui.... O que pensamos sobre estes acontecimentos e possibilidades [por exemplo, em lugares como a Bósnia e o Ruanda, as guerras mundiais e as perspectivas da política mundial no século XXI], e o que pensamos poder fazer em relação a eles, depende, num sentido fundamental, da forma como pensamos sobre eles. Em suma, o nosso pensamento sobre o mundo "real" e, consequentemente, as nossas práticas, está diretamente relacionado com as nossas teorias, pelo que, enquanto pessoas interessadas e preocupadas com o mundo real, temos de estar interessados e preocupados com a teoria: Quais são os legados das teorias do passado? Que factos foram mais importantes na formação das nossas ideias? Que vozes são ignoradas? Podemos saber e como podemos sabê-lo? Para onde vai a teoria? Quem somos nós? O mundo real é constituído pelas respostas dominantes a estas e outras questões teóricas". Assim escrevem Steve Smith, Ken Booth e Marysia Zalewski na introdução de "International theory: positivism & beyond". Esta afirmação liga intrinsecamente o estudo da teoria das relações internacionais ao próprio tecido da nossa realidade global. Afirma que a nossa compreensão e interacções com o mundo não são independentes dos quadros teóricos; pelo contrário, estão profundamente interligados. É através do prisma destas teorias que interpretamos acontecimentos como os conflitos na Bósnia e no Ruanda ou contemplamos a forma da política mundial do século XXI.

Os autores sublinham que as nossas reflexões sobre estes acontecimentos e as possíveis acções que tomamos são moldadas pelo nosso ponto de vista teórico. Defendem que a teoria não é abstrata, mas antes um instrumento prático que informa e influencia a nossa compreensão e as nossas acções. Obrigam-nos a reconhecer a importância da teoria no mundo real e a reconhecer que as teorias não são apenas construções académicas, mas são essenciais para moldar a nossa perceção dos acontecimentos globais e as nossas respostas aos mesmos. Os autores também nos desafiam a considerar o legado histórico das teorias das RI. Ao examinar o passado, podemos compreender como as ideias anteriores influenciaram as normas e políticas internacionais actuais. Exortam-nos a ter um olhar crítico sobre os factos que historicamente moldaram as ideias dominantes e a questionar as vozes que foram marginalizadas neste processo. Este apelo à inclusão e à investigação crítica é fundamental na sua argumentação, defendendo uma abordagem mais abrangente que incorpore diversas vozes e perspectivas, especialmente aquelas que têm sido historicamente ignoradas.

Aprofundando a natureza da própria teoria, Smith, Booth e Zalewski pedem-nos para confrontar os fundamentos do conhecimento e do ser nas relações internacionais. Apresentam um desafio aos pressupostos epistemológicos e ontológicos padrão, obrigando-nos a lidar com questões de verdade, realidade e construção do conhecimento no domínio das relações internacionais. Olhando para o futuro, questionam a direção da teoria das RI e reflectem sobre a identidade e o objetivo das pessoas envolvidas neste campo. Incentivam uma posição prospetiva e reflexiva sobre o papel dos teóricos e dos profissionais na formação do discurso internacional. Por último, propõem que o "mundo real" seja constituído pelas respostas às questões teóricas. Isto sugere que a teoria não é meramente descritiva ou explicativa, mas constitutiva - está envolvida na criação do mundo que descreve. Neste sentido, a teoria e a prática não estão separadas; estão interligadas, com a teoria a participar ativamente na construção da realidade internacional.

Na sua essência, esta citação de Smith, Booth e Zalewski não é apenas uma declaração de abertura profunda para um curso sobre teoria das RI, mas também uma declaração abrangente do papel imperativo que a teoria desempenha na nossa compreensão e prática das relações internacionais. É um convite para embarcar numa viagem que explora a intrincada relação entre teoria e prática e prepara o terreno para uma exploração exaustiva do complexo mundo da política internacional.

Compreender a Teoria das RI[modifier | modifier le wikicode]

Distinção entre Relações Internacionais (Maiúsculas) e Relações Internacionais (Minúsculas)[modifier | modifier le wikicode]

No contexto da citação da introdução de Steve Smith, Ken Booth e Marysia Zalewski a "International theory: positivism & beyond", a diferenciação entre "Relações Internacionais" com letras maiúsculas e "relações internacionais" com letras minúsculas é significativa. "Relações Internacionais" (em maiúsculas) refere-se à disciplina académica que estuda as relações entre países, incluindo o papel dos Estados, das organizações internacionais, das organizações não governamentais e das empresas multinacionais. É um campo de estudo da ciência política ou de uma disciplina relacionada que engloba uma variedade de quadros teóricos utilizados para analisar e compreender os comportamentos e as interacções à escala global. Por outro lado, "relações internacionais" (minúsculas) refere-se às interacções políticas, económicas, sociais e culturais reais que ocorrem entre Estados soberanos e outros actores na cena internacional. São estes os acontecimentos e práticas do mundo real que o domínio das Relações Internacionais procura compreender e explicar.

A distinção é feita para diferenciar entre o estudo teórico e a análise das interacções globais (Relações Internacionais) e as ocorrências e acções práticas que têm lugar entre os actores na cena mundial (relações internacionais). Esta é uma separação importante porque permite uma maior clareza quando se discute o impacto da teoria na interpretação e compreensão dos acontecimentos do mundo real e vice-versa. Compreender os aspectos abstractos e concretos destes termos é crucial para um envolvimento profundo com a matéria, especialmente no contexto de um curso destinado a descodificar a teoria das Relações Internacionais e o seu impacto.

Diferenciar 'Atualidade' de 'História Contemporânea'[modifier | modifier le wikicode]

Compreender as nuances entre 'atualidade' e 'história contemporânea' é crucial para compreender as complexidades do nosso mundo. Os assuntos actuais são os acontecimentos e questões imediatos que captam a nossa atenção diariamente. São o que vemos nos canais de notícias, lemos nos jornais e discutimos com os colegas. São estes acontecimentos que analistas políticos como Fareed Zakaria comentam, dando-nos a conhecer as suas implicações imediatas e os seus potenciais resultados. Por exemplo, as discussões em curso sobre as negociações relativas às alterações climáticas, as últimas decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou os impactos económicos imediatos de uma decisão da OPEP são exemplos de assuntos actuais. Exigem vigilância e adaptação constantes, uma vez que moldam as decisões políticas e as opiniões públicas do momento. Em contrapartida, a história contemporânea olha para estes mesmos acontecimentos com a vantagem de uma certa distância temporal. Como o historiador Eric Hobsbawm poderia ter articulado, trata-se de colocar os acontecimentos recentes numa narrativa mais alargada para compreender o seu significado histórico e os seus efeitos a longo prazo. Um acontecimento como a queda do Muro de Berlim em 1989 é um excelente exemplo. Durante a sua ocorrência, era um assunto da atualidade; agora, é um tema da história contemporânea, oferecendo uma visão sobre o fim da Guerra Fria e a reconfiguração da política global. A história contemporânea procura analisar e interpretar as causas e os efeitos de tais acontecimentos, recorrendo ao benefício da retrospetiva e a um conjunto mais vasto de fontes que se tornam disponíveis ao longo do tempo. É aqui que o discurso académico desempenha um papel vital, uma vez que académicos como Timothy Garton Ash forneceram relatos abrangentes da época, enriquecendo a nossa compreensão do contexto histórico do período.

Enquanto a atualidade se baseia frequentemente em reportagens em tempo real e análises imediatas, a história contemporânea utiliza metodologias para avaliar criticamente e contextualizar acontecimentos recentes. Por exemplo, a análise contínua da primavera Árabe por académicos como o diretor do POMEPS, Marc Lynch, transformou uma série de acontecimentos actuais num rico campo de investigação histórica, demonstrando o impacto destes acontecimentos na paisagem política do Médio Oriente. Ambos os campos são dinâmicos; à medida que o tempo avança, a linha entre eles esbate-se. Os assuntos actuais de hoje tornam-se a história contemporânea de amanhã. A análise dos assuntos actuais, informada pelo contexto fornecido pela história contemporânea, permite aos decisores políticos, aos académicos e ao público em geral compreender um mundo em rápida mudança. À medida que assistimos ao desenrolar de acontecimentos, como o desenvolvimento da pandemia de COVID-19, envolvemo-nos neles como assuntos actuais. No entanto, os futuros historiadores estudarão estes mesmos acontecimentos como parte da história contemporânea, analisando as suas causas, a eficácia da resposta global e o seu impacto a longo prazo na sociedade. A interação entre a atualidade e a história contemporânea é essencial para moldar a nossa compreensão colectiva do ponto em que nos encontramos no fluxo do tempo e da forma como podemos influenciar o curso dos acontecimentos futuros. São duas faces da mesma moeda, oferecendo lentes diferentes através das quais podemos ver e interpretar o mundo que nos rodeia.

Explorando o âmbito de investigação das RI[modifier | modifier le wikicode]

As Relações Internacionais (RI), enquanto campo de investigação, lançam uma rede ampla e em constante expansão sobre as inúmeras formas como as entidades políticas, económicas, sociais e culturais do mundo interagem umas com as outras. No seu cerne, as RI preocupam-se com o exercício do poder, quer através do poder coercivo da força militar, como analisado por cientistas políticos como Joseph Nye, quer através do poder brando da influência cultural e da diplomacia. Este domínio procura compreender os meandros do direito internacional, o funcionamento interno da diplomacia e o papel das organizações internacionais na promoção da cooperação ou da contenção entre Estados.

A dimensão económica das RI não pode ser subestimada. Este campo analisa o fluxo do comércio, os meandros das finanças internacionais e os processos de globalização que unem as economias numa interdependência complexa - um conceito explorado por Robert Keohane e Joseph Nye. Consideremos o Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA) e o seu sucessor, o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), como telas da vida real onde se desenrolam as teorias da cooperação e do conflito económicos. No que diz respeito à sociedade e à cultura, as RI exploram a forma como as ideias e os valores atravessam as fronteiras, moldando e remodelando as nações. O intercâmbio cultural que acompanha o comércio global, a imigração e as tecnologias de comunicação insere-se neste âmbito. Estudiosos como Alexander Wendt defendem que as próprias identidades e interesses dos Estados são construídos através destas interacções sociais e culturais, que por sua vez influenciam as suas políticas externas e compromissos internacionais.

No domínio da segurança, as RI abordam as preocupações tradicionais da guerra e da paz, mas também se aventuram em novos domínios, como a cibersegurança, reflectindo sobre a forma como as nações se podem proteger na era digital. A proliferação de armas nucleares, as teorias estratégicas que abordam a dissuasão e a política complexa das negociações de desarmamento são temas aqui abordados, com a ajuda de especialistas em segurança como Barry Buzan. O ambiente é outra área crítica de investigação no âmbito das RI, especialmente à medida que questões como as alterações climáticas e a escassez de recursos pressionam a consciência global. Acordos internacionais, como o Acordo de Paris sobre o Clima, representam tentativas práticas de traduzir as preocupações ambientais em política internacional, uma área em que académicos como Jessica Green têm fornecido ideias analíticas.

As considerações éticas também ocupam um lugar de destaque nas RI. Este domínio debate-se com questões de intervenção humanitária, direitos humanos e justiça global. Os debates sobre a intervenção da NATO no Kosovo, em 1999, constituem um exemplo concreto dos dilemas éticos enfrentados pelos Estados no sistema internacional, dilemas que teóricos como John Vincent têm procurado desvendar. Finalmente, o papel da tecnologia na remodelação das relações internacionais é uma área de interesse crescente. Desde a influência da Internet na primavera Árabe até à utilização de drones na guerra, a tecnologia redesenha continuamente o mapa das interacções e estratégias internacionais.

Em suma, as RI são um campo vasto que procura compreender e explicar a complexa trama das interacções globais. Examina os acontecimentos históricos, a atualidade e os cenários preditivos para o futuro, ao mesmo tempo que procura aplicar os conhecimentos académicos aos problemas do mundo real. Desde os corredores da academia, onde os académicos teorizam sobre a natureza da política internacional, até aos corredores do poder, onde estas teorias são testadas e aplicadas, as RI continuam a ser uma área de investigação essencial para quem procura compreender ou influenciar a ordem global.

A existência e a necessidade da teoria das RI[modifier | modifier le wikicode]

Estudo de caso: Obama e os mísseis na Europa[modifier | modifier le wikicode]

A teoria das RI serve de suporte intelectual para compreender o mundo complicado e interligado dos assuntos internacionais. Existe porque o domínio das interacções globais é vasto e cheio de nuances e, sem uma abordagem estruturada, o comportamento dos Estados e dos actores não estatais pode parecer imprevisível e caótico. As teorias das Relações Internacionais destilam estas complexidades em modelos e paradigmas mais compreensíveis, permitindo-nos navegar num mundo repleto de diversas correntes políticas, económicas, sociais e culturais. A necessidade da teoria das RI torna-se evidente quando consideramos as suas várias aplicações. A teoria das RI fornece aos académicos e aos profissionais quadros analíticos para interpretar as acções dos países e das organizações internacionais, lançando luz sobre os motivos subjacentes e os resultados prováveis dessas acções. Por exemplo, quando Kenneth Waltz, uma figura proeminente da teoria neorealista, discutiu o equilíbrio de poder, forneceu uma lente através da qual se pode ver o comportamento dos Estados em termos de dinâmica de poder e preocupações de segurança. Esta perspetiva tem um valor inestimável para os decisores políticos que têm frequentemente de tomar decisões com repercussões internacionais significativas. Além disso, a teoria das RI é indispensável para orientar a definição de políticas. Ao preverem o comportamento provável dos Estados, as teorias podem sugerir as respostas políticas mais eficazes. Podem também dar uma ideia das tendências futuras, como a ascensão de potências emergentes ou o impacto das mudanças económicas globais, permitindo às nações prepararem-se e ajustarem as suas estratégias em conformidade. Os fundamentos teóricos das relações internacionais não são apenas reflexões académicas, mas têm implicações no mundo real, informando e, por vezes, desaconselhando determinadas linhas de ação.

Para ilustrar a utilidade prática da teoria das relações internacionais, podemos analisar o caso da instalação de mísseis na Europa durante a presidência de Obama. Perante a decisão de continuar ou não com o sistema de defesa antimíssil planeado para a Europa de Leste, as deliberações da administração foram influenciadas por uma confluência de ideias teóricas. Um realista poderia defender a instalação do sistema como uma medida necessária para manter o equilíbrio de poder e dissuadir potenciais adversários. Um liberal poderia encarar a situação de forma diferente, sugerindo que o reforço das instituições e acordos internacionais poderia proporcionar uma abordagem mais eficaz e menos conflituosa da segurança. As considerações construtivistas centrar-se-iam no poder das percepções e das narrativas, analisando a forma como o destacamento pode afetar a identidade dos Estados Unidos como líder global e as suas relações com outros países, em particular com a Rússia. A decisão de Obama de rever a estratégia de defesa antimíssil exemplifica a influência da teoria das RI na política internacional da vida real. A política da sua administração foi uma resposta matizada que reflectiu uma compreensão da natureza multifacetada das relações internacionais, informada por quadros teóricos. Demonstrou um equilíbrio entre os imperativos da segurança nacional e o desejo de promover melhores relações com a Rússia e outros actores internacionais.

Os acontecimentos nas relações internacionais apresentam frequentemente uma multiplicidade de desafios, sendo um dos mais significativos a dificuldade em discernir as verdadeiras motivações e intenções subjacentes às acções dos políticos e de outros actores políticos. Este desafio decorre da natureza complexa da comunicação política e dos interesses estratégicos que as nações e os indivíduos têm de navegar.

Os actores políticos operam frequentemente num domínio em que as suas declarações públicas e as razões que apresentam para as suas acções podem não corresponder totalmente às suas verdadeiras intenções ou motivações subjacentes. Esta discrepância pode dever-se a uma série de factores, incluindo a necessidade de manter uma determinada imagem pública, o desejo de apelar a diferentes audiências nacionais ou internacionais, ou a prossecução de objectivos estratégicos que podem não ser palatáveis se expressos abertamente. Por exemplo, considere-se a retórica diplomática que frequentemente rodeia as intervenções militares. Um Estado pode justificar publicamente as suas acções por razões humanitárias, invocando a responsabilidade de proteger os civis de um regime opressivo. No entanto, uma análise mais profunda pode revelar interesses estratégicos, como ganhar influência numa região geopoliticamente importante ou garantir o acesso a recursos. Estudiosos como Mearsheimer, que defendem a teoria realista das relações internacionais, sugerem que as verdadeiras forças motrizes por detrás das acções dos Estados são frequentemente interesses de poder e de segurança, mesmo quando camuflados na linguagem do humanitarismo ou do direito internacional.

Desafios nos acontecimentos das relações internacionais[modifier | modifier le wikicode]

Outro aspeto que contribui para a dificuldade em acreditar nos políticos e em compreender as "verdadeiras" razões da ação social é a prática do segredo e da confidencialidade nos assuntos internacionais. Os Estados classificam frequentemente as informações sobre as suas decisões de política externa, negociações e avaliações dos serviços secretos, invocando preocupações de segurança nacional. Esta prática pode levar a um fosso significativo entre o que é do conhecimento público e os factores reais que influenciam a tomada de decisões. O desafio de chegar às "verdadeiras" razões da ação social nas relações internacionais é ainda mais complicado devido à multiplicidade de actores e interesses envolvidos. Para além dos Estados, existem empresas multinacionais, organizações internacionais, organizações não governamentais e outros actores não estatais, cada um com as suas próprias agendas e perspectivas. Isto cria uma densa rede de interacções em que os verdadeiros motivos podem ser obscurecidos por camadas de complexidade. Esta complexidade exige uma abordagem crítica ao estudo das relações internacionais, em que os académicos e analistas se esforçam por ver para além das explicações superficiais. Devem considerar uma série de factores potenciais, desde interesses económicos a ideologias políticas, desde preconceitos culturais a inimizades históricas, a fim de desenvolver uma compreensão mais abrangente dos acontecimentos internacionais. Por conseguinte, o campo da teoria das RI não serve apenas para interpretar e explicar, mas também para questionar e escrutinar as narrativas apresentadas pelos actores políticos na cena mundial.

No domínio das relações internacionais, é um desafio profundo compreender as motivações e as razões por detrás das acções dos outros, e esta dificuldade é agravada quando consideramos a complexidade das nossas próprias motivações. Quando os actores políticos tomam decisões ou empreendem acções na cena internacional, estão muitas vezes a navegar num labirinto de interesses concorrentes, tanto pessoais como nacionais, explícitos e encobertos. O intrincado processo de tomada de decisões nas relações internacionais envolve a ponderação de vários factores: interesse nacional, ideologia política, ganhos económicos, convicções pessoais e considerações éticas. Estes factores podem alinhar-se ou entrar em conflito uns com os outros, criando uma tapeçaria de motivações difícil de desvendar. Além disso, os actores políticos têm de lidar com a opinião pública, a influência de conselheiros e peritos, as pressões de aliados e adversários e o legado de relações históricas.

O desafio de compreender estas motivações não é exclusivo dos observadores; mesmo os próprios actores podem ter dificuldade em articular toda a gama das suas razões devido a influências subconscientes ou à natureza confidencial de certas informações. Além disso, as razões e motivações apresentadas ao público são frequentemente narrativas simplificadas que servem uma determinada agenda política ou estratégia diplomática, ocultando a verdadeira complexidade do processo de decisão. Por exemplo, um dirigente estatal pode justificar uma intervenção militar com base na proteção da segurança nacional, mas a decisão também pode ser influenciada por interesses económicos na região, pelo desejo pessoal do dirigente de parecer forte e decisivo, ou pelos benefícios estratégicos de uma mudança na dinâmica do poder regional. A interação entre estes factores dificulta a identificação de uma motivação única.

A observação de que é difícil compreender as nossas próprias motivações, quanto mais as dos outros, é particularmente pertinente nas relações internacionais. É aqui que a teoria das RI se torna inestimável, oferecendo modelos e enquadramentos para analisar acções e comportamentos de forma sistemática. O realismo, o liberalismo, o construtivismo e outras teorias das RI fornecem diferentes metodologias para desvendar a intrincada teia de motivações que impulsionam a política internacional. Por conseguinte, a compreensão das motivações nas relações internacionais exige uma abordagem multifacetada que tenha em conta o leque possível de influências sobre os actores políticos. É uma tarefa que exige não só uma capacidade analítica apurada, mas também uma apreciação da profundidade e complexidade do comportamento humano e da natureza opaca da tomada de decisões políticas.

As relações internacionais englobam um mundo social e um mundo material, entrelaçando recursos tangíveis e dinâmicas de poder com crenças, ideias e construções sociais intangíveis. O mundo material das relações internacionais está enraizado na realidade física em que os Estados e os actores operam. Isto inclui territórios geográficos, recursos naturais, recursos militares e sistemas económicos - elementos que são frequentemente centrais nas teorias realistas e liberais das RI. Para os realistas, o mundo material é o palco onde se exerce o poder e se procura a segurança. Os Estados, na sua busca de poder e sobrevivência, medem as suas capacidades em termos materiais, como a riqueza económica e a força militar. A distribuição destas capacidades materiais determina o equilíbrio de poder, que é uma preocupação central da política internacional.

O mundo social das relações internacionais, por outro lado, é composto pelas ideias, identidades, normas e valores que definem e moldam as interacções entre os actores. Os teóricos construtivistas, como Alexander Wendt, defendem que o mundo social é tão real como o mundo material, afirmando que os significados e entendimentos que os actores atribuem aos recursos materiais constituem, na realidade, o seu poder e influência. Por exemplo, o valor da moeda, a legitimidade das fronteiras políticas e a autoridade das organizações internacionais são todos socialmente construídos e mantidos através de crenças e práticas colectivas. No mundo social, as formas não materiais de poder, como a cultura, a ideologia e a legitimidade, desempenham papéis cruciais. A difusão da democracia, a influência do direito internacional e as normas dos direitos humanos fazem parte do tecido social das relações internacionais. Moldam as expectativas, os comportamentos e os resultados na cena internacional. Um exemplo da interação entre os mundos material e social pode ser visto na resposta global às alterações climáticas.

Do ponto de vista material, as alterações climáticas são um desafio que envolve mudanças físicas no ambiente, exigindo respostas tangíveis, como a redução das emissões e a transição para fontes de energia renováveis. Socialmente, porém, a questão está inserida numa complexa rede de crenças, interesses e normas que moldam as políticas e as negociações, como o Acordo de Paris sobre o Clima. O êxito das políticas ambientais internacionais depende não só das capacidades materiais, mas também da vontade social dos Estados e dos actores não estatais de cooperarem e honrarem os seus compromissos. As relações internacionais podem, assim, ser vistas através da lente do material e do social. Os aspectos materiais fornecem a base concreta sobre a qual os Estados e os actores constroem o seu poder e interagem, enquanto os aspectos sociais fornecem o contexto, o significado e as normas que orientam e dão significado a essas interacções. Ambas as dimensões são essenciais para uma compreensão global do modo como as relações internacionais funcionam e evoluem.

A ligação entre as teorias empíricas e normativas no contexto das relações internacionais é, de facto, inevitável e intrínseca. As teorias empíricas visam descrever, explicar e prever o mundo tal como ele é, com base em fenómenos observáveis e mensuráveis. Preocupam-se com factos, padrões e relações causais. As teorias normativas, por outro lado, tratam do mundo como ele deve ser. Concentram-se em juízos éticos, padrões e relações causais. Centram-se em juízos éticos, valores e princípios que devem orientar o comportamento e a política. Esta ligação é inevitável porque a nossa compreensão do mundo (empírica) influencia e molda invariavelmente os nossos juízos sobre como o mundo deve ser (normativa) e vice-versa. As teorias empíricas podem informar as teorias normativas, fornecendo um controlo da realidade sobre o que é exequível na prática, garantindo que os princípios éticos se baseiam no domínio do possível. Por outro lado, as teorias normativas podem desafiar e inspirar a investigação empírica, questionando as condições existentes e propondo novas visões para o futuro que a investigação empírica pode então investigar e avaliar. Por exemplo, a observação empírica do equilíbrio de poder entre os Estados pode conduzir a uma teoria normativa sobre a importância de manter esse equilíbrio para evitar a guerra. Do mesmo modo, o princípio normativo dos direitos humanos pode conduzir a uma investigação empírica sobre as condições em que é mais provável que os direitos humanos sejam respeitados ou violados.

O estudo empírico do funcionamento das instituições internacionais e dos seus efeitos no comportamento dos Estados pode informar as teorias normativas sobre a governação global e a conceção de melhores instituições. Por outro lado, as ideias normativas sobre a justiça podem servir de base a estudos empíricos sobre a distribuição da riqueza e do poder no sistema internacional. Um exemplo concreto desta interação pode ser visto nos debates sobre a intervenção humanitária. As teorias empíricas podem analisar intervenções passadas para determinar padrões de sucesso e de fracasso, quais os Estados com maior probabilidade de intervir e em que circunstâncias. As teorias normativas pegarão então nestas conclusões e aplicarão o raciocínio ético para argumentar a favor ou contra futuras intervenções, tendo em conta as provas empíricas do que é suscetível de conduzir a resultados positivos. A investigação empírica pode estabelecer os parâmetros para o debate normativo, clarificando o que é possível, enquanto a teoria normativa pode alargar o âmbito da investigação empírica, questionando os paradigmas existentes e sugerindo novas áreas de estudo. As duas estão entrelaçadas num diálogo contínuo, cada uma impulsionando a outra. No estudo e na prática das relações internacionais, reconhecer e adotar a ligação entre as teorias empíricas e normativas é essencial para uma compreensão holística do campo.

O objetivo e o impacto das teorias das RI[modifier | modifier le wikicode]

Examinar os problemas conceptuais subjacentes aos acontecimentos do mundo real[modifier | modifier le wikicode]

Actores Estatais vs. Actores Não Estatais nas RI[modifier | modifier le wikicode]

A teoria das RI aprofunda as questões conceptuais fundamentais que informam e, muitas vezes, conduzem os acontecimentos do mundo real que observamos. No centro destes problemas conceptuais está o papel do Estado nas relações internacionais e a forma como este interage com uma série de actores não estatais. O Estado tem sido tradicionalmente visto como o principal ator na teoria das RI, especialmente na perspetiva do realismo clássico, em que o Estado é considerado um ator unitário racional que procura poder e segurança num sistema internacional anárquico. Realistas como Hans Morgenthau e Kenneth Waltz sublinharam a soberania do Estado e a prossecução dos seus interesses nacionais como factores centrais para a compreensão da dinâmica internacional. Contudo, o papel do Estado e as suas interacções com actores não estatais tornaram-se cada vez mais complexos e significativos. Os actores não estatais, incluindo organizações internacionais, organizações não governamentais (ONGs), empresas multinacionais (MNCs) e até redes terroristas, emergiram como actores influentes na cena internacional. Estas entidades podem apoiar, desafiar ou contornar o poder tradicional dos Estados e operam dentro e fora das fronteiras nacionais de formas que as teorias tradicionais centradas no Estado não previram totalmente.

As teorias liberais, por exemplo, defendem que a crescente interligação dos Estados e o aparecimento de actores não estatais contribuem para uma ordem internacional mais cooperativa, facilitada por instituições e interesses mútuos. As teorias da interdependência complexa, propostas por Robert Keohane e Joseph Nye, sugerem que os Estados não são os únicos actores importantes e que a força militar não é a única forma de poder, ou mesmo a mais eficaz, em todas as circunstâncias. Os teóricos construtivistas, como Alexander Wendt, alargaram ainda mais a concetualização do papel do Estado, realçando a importância das ideias, identidades e normas. Defendem que o comportamento do Estado não resulta apenas do poder material, mas é também moldado por estruturas sociais e significados colectivos. Para os construtivistas, a compreensão do papel do Estado exige que se examine a forma como as identidades do Estado são construídas através de interacções com outros Estados e actores não estatais.

O surgimento de questões transnacionais como as alterações climáticas, o terrorismo e as pandemias globais também ilustra a necessidade de considerar os actores não estatais. Estas questões exigem frequentemente a cooperação entre Estados e intervenientes não estatais, como se verifica na resposta global às alterações climáticas, em que coligações internacionais de Estados, ONG e empresas trabalham em conjunto para enfrentar um desafio comum. Neste contexto mais vasto, os acontecimentos actuais não podem ser totalmente compreendidos sem reconhecer os problemas conceptuais mais vastos e subjacentes que a teoria das RI procura clarificar. O papel do Estado continua a ser central, mas é agora visto como parte de um conjunto mais vasto de actores e influências que têm de ser compreendidos na sua inter-relação para dar sentido às relações internacionais contemporâneas.

Ordem Internacional e Anarquia[modifier | modifier le wikicode]

O problema da ordem internacional sem uma autoridade suprema representa um desafio concetual central na teoria das Relações Internacionais e reflecte uma condição frequentemente descrita como "anarquia internacional". Na ausência de um soberano global ou de uma autoridade legal abrangente com o poder de impor regras e resolver disputas de forma autoritária, a teoria das RI questiona a forma como a ordem é estabelecida e mantida entre Estados soberanos.

Os realistas clássicos, como Hans Morgenthau, e os neo-realistas, como Kenneth Waltz, defendem que, neste sistema anárquico, os Estados se preocupam sobretudo com a sua sobrevivência e segurança. Argumentam que, sem um poder superior que garanta a segurança, os Estados têm de confiar na autoajuda, o que conduz a um dilema de segurança em que as acções tomadas pelos Estados para garantir a sua própria segurança - como o aumento das capacidades militares - podem inadvertidamente ameaçar outros Estados e aumentar a instabilidade geral. Os institucionalistas neoliberais, como Robert Keohane, desafiam esta visão algo pessimista, argumentando que, mesmo num sistema internacional anárquico, os Estados podem criar ordem através da cooperação e da formação de instituições e regimes internacionais. Estas estruturas facilitam o estabelecimento de normas e regras que orientam o comportamento dos Estados, reduzem a incerteza e gerem a cooperação em questões de interesse comum. A existência das Nações Unidas e de vários outros organismos internacionais apoia a ideia de que é possível alcançar um certo grau de ordem internacional mesmo na ausência de um governo mundial. Os teóricos construtivistas, incluindo Alexander Wendt, oferecem uma perspetiva diferente, sugerindo que o significado de anarquia não é fixo, mas socialmente construído. Defendem que a natureza da ordem internacional, ou da desordem, é determinada pelas crenças, culturas e identidades partilhadas pelos Estados. Se os Estados virem o sistema internacional como um reino de conflito e competição, actuarão em conformidade. No entanto, se o virem como um espaço de cooperação, isso pode conduzir a relações internacionais mais pacíficas e estáveis.

A ideia de anarquia internacional também levanta questões sobre o papel do direito e das normas internacionais na criação de uma aparência de ordem. Embora o direito internacional não tenha a força coerciva que existe nos Estados soberanos, molda frequentemente o comportamento dos Estados através de uma combinação de obrigações legais, autoridade moral e interesses mútuos. Os Estados aderem normalmente ao direito internacional não só porque é do seu próprio interesse fazê-lo, mas também porque contribui para a previsibilidade e estabilidade das relações internacionais. Os acontecimentos do mundo real testam continuamente as teorias que procuram explicar como a ordem é - ou não é - alcançada no sistema internacional. Os conflitos, as alianças, os acordos comerciais, os tratados internacionais e a evolução das normas internacionais reflectem a luta contínua para estabelecer uma ordem estável na ausência de uma autoridade global. O problema da anarquia internacional continua a ser uma preocupação fundamental da teoria das RI, na medida em que procura compreender a dinâmica que rege o comportamento dos Estados num sistema em que não existe um poder superior que imponha regras e resolva litígios.

Dinâmicas de Poder e Segurança[modifier | modifier le wikicode]

A relação entre poder e segurança é um dos temas mais analisados na teoria das Relações Internacionais (RI). No seu cerne, esta relação gira em torno da noção de que o poder, quer em termos de força militar, capacidades económicas ou influência diplomática, é essencial para a segurança de um Estado. No entanto, a interação entre poder e segurança é multifacetada e complexa.

Os teóricos realistas, como Hans Morgenthau e Kenneth Waltz, sublinham que o poder é a moeda principal na política internacional. Na sua opinião, os Estados procuram o poder para garantir a sua sobrevivência num sistema internacional anárquico em que nenhuma autoridade central os pode proteger de potenciais ameaças. Esta procura de poder conduz frequentemente a uma corrida ao armamento ou à formação de alianças, na medida em que os Estados tentam contrabalançar o poder dos outros, contribuindo assim para o dilema da segurança - o paradoxo em que as medidas adoptadas por um Estado para aumentar a sua segurança podem fazer com que os outros se sintam menos seguros, levando-os a responder da mesma forma, o que pode conduzir a uma escalada das tensões. Os neo-realistas, partindo desta base, desenvolveram o conceito de equilíbrio de poder como um mecanismo que contribui para a segurança. Defendem que um equilíbrio de poder entre os Estados pode conduzir à estabilidade e à paz, uma vez que nenhum Estado é capaz de dominar completamente os outros. Este equilíbrio pode ocorrer naturalmente ou pode resultar de acções deliberadas dos Estados através de políticas como a contenção e a dissuasão.

Os teóricos liberais contestam a associação realista do poder às capacidades militares. Propõem que a segurança pode ser alcançada através da interdependência económica e das instituições internacionais, que podem atenuar a natureza anárquica do sistema internacional, incentivando a cooperação e criando relações previsíveis e estáveis entre os Estados. Nesta perspetiva, o poder não tem apenas a ver com coerção, mas também com a capacidade de moldar a agenda internacional e criar normas que definam acções legítimas.

Os construtivistas oferecem uma visão mais matizada, sugerindo que o poder e a segurança não são apenas materiais, mas também construções sociais. As teorias defendidas por académicos como Alexander Wendt propõem que a forma como os Estados se vêem uns aos outros, as suas intenções e as suas identidades podem influenciar o seu sentimento de segurança. Por exemplo, se os Estados se virem uns aos outros como parceiros e não como adversários, podem alcançar a segurança sem necessariamente aumentarem o seu poder.

A teoria feminista das RI traz uma perspetiva crítica ao debate sobre o poder e a segurança, questionando a quem é dada prioridade na segurança e de que forma o poder é definido em função do género na política internacional. Teóricas feministas como Cynthia Enloe sublinharam que as noções de segurança centradas no Estado ignoram frequentemente a segurança dos indivíduos, em particular das mulheres e de outros grupos marginalizados.

Na prática, a relação entre poder e segurança pode ser observada em várias dinâmicas internacionais. A corrida ao armamento da Guerra Fria, a formação da NATO, as parcerias estratégicas e as rivalidades na região Ásia-Pacífico e o desenvolvimento da União Europeia exemplificam diferentes aspectos da forma como o poder e a segurança estão interligados. O poder e a segurança estão, assim, interligados na arena internacional, sendo o poder entendido como um meio para alcançar a segurança. No entanto, a natureza desta relação é complexa e varia de acordo com as diferentes perspectivas teóricas, reflectindo um espetro de crenças sobre a melhor forma de os Estados assegurarem a sua sobrevivência e prosperidade num mundo onde as ameaças são uma preocupação constante.

Causas dos conflitos: Guerra, Guerra Civil, Terrorismo[modifier | modifier le wikicode]

As causas dos conflitos, incluindo a guerra, a guerra civil e o terrorismo, são diversas e multifacetadas, abrangendo uma série de factores políticos, económicos, sociais e psicológicos. A teoria das RI oferece várias perspetivas para compreender estas causas.

As teorias realistas das RI, com raízes nos trabalhos de académicos como Tucídides e, mais tarde, Hans Morgenthau, referem frequentemente a natureza anárquica do sistema internacional como causa principal do conflito. Segundo este ponto de vista, a ausência de uma autoridade central leva os Estados a agirem de forma auto-interessada para garantir a sua sobrevivência, o que pode resultar em lutas pelo poder e em guerras. Os realistas defendem que os conflitos surgem quando os Estados procuram maximizar o seu poder ou quando uma potência em ascensão ameaça a posição de uma potência estabelecida, podendo conduzir a uma guerra hegemónica.

As teorias liberais, influenciadas pelas ideias de Immanuel Kant e outros, apontam a falta de governação democrática, a interdependência económica e as instituições internacionais como causas de conflito. Os liberais defendem que as democracias têm menos probabilidades de entrar em guerra entre si (teoria da paz democrática), que os Estados com fortes laços económicos consideram a guerra pouco atractiva devido aos elevados custos (mercantilismo liberal) e que organizações internacionais sólidas podem proporcionar fóruns para a resolução pacífica de litígios.

As teorias marxistas e críticas olham para o conflito através do prisma da desigualdade e da luta de classes. Sugerem que as guerras são frequentemente o resultado da expansão capitalista e da competição pelo controlo dos recursos e dos mercados. Os teóricos marxistas, como Vladimir Lenine, acreditavam que o imperialismo, impulsionado pela necessidade dos Estados capitalistas de encontrarem novos mercados e recursos, é a causa fundamental da guerra.

Os teóricos construtivistas, como Alexander Wendt, sublinham o papel das construções sociais, das identidades e das normas na origem dos conflitos. Para eles, as guerras não são inevitáveis, mas são o resultado da forma como os Estados se percepcionam uns aos outros e das suas intenções. Se os Estados construírem uma identidade de inimizade para com os outros, o conflito é mais provável; se construírem uma identidade de coexistência pacífica, a guerra pode ser evitada.

No que diz respeito às guerras civis, académicos como Ted Gurr examinaram o papel da privação relativa - a perceção da desigualdade e da injustiça dentro de um Estado - que pode conduzir a conflitos internos. As queixas relacionadas com a identidade, a etnia e o acesso ao poder e aos recursos podem alimentar as guerras civis, especialmente na ausência de instituições fortes e de uma governação inclusiva.

O terrorismo é outro fenómeno complexo com causas variadas, incluindo motivações ideológicas, queixas políticas e factores socioeconómicos. Estudiosos como Martha Crenshaw argumentaram que o terrorismo é frequentemente uma estratégia escolhida por actores não estatais que sentem que não dispõem de outros meios para atingir os seus objectivos políticos. Factores como as ideologias radicais, a perceção de injustiças, a ocupação estrangeira e o desejo de autodeterminação são frequentemente citados como causas do terrorismo.

Na prática, as causas dos conflitos são muitas vezes uma combinação destes factores. A eclosão da Primeira Guerra Mundial, por exemplo, pode ser atribuída a uma mistura de políticas de poder, fervor nacionalista e alianças emaranhadas. As guerras civis, como o conflito sírio, podem ser atribuídas a uma combinação de governação autoritária, divisões étnicas e intervenções externas. A ascensão de grupos terroristas como o ISIS está relacionada com o extremismo ideológico, a fragilidade do Estado e os vazios de poder regionais. As causas dos conflitos nas relações internacionais são complexas e estão frequentemente interligadas, exigindo uma análise abrangente que incorpore várias perspectivas teóricas para compreender plenamente as suas origens e dinâmicas.

Interação entre o poder económico e militar e influência tecnológica[modifier | modifier le wikicode]

A interação entre o poder económico e militar e o papel da tecnologia na dinâmica do poder são considerações fundamentais nas Relações Internacionais (RI). O poder económico é a base sobre a qual o poder militar é frequentemente construído; uma economia forte pode sustentar grandes despesas de defesa e capacidades militares avançadas. O poder militar, por sua vez, pode proteger e alargar os interesses económicos de um Estado, assegurando as rotas comerciais e o acesso a recursos vitais.

Os teóricos realistas, como Morgenthau e Mearsheimer, sublinham que os Estados procuram equilibrar o poder económico e militar para manter a sua segurança e posição na hierarquia internacional. Nesta perspetiva, o poder económico é necessário para apoiar as capacidades militares, que são essenciais para a dissuasão e a defesa. Por outro lado, o poder militar pode ser utilizado para salvaguardar interesses económicos e exercer influência na cena mundial.

Os teóricos liberais, seguindo a tradição de Adam Smith e de figuras posteriores como Keohane e Nye, destacam a interdependência entre os Estados em matéria económica, sugerindo que o poder económico pode ser mais eficazmente aproveitado através de quadros de cooperação do que através do poder militar coercivo. Argumentam que a interdependência económica reduz a probabilidade de conflito e que o soft power, incluindo a influência económica, pode ser tão significativo como o poder militar duro para atingir os objectivos de um Estado.

As perspectivas marxistas, inspiradas nas obras de Marx e Lenine, encaram a interação entre o poder económico e o poder militar sob o prisma do imperialismo e da luta de classes, afirmando que as elites económicas podem conduzir os Estados a conflitos militares para garantir o domínio económico e o acesso aos recursos.

A tecnologia desempenha um papel fundamental neste nexo de poder. Pode ser um multiplicador de forças para as capacidades militares, dando aos Estados com recursos tecnológicos avançados uma vantagem sobre os seus rivais. Por exemplo, o desenvolvimento de armas nucleares alterou a natureza do poder militar e da dissuasão. Do mesmo modo, os avanços na cibertecnologia introduziram novas áreas de competição e conflito, tanto económico como militar. O impacto da tecnologia no poder económico é igualmente profundo. A inovação tecnológica é um motor essencial do crescimento económico, permitindo aos Estados desenvolver novas indústrias, aumentar a eficiência e obter uma vantagem competitiva no mercado global. A economia digital, a inteligência artificial e os avanços na comunicação reformularam a forma como o poder económico é acumulado e projetado. No mundo contemporâneo, a tecnologia esbateu as fronteiras entre o poder económico e o poder militar. As capacidades de guerra cibernética, por exemplo, podem perturbar a economia de um Estado de forma tão eficaz como uma ação militar tradicional, se não mais, sem disparar um único tiro. A utilização de drones e de sistemas de armas autónomos em zonas de conflito demonstra como a superioridade tecnológica se pode traduzir em vantagens militares e estratégicas.

Um exemplo desta dinâmica pode ser visto na ascensão da China como potência mundial. O boom económico da China permitiu um investimento significativo na modernização militar, posicionando-a como concorrente da hegemonia militar dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o foco da China na tecnologia, particularmente em áreas como as telecomunicações (por exemplo, a infraestrutura 5G da Huawei), a inteligência artificial e a exploração espacial, ilustra a interligação entre o desenvolvimento económico, o poder militar e o avanço tecnológico.

O poder económico e o poder militar estão, em suma, intrinsecamente ligados, com a tecnologia a funcionar como uma ponte e um amplificador cruciais entre os dois. Compreender as interacções entre estas formas de poder é essencial para analisar o comportamento dos Estados e a dinâmica evolutiva das relações internacionais.

Fundamentos da Cooperação Internacional[modifier | modifier le wikicode]

A cooperação internacional tem sido um objetivo central nas relações globais, procurando trazer ordem e paz num mundo onde nenhuma autoridade única reina suprema. A criação de vários planos e ligas de paz, como as Nações Unidas e a União Europeia, resulta de um desejo coletivo de enfrentar desafios comuns e evitar a recorrência de conflitos. Estas entidades fornecem uma plataforma para os Estados deliberarem, negociarem e resolverem disputas, incorporando os princípios da diplomacia e do diálogo que são essenciais para a coexistência pacífica. Historicamente, a devastação da guerra tem muitas vezes precipitado o impulso para a cooperação. O Tratado de Versalhes, embora punitivo e controverso, representou uma tentativa inicial de alcançar uma paz duradoura após os horrores da Primeira Guerra Mundial. Do mesmo modo, as Convenções de Genebra estabeleceram regras para o tratamento humano de combatentes e civis, reflectindo um consenso sobre as normas de conduta na guerra. O entrelaçamento das economias e os benefícios mútuos do comércio também têm servido de forte incentivo às relações pacíficas. Os esforços de integração económica, como a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que lançou as bases para a União Europeia, baseiam-se no entendimento de que os laços económicos podem funcionar como dissuasores de conflitos. O princípio aqui é claro: quando os Estados são economicamente interdependentes, os custos da guerra ultrapassam de longe os benefícios, promovendo assim a paz através da prosperidade partilhada.

As alianças de segurança, como a NATO, representam outra dimensão da cooperação, baseada no conceito de defesa colectiva. Estas alianças funcionam com base na premissa de que um ataque contra um é um ataque contra todos, dissuadindo assim potenciais agressores e proporcionando uma proteção de segurança sob a qual os Estados membros podem prosperar. Para além das instituições e dos laços económicos, a partilha de normas e valores tornou-se uma base cada vez mais importante para a cooperação. As normas de direitos humanos, por exemplo, transcenderam as fronteiras, e os esforços internacionais para combater as alterações climáticas, como o Acordo de Paris sobre o Clima, reuniram os Estados em torno de objectivos ambientais comuns. Estes valores partilhados formam uma base cultural e normativa sobre a qual a cooperação é construída. Além disso, a presença de ameaças comuns, como a proliferação nuclear, o terrorismo e as pandemias mundiais, uniu os Estados nos seus esforços para proteger os seus cidadãos e manter a estabilidade internacional. A resposta global à pandemia da COVID-19, por exemplo, mostrou como a cooperação pode ser galvanizada quando confrontada com uma ameaça universal que nenhum país pode combater sozinho.

A cooperação é também facilitada pelos processos contínuos de diplomacia. O constante envolvimento diplomático, seja através de cimeiras de alto nível ou de canais de comunicação discretos, permite aos Estados articular os seus interesses, compreender as posições dos outros e forjar acordos que beneficiem todas as partes envolvidas. A história da cooperação internacional é marcada tanto por sucessos como por fracassos. A Liga das Nações, por exemplo, não conseguiu evitar a Segunda Guerra Mundial, mas abriu caminho para a criação das Nações Unidas, que desde então tem desempenhado um papel fundamental na manutenção da paz e da segurança internacionais. Assim, os êxitos da cooperação internacional baseiam-se nas lições aprendidas com experiências passadas, no alinhamento de interesses e no empenhamento dos Estados em trabalhar em conjunto para o bem comum. Na sua essência, a procura da cooperação internacional é uma resposta à dinâmica complexa das relações globais, em que a ausência de uma autoridade suprema obriga os Estados a procurar formas de coexistir, colaborar e enfrentar em conjunto desafios comuns. Através da criação de instituições internacionais, tratados, parcerias económicas e alianças de segurança, bem como do cultivo de normas comuns e da prática da diplomacia, os Estados esforçam-se por criar um mundo estável, próspero e pacífico.

Influências culturais, religiosas e nacionalistas[modifier | modifier le wikicode]

O papel da cultura, da religião, da identidade, da etnicidade e do nacionalismo na sociedade internacional é profundamente significativo, influenciando o comportamento dos Estados e de outros actores de inúmeras formas. Estes elementos moldam muitas vezes os valores, as crenças e as motivações subjacentes que orientam as interacções internacionais.

A cultura, que engloba os valores, normas e práticas comuns de uma sociedade, pode influenciar profundamente a política externa e as interacções diplomáticas de um Estado. Os entendimentos e interpretações incorrectos da cultura podem facilitar ou dificultar a cooperação internacional. Por exemplo, o conceito de "salvar a face" nas culturas da Ásia Oriental desempenha um papel fundamental nas negociações diplomáticas, exigindo uma abordagem diferenciada que respeite o contexto cultural. Também a religião tem sido uma força poderosa nas relações internacionais. Pode ser uma fonte de conflito, como se vê em vários conflitos sectários ou religiosos em todo o mundo, mas também pode ser uma força poderosa para a paz e a reconciliação, uma vez que os líderes e as organizações religiosas desempenham frequentemente papéis fundamentais na construção da paz e nos esforços humanitários. O papel da Igreja Católica no movimento polaco Solidariedade da década de 1980, por exemplo, ilustra a forma como as instituições religiosas podem influenciar a mudança política.

A identidade e a etnia são fundamentais para a compreensão de muitos conflitos internacionais, sobretudo em zonas onde as fronteiras nacionais não coincidem com as fronteiras étnicas ou culturais. As tensões étnicas têm sido a força motriz de numerosos conflitos, incluindo as guerras da Jugoslávia na década de 1990. A identidade étnica pode também influenciar as políticas estatais de formas mais subtis, como o tratamento preferencial de certas comunidades da diáspora. O nacionalismo, ou a crença na superioridade e nos interesses da própria nação, molda frequentemente a política externa de um Estado. Pode ser uma força unificadora, promovendo a coesão e a identidade colectiva, mas também pode ser excludente e conduzir a conflitos com outras nações. A ascensão do nacionalismo em vários países nos últimos anos tem tido implicações significativas na política internacional, afectando as políticas comerciais, as leis de imigração e a cooperação internacional.

A interação entre estes factores e a política internacional é complexa. Teóricos construtivistas como Alexander Wendt defendem que estes factores sociais e culturais não são meras condições de fundo, mas moldam ativamente os interesses e as identidades dos Estados. Podem determinar quem é considerado amigo ou inimigo, que acções são consideradas legítimas ou ilegítimas e como os Estados definem os seus objectivos e interesses. Na prática, estes factores culturais e sociais cruzam-se frequentemente com aspectos mais materiais das relações internacionais. Por exemplo, as disputas sobre recursos podem ser exacerbadas por diferenças étnicas ou religiosas, e os laços culturais podem influenciar as parcerias económicas. O Corredor Económico China-Paquistão (CPEC), parte da Iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota" da China, não é apenas um projeto económico, mas reflecte também a afinidade cultural e política entre a China e o Paquistão. Em conclusão, a cultura, a religião, a identidade, a etnia e o nacionalismo fazem parte integrante do tecido da sociedade internacional. Moldam as percepções, os comportamentos e as políticas dos Estados e dos actores não estatais, influenciando o curso das relações internacionais de forma profunda e por vezes imprevisível. Compreender estes elementos é crucial para uma análise abrangente dos assuntos globais.

As teorias das RI como instrumentos para a investigação ética e normativa[modifier | modifier le wikicode]

A teoria das Relações Internacionais (RI) desempenha um papel vital na análise das questões éticas ou normativas mais vastas, mais amplas e duradouras que estão na base das interacções e políticas globais. Estas questões aprofundam mais o que deve ser do que o que é, desafiando os académicos e os profissionais a considerarem as implicações morais e os valores que devem orientar a conduta internacional e a tomada de decisões.

Uma das questões éticas centrais nas RI é a questão da guerra e da paz: em que circunstâncias é justificável que um Estado entre em guerra? A Teoria da Guerra Justa, que tem as suas raízes nos trabalhos de filósofos como Agostinho e Tomás de Aquino e foi desenvolvida por pensadores contemporâneos como Michael Walzer, procura responder a esta questão. Fornece critérios para avaliar quando uma guerra pode ser considerada justa e como deve ser conduzida para permanecer ética. Outra questão normativa importante nas RI é a responsabilidade dos Estados perante os seus cidadãos e a comunidade internacional. Isto engloba questões de direitos humanos, intervenção humanitária e a doutrina da responsabilidade de proteger (R2P). A R2P, por exemplo, levanta a questão de saber se e quando é apropriado que actores externos intervenham num Estado para evitar atrocidades em massa, equilibrando os princípios da soberania do Estado e da proteção dos direitos humanos.

A distribuição equitativa dos recursos e da riqueza no sistema internacional é também uma preocupação ética profunda. As teorias da justiça global, como as propostas por John Rawls e Thomas Pogge, exploram a forma como os recursos e as oportunidades devem ser distribuídos entre Estados e indivíduos. Estas teorias questionam a equidade do atual sistema económico internacional e sugerem formas de o reformar para alcançar uma maior justiça. As questões ambientais, nomeadamente as alterações climáticas, constituem outro domínio em que as considerações éticas são fundamentais. Os debates sobre a justiça climática, incluindo as responsabilidades dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento na resolução da degradação ambiental, são profundamente normativos. Envolvem questões sobre a equidade intergeracional, os direitos da natureza e as obrigações dos Estados e dos indivíduos para proteger o ambiente global.

Além disso, a ascensão do nacionalismo e do populismo nos últimos anos trouxe à tona questões éticas sobre políticas de identidade, o tratamento de refugiados e migrantes e a tensão entre globalismo e localismo. Estas questões desafiam a noção tradicional vestefaliana de soberania do Estado e exigem que se repensem as obrigações éticas para além das fronteiras. Essencialmente, a teoria das RI fornece as ferramentas e os quadros necessários para abordar estas questões éticas e normativas. Permite uma análise crítica dos princípios que devem reger as relações internacionais, encorajando uma passagem para além da política de poder para considerar as dimensões morais das interacções globais. Este aspeto da teoria das RI é crucial para o desenvolvimento de políticas e práticas que sejam não só eficazes, mas também justas e éticas.

Tomada de decisões sobre a utilização da força[modifier | modifier le wikicode]

Determinar quando, o quê e em que medida utilizar a força nas relações internacionais é uma questão que tem desafiado continuamente as nações, particularmente no contexto de conflitos como os da Rodésia, da África do Sul do apartheid, da Bósnia, da Líbia, da Síria, do Zimbabué, do Congo e da Libéria. Cada uma destas situações apresentou desafios e considerações únicas, testando a capacidade da comunidade internacional para equilibrar a soberania do Estado, os direitos humanos e as preocupações práticas de intervenção.

Nos casos da Rodésia branca e da África do Sul do apartheid, a comunidade mundial inclinou-se largamente para sanções económicas e isolamento diplomático em vez de uma intervenção militar direta. Estas medidas tinham como objetivo pressionar estes regimes a alterarem as suas políticas sem recorrerem à força. Na Rodésia, esta abordagem desempenhou um papel importante na transição para o regime maioritário e no nascimento do Zimbabué. Do mesmo modo, na África do Sul, a pressão internacional sustentada contribuiu para o desmantelamento do sistema do apartheid.

O conflito na Bósnia durante a década de 1990, parte das guerras jugoslavas de maior dimensão, pôs em evidência as complexidades da intervenção militar. Inicialmente, houve relutância em recorrer à força, mas o ponto de viragem ocorreu com os horríveis acontecimentos do massacre de Srebrenica, em 1995. Esta atrocidade levou a uma ação militar mais decisiva por parte da NATO e da ONU, com o objetivo de proteger os civis e pôr fim ao conflito.

Na Líbia, em 2011, a intervenção autorizada pela ONU foi uma resposta à ameaça de atrocidades em massa cometidas pelo regime de Kadhafi. Esta ação, enraizada na doutrina da Responsabilidade de Proteger, foi inicialmente saudada por ter evitado a violência generalizada contra civis, em particular em Benghazi. No entanto, a intervenção também foi criticada por ter conduzido a uma instabilidade prolongada e à falta de uma reconstrução efectiva após o conflito.

A guerra civil síria apresentou um dilema significativo para a intervenção internacional. Apesar das flagrantes violações dos direitos humanos e da utilização de armas químicas, a comunidade internacional hesitou largamente em intervir militarmente. Tal deveu-se à complexidade do conflito, ao envolvimento de vários actores externos e à preocupação com a possibilidade de uma escalada regional mais vasta.

Noutros Estados africanos, como o Zimbabué, o Congo e a Libéria, as respostas às crises foram variadas. O Zimbabué foi alvo de sanções internacionais e de esforços diplomáticos em resposta à sua turbulência política e económica. No Congo, o envio de forças de manutenção da paz da ONU teve como objetivo estabilizar as regiões afectadas pelo conflito. Na Libéria, a guerra civil terminou em parte devido à intervenção militar da CEDEAO, seguida de uma missão de manutenção da paz da ONU para garantir a estabilidade e apoiar a transição para a paz.

Estes casos variados reflectem a natureza matizada e frequentemente controversa da decisão de recorrer à força nos assuntos internacionais. As decisões são influenciadas por uma combinação de factores, incluindo a gravidade da situação, as justificações legais e éticas para a intervenção, as taxas de sucesso potenciais, os interesses dos Estados intervenientes e as implicações mais vastas para a estabilidade internacional. Ilustram a tensão permanente entre o respeito pela soberania dos Estados e o imperativo de proteção dos direitos humanos, entre a prossecução de interesses nacionais e a adesão ao direito internacional e aos princípios morais. Estas situações sublinham a natureza complexa e multifacetada do uso da força nas relações internacionais, uma decisão que exige uma cuidadosa consideração das consequências imediatas e a longo prazo para todos os envolvidos.

A moralidade na política externa e nas RI[modifier | modifier le wikicode]

O lugar da moralidade na política externa e nas relações internacionais é um tema de debate considerável e de perspectivas variadas no domínio das Relações Internacionais (RI). A incorporação de princípios morais, como os direitos humanos, a liberdade religiosa e as preocupações humanitárias, na política externa reflecte uma mudança significativa em relação às visões tradicionais que davam prioridade aos interesses do Estado e à política de poder.

Uma política externa de direitos humanos implica o empenhamento de um Estado na promoção e proteção dos direitos humanos em todo o mundo. Esta abordagem conduz frequentemente a esforços diplomáticos, sanções económicas ou mesmo intervenções militares destinadas a prevenir ou responder a violações dos direitos humanos noutros países. O desafio aqui reside em equilibrar o imperativo moral de defender os direitos humanos com o respeito pela soberania do Estado, bem como em navegar pelos interesses frequentemente concorrentes na política internacional. A promoção da liberdade religiosa internacional é outro aspeto em que a moralidade se cruza com a política externa. Os Estados, em especial os que têm um forte compromisso com a liberdade religiosa, podem defender a proteção e a promoção deste direito a nível mundial. Isto pode envolver esforços diplomáticos para condenar a perseguição religiosa e apoiar iniciativas internacionais que salvaguardem as liberdades religiosas.

A doutrina da "responsabilidade de proteger" (R2P) das Nações Unidas é um marco na evolução moral das relações internacionais. Criada para prevenir atrocidades em massa como o genocídio, os crimes de guerra, a limpeza étnica e os crimes contra a humanidade, a R2P afirma que, quando um Estado não consegue proteger os seus cidadãos desses crimes, a comunidade internacional tem a obrigação moral de intervir, incluindo potencialmente uma intervenção militar. A R2P foi um fator significativo em intervenções como a que ocorreu na Líbia em 2011, mas a sua aplicação tem sido inconsistente, levantando questões sobre a vontade e capacidade da comunidade internacional para defender estes compromissos morais. "Salvar estranhos", um termo popularizado por Nicholas J. Wheeler no seu livro sobre intervenção humanitária, encerra o dever moral de ajudar pessoas noutros países que enfrentam graves crises humanitárias, mesmo à custa de violar a soberania do Estado. Este princípio tem estado na base de várias intervenções humanitárias, em que os Estados ou coligações intervieram em países para pôr termo ao sofrimento generalizado, muitas vezes sem o consentimento da nação anfitriã.

A intervenção humanitária representa uma das aplicações mais directas da moralidade na política externa, em que os Estados ou organizações internacionais utilizam a força militar para aliviar o sofrimento humano, especialmente em situações de genocídio, crimes de guerra ou violações generalizadas dos direitos humanos. A intervenção da NATO no Kosovo em 1999 é frequentemente citada como um exemplo de intervenção humanitária motivada por considerações morais e não por interesses tradicionais do Estado. No entanto, a incorporação da moralidade na política externa também enfrenta críticas e desafios. Os realistas defendem que o principal dever de um Estado é para com os seus próprios cidadãos e que as considerações morais não devem sobrepor-se aos interesses nacionais e às preocupações de segurança. Além disso, a aplicação selectiva de princípios morais, muitas vezes influenciada por interesses estratégicos, pode levar a acusações de hipocrisia e minar a credibilidade dos argumentos morais na política internacional.

O lugar da moralidade na política externa e nas relações internacionais é, portanto, uma questão dinâmica e complexa. Representa uma luta permanente para alinhar os imperativos éticos com as realidades práticas da política global, reflectindo a tensão entre as aspirações idealistas e as restrições realistas. A prossecução de objectivos morais nas relações internacionais sublinha a natureza evolutiva do sistema internacional, em que as noções tradicionais de soberania do Estado e de não intervenção são cada vez mais ponderadas em relação à responsabilidade da comunidade global de defender os direitos humanos fundamentais e os princípios éticos.

Obrigações Nacionais vs. Obrigações Transnacionais[modifier | modifier le wikicode]

No domínio da filosofia política e das relações internacionais, o debate sobre as obrigações devidas ao Estado e as obrigações que transcendem as fronteiras nacionais é complexo e multifacetado. Os cidadãos têm geralmente obrigações bem estabelecidas para com o seu Estado, que podem incluir o cumprimento das leis, o pagamento de impostos, o envolvimento no processo democrático e, por vezes, a participação no serviço nacional. Estes deveres são frequentemente vistos como parte de um contrato social, em que os cidadãos aceitam determinadas responsabilidades em troca da proteção e dos serviços do Estado. A natureza e a extensão destas obrigações podem variar muito, com as sociedades democráticas a enfatizarem normalmente a proteção dos direitos e liberdades individuais, enquanto os regimes mais autoritários podem exigir um maior cumprimento e controlo.

Para além dos limites do Estado, o conceito de obrigações estende-se a domínios éticos e morais mais vastos. As teorias humanitárias e cosmopolitas, influenciadas por pensadores como Immanuel Kant e por académicos contemporâneos como Peter Singer, defendem deveres que transcendem as fronteiras nacionais. Estes incluem a prestação de assistência aos necessitados, independentemente da sua nacionalidade, e a luta pela justiça global. Na esfera das relações internacionais, estas obrigações globais são evidentes em princípios como a "responsabilidade de proteger", que postula que a comunidade internacional tem o dever de intervir em caso de violações graves dos direitos humanos.

Actividades como a defesa dos direitos humanos e a ajuda internacional ao desenvolvimento são manifestações práticas destas obrigações transcendentes. Muitos argumentam que os países mais ricos têm a responsabilidade moral de ajudar as nações menos desenvolvidas através da ajuda, de práticas comerciais justas e de esforços de colaboração para enfrentar desafios globais como as alterações climáticas e as crises sanitárias. No entanto, o equilíbrio entre estes deveres globais e as obrigações para com o próprio Estado apresenta frequentemente desafios e tensões. As perspectivas nacionalistas dão prioridade aos interesses e necessidades do Estado, defendendo que a força nacional é um pré-requisito para uma contribuição global significativa. Em contrapartida, os pontos de vista globalistas ou cosmopolitas sublinham a importância de ter em conta o bem-estar de toda a comunidade global, defendendo por vezes políticas que podem comprometer interesses nacionais restritos.

Na prática, o grau em que os indivíduos e os Estados reconhecem e agem de acordo com as suas obrigações para além das suas fronteiras varia significativamente e torna-se frequentemente um tema de debate político. As discussões em torno das políticas de refugiados, da ajuda externa e da participação em acordos ambientais internacionais reflectem perspectivas diferentes sobre a extensão e a natureza dos deveres de um Estado para além dos seus cidadãos e território imediatos. As obrigações para com o Estado estão claramente definidas em quadros jurídicos e societais, mas a noção de deveres que se estendem para além das fronteiras nacionais é mais fluida e está sujeita a debates éticos, a normas internacionais e à dinâmica evolutiva da interdependência global. Estas obrigações mais amplas reflectem uma consciência crescente dos desafios partilhados e do destino comum da humanidade, ultrapassando os limites das visões tradicionais centradas no Estado nas relações internacionais.

Ética da Intervenção: Militar e humanitária[modifier | modifier le wikicode]

O debate sobre os direitos e os males da intervenção, que engloba tanto as acções militares como as humanitárias, é uma questão profundamente complexa nas relações internacionais, que equilibra considerações éticas, jurídicas e pragmáticas. Por um lado, as intervenções são frequentemente justificadas por razões humanitárias, especialmente quando se destinam a impedir violações graves dos direitos humanos, como o genocídio, a limpeza étnica ou os crimes contra a humanidade. O conceito de "responsabilidade de proteger" defende que quando um Estado não protege os seus cidadãos, ou pior, comete atrocidades contra eles, existe um imperativo moral para a comunidade internacional intervir. No entanto, as intervenções são defensáveis e eticamente mais sólidas quando têm o apoio do direito internacional, normalmente através de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta sanção legal garante que a intervenção não é meramente uma cobertura para fazer avançar os interesses de uma única nação, mas sim uma resposta colectiva a uma crise. As intervenções também podem ser justificadas para manter ou restaurar a estabilidade regional e global, particularmente quando o conflito de uma nação representa ameaças para além das suas fronteiras. No entanto, as intervenções estão repletas de desafios e potenciais armadilhas. Uma preocupação significativa é a violação da soberania do Estado, um princípio fundamental do direito e das relações internacionais. As intervenções unilaterais ou inadequadamente apoiadas podem ser vistas como infracções ao direito de autodeterminação de uma nação. Além disso, as intervenções militares, mesmo com as intenções mais nobres, correm o risco de agravar os conflitos, causar vítimas civis e criar instabilidade a longo prazo e vazios de poder, como se viu no rescaldo das intervenções no Iraque e na Líbia.

Outra questão crítica é a aparente duplicidade de critérios e a seletividade das intervenções. Muitas vezes, as decisões de intervenção parecem incoerentes e mais motivadas por interesses estratégicos do que por um compromisso firme com os princípios humanitários, o que leva a acusações de hipocrisia e mina a base moral da intervenção. Em regiões com histórias coloniais, as intervenções das potências ocidentais podem ser vistas como manobras neocolonialistas, especialmente se as nações intervenientes tiverem interesses económicos ou estratégicos na zona. As intervenções humanitárias, embora tenham como objetivo aliviar o sofrimento, não estão isentas de controvérsia. Por vezes, podem ser vistas como uma fachada para objectivos geopolíticos. Além disso, a eficácia da ajuda humanitária pode ser comprometida por questões como a corrupção, os desafios logísticos e a falta de compreensão do contexto local, o que pode levar a que a ajuda não chegue aos que dela mais necessitam ou mesmo agravar a situação.

A decisão de intervir, quer militarmente, quer a nível humanitário, exige, por conseguinte, uma avaliação pormenorizada e abrangente. Exige um equilíbrio entre as necessidades imediatas e os impactos a longo prazo na população afetada e no sistema internacional. Garantir que as intervenções são legalmente sancionadas, apoiadas internacionalmente e implementadas de forma efectiva e responsável é crucial para manter a sua legitimidade e garantir que fazem mais bem do que mal.

A teoria das RI como um conjunto de ferramentas para a resolução de problemas[modifier | modifier le wikicode]

A teoria das Relações Internacionais (RI), tal como é conceptualizada por teóricos como Robert Cox, pode ser entendida como um "conjunto de ferramentas" ou um tipo de "teoria para a resolução de problemas". Esta caraterização sublinha a utilidade prática e analítica da teoria das RI para compreender e abordar as complexidades da política global.

Como "conjunto de ferramentas", a teoria das RI oferece um conjunto diversificado de conceitos, quadros e paradigmas que os académicos e os profissionais podem utilizar para analisar e interpretar os acontecimentos e as relações internacionais. Este conjunto de ferramentas inclui várias abordagens teóricas, cada uma delas oferecendo perspectivas e explicações únicas para o comportamento dos Estados e de outros actores internacionais. Por exemplo, o realismo centra-se na dinâmica do poder e nas preocupações com a segurança, o liberalismo dá ênfase à cooperação e às instituições internacionais, enquanto o construtivismo considera o impacto das construções sociais e das identidades na política internacional. Ao aplicar estas diferentes teorias, é possível compreender melhor os acontecimentos internacionais, desde as guerras e os tratados até aos acordos comerciais e às negociações diplomáticas.

No contexto do trabalho de Robert Cox, a descrição da teoria das RI como uma "teoria de resolução de problemas" realça a sua abordagem pragmática para lidar com os desafios das relações internacionais. Cox distinguiu entre a "teoria crítica", que procura compreender e transformar o mundo questionando as estruturas e os pressupostos subjacentes, e a "teoria da resolução de problemas", que toma o mundo tal como o encontra e tem por objetivo tornar mais eficiente o funcionamento das estruturas existentes. Neste sentido, a teoria das RI como instrumento de resolução de problemas centra-se na gestão e resolução de questões imediatas dentro dos parâmetros do sistema global. Trata-se de abordar problemas específicos nas relações internacionais, aplicando teorias e métodos estabelecidos para compreender e enfrentar esses desafios de forma eficaz.

Por exemplo, ao lidar com uma crise diplomática, uma abordagem de resolução de problemas pode envolver a utilização de técnicas de negociação e de resolução de conflitos informadas pelas teorias das RI para diminuir as tensões e encontrar uma solução mutuamente aceitável. Ao abordar questões económicas globais, podem ser utilizadas teorias como o liberalismo ou o neoliberalismo para compreender e melhorar o comércio e a cooperação internacionais. No entanto, é importante notar que, embora a teoria das RI possa ser imensamente útil como um conjunto de ferramentas para compreender e abordar questões internacionais, também tem as suas limitações. Os críticos, incluindo o próprio Cox, argumentam que, ao centrarem-se na resolução de problemas no âmbito da ordem existente, essas teorias podem ignorar questões estruturais mais profundas e desigualdades no sistema internacional. A teoria das RI, enquanto "conjunto de ferramentas" ou "teoria da resolução de problemas", oferece assim perspectivas e ferramentas valiosas para compreender e enfrentar as complexidades e os desafios das relações internacionais. Equipa académicos, diplomatas e decisores políticos com os quadros analíticos necessários para interpretar os acontecimentos globais e elaborar estratégias para um envolvimento eficaz na arena internacional.

No contexto da teoria das Relações Internacionais (RI) como um tipo de teoria de "resolução de problemas", o conceito de "causalidade eficiente", tal como foi originalmente conceptualizado por Aristóteles, torna-se relevante para compreender como certas acções ou acontecimentos causam resultados específicos no domínio da política internacional. A noção de "causalidade eficiente" de Aristóteles refere-se a uma causa que provoca diretamente um efeito. É o tipo de relação de causa e efeito em que a causa é vista como um fator ativo e primário na produção do efeito. Nas RI, este conceito pode ser aplicado para analisar a forma como certas decisões ou acções dos Estados ou dos actores internacionais conduzem diretamente a determinados resultados ou mudanças no sistema internacional. Por exemplo, quando um país decide impor sanções económicas a outro, a "causa eficiente" seria a decisão de impor sanções, e o efeito poderia ser uma recessão económica ou uma mudança na política externa do país visado. Do mesmo modo, uma intervenção militar de um Estado noutro pode ser vista como a "causa eficiente" das mudanças subsequentes no Estado intervencionado, quer se trate de uma mudança de regime, da resolução de um conflito ou, nalguns casos, de uma maior desestabilização.

Na abordagem de resolução de problemas da teoria das RI, a compreensão da causa eficiente é crucial para identificar as acções directas que podem resolver questões internacionais específicas. Esta abordagem implica analisar as causas imediatas dos problemas internacionais e encontrar soluções que resolvam eficazmente essas causas. Por exemplo, na resolução de conflitos, a identificação das acções ou acontecimentos imediatos que conduziram ao conflito (as causas eficientes) é um passo fundamental no desenvolvimento de estratégias para o resolver. No entanto, é importante notar que, embora a causalidade eficiente se concentre nas causas directas e imediatas, as relações internacionais envolvem frequentemente interacções complexas em que as causas indirectas e a longo prazo (o que Aristóteles designou por causas "materiais", "formais" e "finais") também desempenham papéis importantes. Por exemplo, embora uma decisão política ou um ato de agressão possa ser a causa eficiente de uma guerra, as condições económicas subjacentes, as queixas históricas e os factores culturais (outras formas de causalidade) são também cruciais para compreender o contexto mais vasto do conflito. O conceito de causa eficiente no quadro das RI como teoria de resolução de problemas ajuda a identificar as causas imediatas e directas dos acontecimentos e questões internacionais. Esta abordagem é fundamental para a formulação de respostas práticas e direccionadas para problemas específicos no domínio das relações internacionais, embora seja também essencial considerar a teia de causalidade mais ampla e complexa que caracteriza a política global.

A revolução pós-comportamental na ciência política americana, particularmente durante o período tumultuoso da Guerra do Vietname, marcou um ponto de viragem significativo na evolução do campo, especialmente na teoria das Relações Internacionais (RI). Esta revolução foi uma resposta à abordagem comportamentalista dominante, que enfatizava fortemente os métodos de investigação empíricos e quantificáveis, semelhantes aos utilizados nas ciências naturais. O comportamentalismo centrava-se no comportamento e nos dados observáveis e objectivos, muitas vezes à custa de factores subjectivos como a ideologia, a ética e a moral. O objetivo era desenvolver teorias generalizáveis sobre o comportamento político com base em provas empíricas.

No entanto, as experiências e os resultados da Guerra do Vietname evidenciaram as deficiências desta abordagem. Os críticos argumentaram que a confiança no positivismo e no naturalismo da ciência política, que influenciou as estratégias utilizadas na Guerra do Vietname, não conseguiu captar as complexas dimensões humanas da política. Esta metodologia era vista como excessivamente reducionista, negligenciando os aspectos éticos, normativos e subjectivos da tomada de decisões políticas e ignorando os contextos culturais e as experiências pessoais dos envolvidos. Em resposta, a revolução pós-comportamental apelou a uma reavaliação dos métodos e objectivos da ciência política. Esta nova vaga de pensamento enfatizou a necessidade de incluir considerações éticas e morais nos estudos políticos, defendendo uma compreensão da política que englobasse tanto o que é como o que deve ser. Promoveu o pluralismo metodológico, incentivando a inclusão de considerações éticas e morais nos estudos políticos. Promoveu o pluralismo metodológico, incentivando a utilização de diversos métodos de investigação, incluindo abordagens qualitativas, para melhor captar a riqueza e as complexidades dos fenómenos políticos.

Outro aspeto fundamental desta revolução foi o seu enfoque na relevância. Os estudiosos do pós-comportamento sublinharam a importância de abordar questões do mundo real e problemas sociais, em vez de se limitarem a uma investigação teórica ou empírica abstrata, desligada das realidades da vida quotidiana. Esta mudança representou uma evolução para uma forma de ciência política mais socialmente empenhada e reflexiva. Além disso, a abordagem pós-comportamental reconheceu a influência dos valores e perspectivas dos investigadores no seu trabalho, desafiando a noção de objetividade absoluta no estudo da política. Este reconhecimento da subjetividade marcou um afastamento significativo da anterior crença na neutralidade científica isolada.

No domínio das RI, o impacto da revolução pós-comportamental foi profundo. Preparou o caminho para o aparecimento de quadros teóricos mais críticos e diversificados, como o construtivismo, o feminismo e a teoria crítica. Estas abordagens procuraram compreender as relações internacionais de uma forma mais eticamente informada e matizada, reconhecendo a importância dos valores humanos, das experiências subjectivas e das considerações éticas na análise da política global. Esta mudança de paradigma enriqueceu o campo das RI, oferecendo uma abordagem mais holística e reflexiva ao estudo dos assuntos internacionais, uma abordagem que reconhecia a complexidade e as dimensões morais inerentes ao mundo da política global.

No domínio da teoria das Relações Internacionais (RI), a distinção entre a teoria explicativa, enquanto forma de teoria científica social, e a teoria interpretativa realça as diferentes abordagens à compreensão e análise dos acontecimentos e fenómenos internacionais. Esta distinção é bem sintetizada no contraste entre o modelo de explicação "covering-law" e a abordagem interpretativa para compreender os acontecimentos nas relações internacionais. O modelo da "lei de cobertura", ou o método nomológico-dedutivo, é uma marca da teoria explicativa nas ciências sociais. Esta abordagem procura explicar os acontecimentos submetendo-os a leis ou regularidades gerais. De acordo com este modelo, um acontecimento pode ser explicado se se puder demonstrar que é um exemplo específico de uma lei geral. Por exemplo, nas RI, um realista pode utilizar o conceito de equilíbrio de poder para explicar por que razão os Estados estabelecem alianças - a lei geral é que os Estados procuram alianças para se equilibrarem contra potências mais fortes. Este modelo caracteriza-se pela sua ênfase na objetividade, no empirismo e na procura de relações causais que possam ser generalizadas a diferentes casos. Em contraste, a teoria interpretativa, tal como é discutida por académicos como Hollis e Smith, tem como objetivo compreender os acontecimentos nas relações internacionais, investigando os seus contextos e significados específicos. A teoria interpretativa não se preocupa principalmente em encontrar leis ou regularidades gerais. Em vez disso, concentra-se na compreensão dos significados subjectivos e das intenções subjacentes às acções e aos acontecimentos. Por exemplo, uma abordagem interpretativa de uma crise diplomática pode envolver a análise dos contextos históricos, culturais e ideológicos que moldam as perspectivas e as acções dos Estados envolvidos, proporcionando uma compreensão matizada do acontecimento que vai além das leis gerais.

A teoria interpretativa alinha-se com a abordagem construtivista das RI, que defende que as realidades da política internacional são social e culturalmente construídas e não objetivamente dadas. Os construtivistas defendem que as identidades, os interesses e as acções dos Estados são moldados por ideias, normas e valores partilhados, pelo que a compreensão destas construções sociais é fundamental para compreender as relações internacionais. Tanto as teorias explicativas como as interpretativas oferecem perspectivas valiosas sobre as relações internacionais. A abordagem explicativa, centrada em leis gerais e explicações causais, é útil para prever acontecimentos e formular políticas. Por outro lado, a abordagem interpretativa permite uma compreensão mais profunda dos complexos factores sociais, históricos e culturais que influenciam os acontecimentos e as decisões internacionais. Na prática, uma análise exaustiva das relações internacionais exige frequentemente uma combinação de ambas as abordagens. Enquanto a teoria explicativa pode elucidar padrões e regularidades gerais no comportamento dos Estados, a teoria interpretativa pode revelar os contextos e significados únicos que estão na base de acontecimentos internacionais específicos. Em conjunto, estas abordagens fornecem uma imagem mais completa da dinâmica em jogo no mundo da política internacional.

Teoria das RI: Crítica e Visões Proféticas[modifier | modifier le wikicode]

A teoria das Relações Internacionais (RI) pode funcionar como uma forma de crítica da ordem internacional existente, e esta crítica pode assumir duas formas principais: a crítica negativa e a crítica profética. Estas abordagens diferem nas suas perspectivas e objectivos relativamente ao status quo das relações internacionais.

A crítica negativa na teoria das RI envolve principalmente uma análise crítica do atual sistema internacional, identificando e destacando as suas falhas, contradições e injustiças. Esta forma de crítica não oferece necessariamente um caminho claro para um sistema novo ou reformado; pelo contrário, centra-se na desconstrução e na contestação das estruturas e pressupostos existentes. Os académicos que adoptam esta abordagem podem analisar a dinâmica do poder no sistema internacional, as desigualdades produzidas pelas actuais disposições económicas globais ou as falhas das instituições internacionais. Por exemplo, as críticas realistas às organizações internacionais centram-se frequentemente na sua incapacidade de transcender o interesse próprio dos Estados poderosos, enquanto as críticas marxistas podem centrar-se na forma como o capitalismo internacional perpetua a desigualdade.

A crítica profética na teoria das RI, por outro lado, vai além da simples crítica ao estado atual das coisas. Também prevê e defende uma ordem internacional radicalmente diferente, baseada em novos princípios e estruturas. Esta abordagem caracteriza-se pela sua perspetiva de futuro e pelo seu compromisso normativo com um mundo mais justo e equitativo. As críticas proféticas baseiam-se frequentemente em fundamentos éticos, filosóficos e ideológicos para propor mudanças transformadoras. Por exemplo, os teóricos críticos e os construtivistas podem imaginar um mundo em que as relações internacionais se regem mais por normas e valores partilhados do que por políticas de poder, e em que as instituições globais são mais democráticas e respondem às necessidades de todas as pessoas e não apenas aos interesses dos Estados mais poderosos.

Ambas as formas de crítica desempenham papéis vitais no domínio das RI. As críticas negativas são importantes para compreender as limitações e os problemas do atual sistema internacional, constituindo uma base necessária para qualquer reforma ou transformação significativa. As críticas proféticas são essenciais para imaginar futuros alternativos e motivar a mudança para uma ordem global mais justa e sustentável. No discurso académico e na elaboração de políticas, estas críticas servem como meio de responsabilizar o sistema existente e inspirar debates sobre potenciais vias de mudança. Incentivam um reexame contínuo dos princípios, práticas e estruturas que regem as relações internacionais, promovendo uma compreensão dinâmica e evolutiva da política global.

As RI como prática social quotidiana[modifier | modifier le wikicode]

Encarar a teoria das Relações Internacionais (RI) como prática social quotidiana implica compreendê-la não apenas como uma disciplina académica, mas como algo que é ativamente vivido e incorporado nas interacções e actividades diárias dos Estados, organizações e indivíduos. Esta perspetiva sublinha que os princípios e conceitos da teoria das RI não são meras ideias abstractas confinadas a textos académicos, mas fazem parte do tecido prático e contínuo da política internacional. Deste ponto de vista, a teoria das RI como prática social quotidiana significa que os comportamentos, decisões e políticas dos Estados e de outros actores internacionais são continuamente informados por princípios teóricos e reflectem esses princípios. Por exemplo, as decisões de política externa de um Estado baseiam-se frequentemente em princípios realistas de poder e segurança, em ideais liberais de cooperação e instituições internacionais, ou em noções construtivistas de construções sociais e identidade.

Além disso, esta abordagem reconhece que as relações internacionais não são apenas moldadas por reuniões diplomáticas de alto nível ou tratados formais, mas também por uma miríade de interacções quotidianas menos visíveis. Estas podem incluir transacções comerciais, intercâmbios culturais, actividades de organizações não governamentais e até acções individuais, que contribuem para a dinâmica mais ampla das relações internacionais. Ver a teoria como prática social quotidiana significa também reconhecer que os conceitos e modelos das RI estão constantemente a ser testados, modificados e reinterpretados à luz dos acontecimentos do mundo real. A prática da diplomacia, por exemplo, não é apenas uma aplicação da compreensão teórica, mas também uma fonte de conhecimentos que podem aperfeiçoar ou desafiar as teorias existentes.

Esta perspetiva também destaca o papel dos actores não estatais na definição das relações internacionais. Desde as empresas multinacionais que influenciam as políticas económicas globais até às redes de activistas que defendem os direitos humanos ou a proteção do ambiente, estes actores envolvem-se em práticas que reflectem e têm impacto nos conhecimentos teóricos das RI. Essencialmente, considerar a teoria das RI como prática social quotidiana exige uma perspetiva ampla que capte as formas diversas e dinâmicas como as relações internacionais se desenrolam em contextos reais. Convida a uma compreensão mais holística da política global, que faça a ponte entre a teoria e a prática e reconheça a multiplicidade de actores e actividades que moldam a cena internacional.

A crítica de Buzan e Little às RI como um projeto intelectual[modifier | modifier le wikicode]

Análise dos fracassos intelectuais das RI[modifier | modifier le wikicode]

Barry Buzan e Richard Little, no seu artigo "Why International Relations has Failed as an Intellectual Project", afirmam que, apesar do seu dinamismo interno, o campo das Relações Internacionais (RI) tem-se mantido curiosamente isolado das outras ciências sociais e da história. Esta crítica destaca uma limitação significativa no desenvolvimento das RI como disciplina académica. Os autores argumentam que o isolamento das RI em relação a outras disciplinas tem prejudicado a sua capacidade de desenvolver uma compreensão abrangente da política global. Embora as RI tenham evoluído e diversificado as suas abordagens e teorias, esta evolução ocorreu em grande parte dentro do seu próprio silo, separada das ideias e metodologias de disciplinas como a sociologia, a psicologia, a economia e a história.

Esta insularidade, de acordo com Buzan e Little, conduziu a uma certa estreiteza de perspetiva e de metodologia nas RI. Ao não se envolverem plenamente com as teorias, os conceitos e as conclusões empíricas de outras ciências sociais, as RI perderam oportunidades de enriquecer a sua análise e de compreender mais profundamente a complexa interação dos factores que moldam as relações internacionais. Isto inclui ignorar os processos históricos que moldaram o sistema estatal moderno, os fundamentos económicos da política internacional e os factores psicológicos que influenciam a tomada de decisões a nível internacional. Além disso, Buzan e Little sugerem que esta separação das outras disciplinas tem limitado a capacidade das RI para abordar e resolver eficazmente os problemas do mundo real. Defendem uma abordagem mais interdisciplinar, que aproveite os pontos fortes e os conhecimentos de várias ciências sociais para criar uma compreensão mais robusta e matizada dos fenómenos internacionais. Embora as RI tenham dado passos significativos no desenvolvimento das suas próprias teorias e modelos, o seu progresso como projeto intelectual tem sido limitado pelo seu relativo isolamento. Para avançar mais, o campo precisa de se abrir a influências interdisciplinares, integrando perspectivas e métodos científicos sociais mais amplos no seu estudo da política global. Esta abordagem não só aprofundaria a riqueza teórica das RI, como também aumentaria a sua relevância prática para enfrentar os complexos desafios da cena internacional.

A observação de Barry Buzan e Richard Little sobre o limitado tráfego de saída das Relações Internacionais (RI) para outras disciplinas apresenta uma contradição digna de nota quando se considera a auto-conceção das RI. As RI vêem-se frequentemente como uma disciplina cujo objeto de estudo é inerentemente importante e relevante, e como sendo inerentemente inter ou multidisciplinar. No entanto, esta auto-perceção parece estar em contradição com a realidade do seu envolvimento com outros domínios.

A auto-perceção das RI como um domínio importante e relevante baseia-se na premissa de que trata de questões críticas como a guerra, a paz, a cooperação global, a economia internacional e os direitos humanos. Estes são temas de inegável importância e impacto global, e o campo orgulha-se de abordar estes desafios globais complexos e prementes. Os teóricos e profissionais das RI sublinham frequentemente a capacidade da disciplina para oferecer perspectivas e soluções para alguns dos problemas mais críticos do mundo. Além disso, as RI têm-se posicionado historicamente como inter ou multidisciplinares, recorrendo teórica e metodologicamente a uma série de outras disciplinas, incluindo a história, a economia, a sociologia, o direito e a ciência política. Esta abordagem interdisciplinar é considerada essencial dada a complexidade e o âmbito das questões internacionais, que muitas vezes não podem ser totalmente compreendidas através de uma única lente disciplinar.

No entanto, Buzan e Little chamam a atenção para uma contradição nesta conceção: embora as RI possam inspirar-se noutras disciplinas, parece haver um fluxo limitado de ideias e de investigação das RI para esses outros domínios. Este tráfego unidirecional sugere uma certa insularidade no âmbito das RI, em que estas beneficiam dos conhecimentos de outras disciplinas, mas não contribuem igualmente para esses domínios ou não os influenciam em contrapartida. Esta contradição pode resultar de vários factores, incluindo a natureza especializada das RI, que se centra principalmente nas relações entre Estados e na política de alto nível do sistema internacional. Este enfoque pode limitar a aplicabilidade dos conhecimentos das RI a outras disciplinas que lidam com diferentes escalas ou aspectos da atividade humana. Além disso, as abordagens teóricas e metodológicas desenvolvidas no âmbito das RI podem não ser facilmente transpostas para outros domínios, que têm os seus próprios paradigmas e prioridades de investigação.

Barry Buzan e Richard Little, na sua crítica ao domínio das Relações Internacionais (RI), discordam da tendência predominante para assumir que a fragmentação teórica no seio da disciplina constitui um estado de coisas inevitável. Este ponto de vista prevalecente sugere que o conjunto diversificado e frequentemente conflituoso de teorias nas RI - desde o realismo e o liberalismo ao construtivismo e à teoria crítica - é uma condição natural e inalterável que deve ser suportada ou aceite. Esta fragmentação é frequentemente vista como reflectindo a natureza complexa e multifacetada das próprias relações internacionais. No entanto, Buzan e Little contestam esta perspetiva. Argumentam contra a resignação ou a celebração desta fragmentação teórica. Em vez disso, defendem um quadro mais holístico para a compreensão das relações internacionais, um quadro que possa potencialmente harmonizar as diversas perspectivas dentro do campo. Propõem que se aproveite a atração interdisciplinar do conceito de "sistema internacional" como um quadro unificador.

O conceito de "sistema internacional" é central para as RI e refere-se à estrutura e ao padrão de relações entre os Estados do mundo e outros actores importantes, regidos por certas regras e normas. Buzan e Little sugerem que este conceito pode servir de base comum a diferentes abordagens teóricas, proporcionando uma estrutura abrangente no âmbito da qual podem ser integradas várias perspectivas. Ao centrarem-se no sistema internacional, acreditam que é possível transcender as limitações das teorias individuais e criar uma compreensão mais coesa e abrangente da política global. Esta abordagem implicaria a utilização de conhecimentos de várias tradições teóricas para construir uma análise mais matizada e multidimensional do sistema internacional. Por exemplo, poderia combinar a ênfase realista no poder e na segurança, a ênfase liberal nas instituições e na cooperação, a atenção construtivista às construções sociais e às identidades e a preocupação das teorias críticas com a dinâmica do poder e a desigualdade. A proposta de Buzan e Little de um quadro holístico baseado no conceito de sistema internacional tem como objetivo colmatar as divisões entre as diferentes perspectivas teóricas das RI. Representa um esforço para ultrapassar a fragmentação teórica em direção a uma abordagem mais integrada e interdisciplinar para compreender as complexidades da arena internacional. Esta abordagem não só tem o potencial de enriquecer o estudo académico das RI, mas também de aumentar a relevância prática da disciplina para enfrentar os desafios multifacetados da política global.

Estratégias para Revitalizar a Contribuição Intelectual das RI[modifier | modifier le wikicode]

Para fazer face à perceção do fracasso das Relações Internacionais (RI) enquanto projeto intelectual, especialmente no contexto de uma era global marcada por uma globalização crescente, é necessária uma reorientação e expansão das suas abordagens teóricas e metodológicas. Esta reorientação implica ir além dos quadros tradicionais e abraçar abordagens mais macro que são predominantes noutras ciências sociais.

Uma direção que tem sido sugerida envolve ir além da teoria dos "sistemas mundiais", famosamente associada a Immanuel Wallerstein, que tem as suas raízes no marxismo e no materialismo. A teoria dos sistemas mundiais de Wallerstein vê a ordem global como um sistema complexo caracterizado por uma economia mundial capitalista dividida em nações centrais, periféricas e semi-periféricas. Embora esta teoria tenha fornecido informações valiosas sobre as estruturas económicas da desigualdade global, os críticos argumentam que se centra demasiado nos factores económicos e na dinâmica das classes, negligenciando outros aspectos importantes das relações internacionais. Em resposta, há um interesse crescente em estudar o sistema internacional, o sistema mundial e a sociedade mundial de uma forma mais holística. Esta abordagem implicaria a integração de uma gama mais vasta de factores para além dos económicos, incluindo as dimensões política, cultural, tecnológica e ambiental. Sugere igualmente a necessidade de compreender as interacções não só entre Estados, mas também entre um vasto leque de intervenientes não estatais, como as organizações internacionais, as organizações não governamentais, as empresas multinacionais e as redes transnacionais de defesa de interesses.

O estudo do sistema internacional continuará a examinar as preocupações tradicionais das RI, como a dinâmica do poder, o comportamento dos Estados e as instituições internacionais. No entanto, também incorporaria conhecimentos de outras disciplinas, como a sociologia, a antropologia e as ciências do ambiente, para melhor compreender os aspectos sociais, culturais e ecológicos da política global. O conceito de sociedade mundial, por outro lado, alarga a análise de modo a incluir as normas, os valores e as identidades colectivas da comunidade global. Dá ênfase ao papel dos actores e redes transnacionais na definição de normas e práticas globais, desde os direitos humanos e a sustentabilidade ambiental ao direito internacional e à governação global.

Ultrapassar o "colete de forças de Vestefália" implica desafiar a visão centrada no Estado das relações internacionais que tem dominado o campo desde a Paz de Vestefália em 1648. Esta perspetiva considera tradicionalmente os Estados soberanos como os actores principais e mais significativos do sistema internacional, com pouca consideração pelas entidades não-estatais ou pelas forças transnacionais. A sugestão de inverter a atitude das RI em relação à história, em particular à história mundial, é um apelo para alargar o âmbito da análise para além do foco restrito nos Estados e nas suas interacções. A Escola Inglesa de Relações Internacionais oferece uma abordagem que se alinha com esta perspetiva mais alargada. Reconhece a importância não só dos Estados, mas também da sociedade internacional - um conceito que engloba um leque mais vasto de actores e reconhece o papel das normas, valores, regras e instituições partilhadas na formação das relações internacionais. Esta escola de pensamento dá ênfase às dimensões histórica e social da política internacional, considerando a forma como os acontecimentos e processos históricos moldaram o atual sistema internacional.

Ao incorporar uma compreensão mais aprofundada da história mundial, as RI podem ultrapassar as limitações do modelo de Vestefália. Isto implica reconhecer a influência dos impérios históricos, dos Estados não ocidentais e dos movimentos transnacionais na formação da ordem global. Significa também reconhecer o impacto do colonialismo, da globalização económica e das trocas culturais na formação da atual paisagem internacional. Além disso, inverter a atitude das RI em relação à história implica reconhecer a natureza dinâmica e evolutiva das relações internacionais. Requer a compreensão de que os conceitos e as teorias utilizados para explicar a política internacional também têm de evoluir em resposta à evolução das circunstâncias históricas. Esta abordagem desafia a visão estática das relações internacionais como meras interacções entre Estados soberanos, apresentando-as, em vez disso, como uma rede dinâmica e complexa de relações influenciadas por uma vasta gama de factores históricos e sociais.

A incorporação da história mundial nas RI também permite uma compreensão mais matizada das questões contemporâneas. Por exemplo, os conflitos e as alianças actuais podem muitas vezes ser melhor compreendidos no contexto dos seus fundamentos históricos. Além disso, uma perspetiva histórica pode fornecer informações sobre o desenvolvimento de normas e instituições internacionais e ajudar a explicar as variações no comportamento de diferentes Estados e sociedades. Ultrapassar o "colete de forças vestefaliano" e adotar uma abordagem mais historicamente informada, como exemplificado pela Escola Inglesa, permite uma compreensão mais rica e abrangente das relações internacionais. Reconhece a importância dos Estados, ao mesmo tempo que reconhece o significado dos processos históricos, dos actores não estatais e das forças transnacionais na formação da arena global. Esta abordagem não só enriquece a profundidade teórica das RI, como também aumenta a sua relevância prática para enfrentar os complexos desafios do mundo contemporâneo.

Barry Buzan e Richard Little, na sua crítica ao campo das Relações Internacionais (RI), abordam a questão da estreiteza setorial e do que descrevem como "uma adoção bastante irreflectida da fragmentação teórica". Esta crítica aponta para uma tendência nas RI para compartimentar o campo em sectores teóricos e temáticos distintos, sem suficiente fertilização cruzada ou síntese. A estreiteza setorial refere-se à especialização nas RI em que os académicos se concentram intensamente em áreas ou temas específicos, como os estudos de segurança, a economia política internacional ou os direitos humanos. Embora esta especialização tenha conduzido a uma compreensão e a conhecimentos aprofundados nestas áreas individuais, Buzan e Little argumentam que também resulta num campo fragmentado em que se perde frequentemente a visão de conjunto. Esta fragmentação significa que os conhecimentos e desenvolvimentos críticos num sector das RI podem não ser adequadamente integrados ou reconhecidos por outros. A "adoção irreflectida" desta fragmentação, como afirmam Buzan e Little, sugere uma falta de reflexão crítica sobre as limitações e desvantagens de subdomínios tão claramente divididos. Implica uma oportunidade perdida de desenvolver abordagens mais abrangentes e holísticas que aproveitem os pontos fortes e os conhecimentos de vários sectores. Por exemplo, para compreender plenamente os desafios da segurança internacional, é necessário não só centrar a atenção nos aspectos militares e estratégicos (como nos estudos de segurança tradicionais), mas também apreciar as condições económicas, os factores culturais e os contextos históricos.

Para ultrapassar esta estreiteza setorial, Buzan e Little sugerem que as RI devem promover um maior envolvimento e síntese interdisciplinares. Esta abordagem implicaria a criação de quadros e metodologias que estabelecessem pontes entre diferentes sectores, encorajando os académicos a incorporar nas suas análises conhecimentos de várias áreas das RI. Significa também promover o diálogo e a colaboração entre especialistas de diferentes subdomínios para abordar questões globais complexas de uma forma mais integrada. Esta mudança não só reforçaria a riqueza teórica das RI, como também aumentaria a sua relevância prática. Ao acabar com os silos dentro do campo, as RI poderiam oferecer análises mais matizadas e abrangentes dos fenómenos internacionais, equipando melhor os decisores políticos, os diplomatas e outros profissionais para navegarem nas complexidades da paisagem global. Essencialmente, ultrapassar a estreiteza setorial exige um esforço consciente para construir pontes entre as divisões teóricas, promovendo uma abordagem mais unificada e colaborativa para compreender e enfrentar os desafios das relações internacionais.

A integração da história mundial nas Relações Internacionais (RI) e o objetivo de recuperar uma visão dos sistemas internacionais como uma grande teoria representam uma mudança ambiciosa e significativa na abordagem do estudo dos assuntos globais. Esta perspetiva sublinha a importância do contexto histórico para compreender a evolução e a dinâmica dos sistemas internacionais, defendendo uma visão mais abrangente e holística das RI. A integração da história mundial nas RI implica o reconhecimento de que os actuais sistemas internacionais, instituições, normas e dinâmicas de poder foram moldados por processos históricos. Esta abordagem reconhece que o sistema centrado no Estado, os padrões económicos globais e as ideologias políticas são produtos de desenvolvimentos históricos, incluindo o colonialismo, a industrialização, as guerras e as trocas culturais. Ao estudarem estas trajectórias históricas, os estudiosos das RI podem ter uma visão mais profunda da razão pela qual o sistema internacional funciona como funciona hoje e como poderá evoluir no futuro.

Além disso, uma abordagem histórica permite uma compreensão mais matizada das perspectivas e experiências não ocidentais, que têm sido frequentemente marginalizadas na teoria tradicional das RI. Isto inclui a exploração do impacto do imperialismo e da descolonização na formação do Estado e nas relações internacionais no Sul Global, bem como a compreensão do papel dos impérios e civilizações não europeus na formação da história mundial. Recuperar uma visão dos sistemas internacionais como uma grande teoria significa procurar um quadro abrangente que possa explicar os padrões e as estruturas gerais das relações internacionais em diferentes épocas e contextos. Esta grande teoria teria como objetivo sintetizar os conhecimentos de várias teorias das RI e análises históricas para oferecer uma compreensão abrangente do funcionamento da política mundial. Abordaria a dinâmica do poder entre os Estados, o papel dos intervenientes não estatais, a influência dos factores económicos e culturais e o impacto das mudanças tecnológicas e ambientais.

Para desenvolver esta grande teoria, os estudiosos das RI teriam de se empenhar numa investigação interdisciplinar, recorrendo a conhecimentos da história, sociologia, economia, ciência política e outros domínios relevantes. Isto implicaria não só a análise das raízes históricas dos actuais fenómenos internacionais, mas também a consideração do modo como os padrões históricos podem informar os desenvolvimentos futuros. Integrar a história mundial nas RI e trabalhar no sentido de uma grande teoria dos sistemas internacionais representa um apelo a uma abordagem mais alargada e inclusiva do estudo da política global. Esta abordagem reconhece o valor do contexto histórico na compreensão das complexidades da arena internacional e procura desenvolver um quadro teórico abrangente que possa explicar as complexidades e a dinâmica dos assuntos globais, tanto no passado como no presente.

Apêndices[modifier | modifier le wikicode]

Referências[modifier | modifier le wikicode]